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“Para Coruche ser ainda melhor só lhe falta mais oferta cultural”

Ana Flausino é poetisa, pintora, amante da festa brava e devota da Senhora do Castelo

Ana Flausino, professora aposentada do ensino primário e do ensino especial, nasceu em Coruche há 62 anos. Reconhece a obra feita pelo actual presidente da autarquia, Dionísio Mendes (PS) mas acha que ele pode ir mais longe na área da cultura.

Coruche tem obra feita, bons serviços públicos mas falta-lhe oferta cultural. A opinião parte da professora aposentada Ana Flausino, uma das oito mulheres homenageadas publicamente pelo município, em Março último, a propósito do Dia da Mulher. Poetisa e artista plástica amadora, lamenta que as poucas iniciativas na área da cultura estejam dependentes de grupos informais ou da associação do património e defende que o museu municipal deve ter mais dinâmica. A esse propósito recorda que uma proposta sua para ali realizar uma exposição, foi recusada com o pretexto que não era o local indicado para exibir pintura. “À câmara municipal cabe promover iniciativas que motivem os seus munícipes. A autarquia tem um papel importante a nível da cultura e deve dar-lhe, sem qualquer constrangimento, a mesma atenção que dá às restantes áreas da sua actuação”, refere.Sobre a tradição taurina e em tempo da Festa em Honra de Nossa Senhora do Castelo, Ana Flausino recorda como brincou aos toureiros, aos cavaleiros e aos forcados quando era criança, na escola de toureio. Lembra figuras como José Falcão, Óscar Rosmano ou os bandarilheiros irmãos Badajoz. “É um bailado e uma arte, que ficam para mais tarde no gesticular do bandarilheiro ou do toureiro. Gosto mais da tourada à portuguesa, é mais alegre e permite ver a arte dos forcados a enfrentarem o toiro mas também vejo as corridas espanholas na televisão”, diz.Gosta das festas da terra e não discute a solução encontrada para a requalificação da zona ribeirinha do parque do Sorraia, que alberga grande parte das actividades. É do tempo em que se pagava para entrar no recinto da festa e considera que se podem introduzir melhorias. É contra a presença da tourada à corda, tradição da ilha Terceira, dos Açores, por não se enquadrar no contexto da tradição coruchense. Gosta das largadas de toiros, das corridas e pensa que se pode fazer melhor aproveitamento do dia do fogo de artifício, 14 de Agosto. “Num dia em que milhares de pessoas, muitas de fora, enchem a rua para ver o fogo de artifício, assim que acaba o fogo umas vão para as tasquinhas e música e outras vão-se embora. Deve haver mais actividades na rua, seja com ranchos, acordeonistas e a banda a tocar na avenida”, sustenta quem pode ver tudo da varanda de casa que tem vista sobre o rio, a praça de touros e uma das pontes. Infelizmente é também dali que observa muitos jovens, em particular raparigas, a embriagarem-se e a envolverem-se em cenas que considera degradantes. Há três anos como secretária da direcção da Irmandade do Castelo, ajuda a organizar a procissão de dia 15, o ponto alto das festas. É devota da padroeira. “Ela é a nossa padroeira, é a mãe que nos protege e nos acode em momentos de grande aflição. Ela é paz, é doçura, é amor e a Senhora do Castelo representa a união entre todos os coruchenses”, diz com convicção.As mulheres são melhores gestoras que os homensAs mulheres estão em maioria nas universidades e a licenciar-se. Ana Flausino considera, em geral, as mulheres mais aplicadas que os homens e acredita que a maioria consegue fazer melhor trabalho em muitas áreas. “Penso que está provado que as empresas administradas por mulheres são mais bem sucedidas. O facto de serem mais sensíveis torna-as também mais perspicazes, mais audazes, mais tenazes e mais aplicadas na realização final. “Não se esqueça que a mulher é esposa, amante, mãe, educadora, dona de casa, gestora doméstica, e trabalhadora por conta de outrém”. Sem desprimor para grandes homens, que os há, a mulher é geralmente superior”, conclui.Essa maneira do ser feminino está presente o contributo que dá como associada da Encostatamim - Associação de Apoio ao Doente Oncológico de Coruche que ajudou a fundar. Viveu a realidade bem de perto, em família. A mãe morreu com cancro quando Ana tinha feito apenas 19 anos. Participou no movimento Um dia pela Vida, para angariar receitas de apoio aos doentes com cancro, mas ultimamente afastou-se da Encostatamim como dirigente por não concordar com algumas opções tomadas. É o caso de ausência de uma bolsa de voluntariado, de equipas multidisciplinares de apoio aos doentes que diz estarem por criar como previsto no projecto original e uma maior ajuda aos doentes com material adequado. Ana Flausino já esteve no chamado “Bairro da Desgraça” antes de ele ter aquele nome, quando a ele se referiam como o bairro do casario branco, baixinho, em Santo Antonino. O bairro do acampamento cigano não conhece mas já esteve no meio da realidade de outros bairros problemáticos como os mal afamados Cova da Moura e Padre Cruz, na Grande Lisboa, em trabalho de educação especial, do qual guarda “gratas recordações”. Considera que o Rendimento Social de Inserção será bem empregue se for rentabilizado com benefício para a comunidade. “As pessoas devem sentir-se úteis. Podiam faze-lo naquelas tarefas de manutenção que são essenciais. Por exemplo os bancos e as pérgolas de madeira ao longo da marginal de Coruche estão todos ressequidos, vê-se que não há uma manutenção através da aplicação de um qualquer produto que os proteja. Algumas dessas pessoas podiam realizar essa tarefa sem dificuldade”, exemplifica. Se nas telas das pinturas a óleo que faz e que já expôs em espaços de Coruche e do Alentejo usa as mãos ,o pincel e a espátula, para escrever poesia prefere o computador portátil. Tanto, que teme já não conseguir escrever à mão. De resto, dá-se bem com novas tecnologias. Utiliza os dedos sem dificuldade para aceder aos menus do telemóvel no ecrã táctil. Ler livros ou jornais através da internet é que não a fascina. Acredita que o papel não vai desaparecer tão cedo. “Principalmente para quem gosta de folhear, manusear. Para quem gosta de sentir o cheio do livro novo e do livro velho e o prazer de os ter guardados”, conclui.

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