Longe vão os tempos em que os motoristas enchiam a cabine com posters de mulheres nuas e apitavam sempre que passavam por uma mulher bonita. Aquilo a que alguns chamam “tara psicológica da profissão” está a desaparecer. Pelo menos é o que garantem a O MIRANTE alguns dos participantes no 5º aniversário do Núcleo de Motoristas Escola Ribatejana de Benavente que decorreu no sábado, 11 de Agosto, em Benavente. “Isso é mais para os solteirões. Se eu andasse com um poster desses a minha mulher perguntava-me logo quem era e eu metia-me em sarilhos”, refere Manuel Carão, 46 anos, de Benavente. O seu colega João Marques, acrescenta que aquelas fotografias que fazem parte do imaginário associado aos camionistas dão uma má imagem da profissão. “A profissão de motorista sempre foi de recurso e absorvia muitas pessoas sem cultura e formação. Essas pessoas é que andavam com os posters mas isso está a acabar”, acrescenta Jorge Neves, de 48 anos, do Tramagal, concelho de Abrantes. O MIRANTE não conseguiu confirmar aquelas declarações porque os cerca de quarenta participantes foram ao encontro nos seus carros particulares e alguns deles levaram consigo as esposas cuja presença não era propícia a confissões sinceras em matérias tão sensíveis, digamos assim. O presidente do Núcleo de Motoristas de Benavente, Alfredo Gaspar que agora se encontra desempregado, conta que viajava sempre com a fotografia da filha e uma imagem da Nossa Senhora de Fátima. “Tive dois acidentes graves e ainda hoje acredito que não morri por causa da imagem que me protegeu”, explica. Se os posters estão em vias de extinção, o mesmo não acontece com umas chapas onde os motoristas gravam o seu nome e colocam no camião. João Marques explica que o nome dá uma ajuda. “Quando se chega a uma fábrica é-se logo identificado pelo porteiro”. Curioso foi o facto de a maioria dos camionistas ouvidos por O MIRANTE afirmar que continua a privilegiar os mapas de estradas em papel em vez de usar os modernos GPS (aparelho que indica as direcções a tomar para chegar a um detreminado local, fornecendo os mapas dos lugares e cidades). Mais compreensível é o facto de o rádio ser o meio mais utilizado para ouvir música, pelo menos os postos vão mudando de país para país. Alguns profissionais falam e compreendem um pouco de espanhol, francês e italiano e por isso não tem muita dificuldade em perceber algumas notícias em estações de rádio estrangeiras. Outros como Manuel Carão tenta sempre sintonizar as estações de rádio que existem para as comunidades portuguesas no estrangeiro, especialmente quando está em França. João Marques tenta sempre apanhar estações portuguesas, mas se não conseguir e não perceber a língua, desliga o rádio e vai em silêncio. Comida e bebida levam todos, bem como os utensílios de higiene e o telemóvel, que é uma faca de dois gumes. Sabe-se o que se passa em casa mas está-se mais controlado. “Tenho saudades dos tempos em que não existia telemóvel e não estávamos contactáveis a todo o momento”, conta a rir-se Jorge Neves que também leva consigo um computador portátil, embora acabe por não usar muito a internet no estrangeiro porque é cara. Núcleo de Motoristas Escola Ribatejana de Benavente com novos projectosO presidente do Núcleo de Motoristas Escola Ribatejana de Benavente, Alfredo Gaspar, quer reavivar uma das colectividades mais jovens do concelho de Benavente. Para o próximo ano lectivo, quer desafiar os alunos das escolas a realizarem um desenho subordinado ao tema “A Natureza e eu”. Também quer levar algumas crianças de escolas de Benavente e Samora Correia a uma escolinha de trânsito para aprenderem as regras básicas da condução. “Temos de momento perto de 100 sócios, mas existem muitos que não pagam as quotas e quero actualizar os ficheiros”, acrescenta.