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Dar a conhecer o que se faz no Museu do Neo-Realismo

Dar a conhecer o que se faz no Museu do Neo-Realismo

Fátima Faria Roque diz que gostava de ter sido professora de educação física

Não é professora de Educação Física porque o curso tinha matemática e ela não conseguiu ultrapassar a alergia à disciplina. Em alternativa licenciou-se em Comunicação Social na Universidade Nova de Lisboa e por algum tempo foi jornalista num jornal pouco conhecido. Diz que os jornalistas mais velhos infernizavam os mais novos por medo de perderem os seus lugares. Acabou no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira.

A responsável pela comunicação do Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira é uma antiga jornalista que gostava de ter sido professora de educação física. Não fosse a matemática e teria conseguido alcançar esse objectivo. Aos 47 anos Fátima Faria Roque é a responsável por dar a conhecer à região e ao país as actividades que são desenvolvidas no Museu. Trabalha em Vila Franca há 23 anos. Diz que o trabalho é aliciante e que nem todos os dias são ocupados “das nove às cinco” como muita gente pensa. A maior dificuldade, confessa, é levar as pessoas da cidade a visitar o museu. “Muita gente ainda tem medo de ser classificada de comunista só por vir aqui”, lamenta.Fátima nasceu em Lisboa e pertenceu à primeira geração de jovens licenciados em jornalismo, através da Universidade Nova de Lisboa. O seu primeiro emprego foi no jornal Lusitano, um título quinzenal virado para as comunidades portuguesas no estrangeiro. Diz que trabalhar num título menos conhecido foi uma enorme vantagem que lhe permitiu ganhar tarimba. “Deu-me uma experiência que na altura os colegas dos jornais diários não tiveram. Naquele jornal consegui fazer de tudo um pouco. Experimentei a entrevista, a reportagem e pude sair da minha zona de conforto. Foi uma experiência breve mas que me deu traquejo”, conta. Em 1987 não faltava trabalho no jornalismo e o maior terror dos licenciados, diz Fátima, eram os jornalistas mais velhos. “Eles tinham muito para nos ensinar mas olhavam para nós com receio, por pensarem que podíamos dominar o mundo por sermos licenciados”, ironiza.Acabou por se mudar para Vila Franca quando uma amiga que conheceu na faculdade lhe disse que a câmara municipal precisava de uma pessoa para escrever o boletim municipal. Fátima arriscou, concorreu e entrou.”Tinha uma filha ainda bebé e pensei que trabalhar numa câmara permitisse uma vida mais calma, já que no jornal trabalhava muitas vezes aos fins-de-semana e aos feriados. Mas foi uma ilusão, trabalhei tanto ou mais que no jornal”, confessa com um sorriso. Fátima diz que nunca pensou ficar na câmara durante muito tempo. “A minha ideia era voltar ao jornalismo mas depois comecei mesmo a gostar disto”, diz. Com o passar dos anos os municípios ganharam nova consciência da importância da comunicação e também Vila Franca ganhou novas divisões que precisaram de novos trabalhadores. Apareceram as secções da gráfica, comunicação, assessoria e relações públicas. Fátima passou a integrar a comunicação do museu municipal e desde há cinco anos que se mudou para a rua Alves Redol, para ficar responsável pela comunicação do museu do Neo-Realismo.O seu trabalho consiste em apresentar propostas para estratégias de comunicação de acordo com a programação do museu. Isso implica pensar no que será mais eficiente para promover uma determinada exposição. Desde um insuflável no centro da cidade a um e-mail, outdoor ou anúncio. Uma boa estratégia de comunicação é determinante para ter um museu cheio ou vazio, defende Fátima Roque. Actualmente o maior desafio é trazer as pessoas da cidade ao museu.“O velho aforismo de que os santos da casa não fazem milagres acontece por todo o lado. Temos mantido um bom nível de público ao longo dos últimos cinco anos mas temos de continuar a investir no público local. As pessoas da cidade ainda não vêm aqui com frequência”, lamenta. Fátima aponta como motivos para esse aparente desinteresse a falta de uma educação para a cultura e alguma ignorância sobre o tema. “As pessoas pensam que o Neo-Realismo é chato, uma coisa de velhos, que morreu. Outros temem serem catalogados de comunistas, porque há uma associação directa do Neo-Realismo com o PCP mas isso é uma ideia que temos de desconstruir”, opina. Actualmente Fátima persegue o sonho de concluir o doutoramento em literatura portuguesa, que lhe tem permitido ler e escrever bastante, outra das suas paixões.
Dar a conhecer o que se faz no Museu do Neo-Realismo

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