“Posso levar uma maçã?”, pergunta um menino de saco de plástico na mão antes de voltar a agarrar-se às longas saias da mãe. Adelaide Gil, 65 anos, sorri e oferece o fruto. A manhã de segunda-feira está morna de clientes, como sempre, no mercado de Vila Franca de Xira. Chegam os do costume, como o senhor que pede um pouco de feijão-verde para o almoço. “Leve o resto, guardei-o para si”. O reformado, bem-falante e bem perfumado, aceita levar o que há. Um euro e oitenta cêntimos por meio quilo de feijão da horta de Adelaide, nos Casais da Marmeleira, Alenquer. As uvas também são produção caseira. A cliente que se segue leva os últimos cachos doces por 70 cêntimos. A caixa já não vinha cheia. O que leva para casa quase nem chega para o bilhete de autocarro. Os fornecedores levam o resto da fruta ao mercado e os filhos ajudam a transportar o que a comerciante produz com a ajuda do marido, 76 anos. Adelaide Gil vende há 25 anos no mercado de Vila Franca. Nasceu em Leiria mas começou a trabalhar nos campos do Ribatejo aos 12 anos. Apanhou azeitona, vindimou, mondou e apanhou vides. Está na idade da reforma mas trabalha em casa e vende no mercado das 6h30 às 14h00. A sua vida de trabalho prolongar-se-á até que as forças permitam. Ana Santiago