Pimba! Voltei ao local do crime. Voltei ao Parque das Esculturas de Vila Nova da Barquinha. Já lá tinha ido para testar o faro cultural do meu amigo cão Mondego mas fui forçado a regressar depois dos elogios rasgados que tenho lido nos jornais de referência e revistas esotéricas sobre a altíssima qualidade artística das esculturas. Atasquei-me até aos tornozelos no lameiro onde as peças foram plantadas e a que alguns insistem em chamar relvado. Atasquei-me mas não me desviei do nobre objectivo de ver, se necessário com óculos e binóculos, o que todos os críticos de arte conseguem ver à vista desarmada. Faço aqui uma pausa no relato para uma sugestão que se impõe numa altura de graves dificuldades económicas para as autarquias. Se em vez de esculturas modernistas a câmara metesse ali vacas a pastar à beira Tejo, podia fazer bom dinheiro. O suficiente talvez para mais uma dúzia de esculturas...ou mais. A erva está alta e fofa. O terreno encharcado em água o que permite um tasquinhar fresco uma vez que os animais têm os pés de molho. Digo-te que até a mim me apeteceu pastar. Só não o fiz porque o meu gesto poderia ser interpretado como uma “instalação” cultural e corria o risco de me caírem em cima todos os críticos de arte de Lisboa. Andante!!! Uma manada de belos exemplares bovinos ali e para além do dinheiro obtido com a venda de leite, iogurte, requeijão e queijo, tudo com a chancela artística do lugar, ainda vinha um charter de Nova Iorque carregado de críticos de arte para exaltar a ideia. Isto para além das visitas em catapulta de turistas indianos. A começar pelo jogador da bola daquele país que o Sporting contratou. Mas vamos ao que interessa. Vi que algumas fitas das moscas da escultura da Joana Vasconcelos já andam espalhadas pelo chão. Enfim, pequenos percalços. Mas quem pagou setenta mil euros por aquilo concerteza que exigiu uma garantia conveniente. Dois anos no mínimo como no caso dos telemóveis. A casa feita com caixotes de plástico da fruta é que está uma lástima. Está bem que por aquele preço a construção e os acabamentos não podiam ser grande coisa mas mesmo assim acho que o presidente Miguel Pombeiro deve reclamar junto da empreiteira...perdão...artista plástica Xana. E aqui o termo plástica nunca veio tão a calhar.A chamada “Casa no Céu”, que não está no céu mas na terra foi feita com os caixotes de plástico propositadamente, pelo menos é o que se depreende da inscrição gravada na placa. “Caixas de armazenamento industrial passam a fazer as vezes de tijolos”, pode ler-se. E a concluir está: “(...) inserida num jardim público passa a fazer parte, de um projecto de divertimento sem preocupações sociais”. Assim mesmo. Pois bem. Foi essa aconselhada despreocupação que deve ter feito com que a garotada tivesse andado aos saltos nas escadas de tal maneira que já arruinou uma série de degraus. Agora ou a Xana procede aos arranjos, isto se não tiver declarado insolvência como muitas outras empresas de construção civil ou a câmara acciona as garantias bancárias. Se nada disso acontecer resta a demolição...mas deixando as ruínas no local porque, como sabes, em termos artísticos umas ruínas valem muito mais que um edifício novo.Em Alpiarça houve aquela cena do lançamento do Mercado Social de Arrendamento que meteu secretário de estado da segurança social a pegar no bebé do casal ao colo e tudo. O assunto interessou-me enormemente. Após aturado estudo fiquei a saber que o casal mudou de uma casa usada onde pagava 215 euros para uma casa nova onde vai pagar 210. Até aqui tudo bem. E é menos uma casa devoluta lá na terra, dirás tu com entusiasmo. Calma, calma. Calmex!! A casa onde vivia o feliz casal ficou vazia e a senhoria sem renda. Mas nem tudo é mau Serafim. No fim de tudo podemos dizer que, pelo menos salvamos a banca, uma vez que as casas novas que há para arrendar são... dos bancos.Saudações lucrativas Manuel Serra d’Aire