Uma venda bloqueia os olhos e impede que a luz se infiltre nas pálpebras. O viajante senta-se numa pequena almofada no chão e as assistentes colocam uns auscultadores. É o primeiro passo para uma viagem sensorial ao mundo da água que centenas de pessoas puderam experimentar no jardim municipal Constantino Palha em Vila Franca de Xira. Chama-se “Hidrobox” e foi uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal, Simtejo e o Grupo de Estudos para o Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) para assinalar o dia mundial da água.A viagem demora 15 minutos. Começa há milhões de anos, quando o planeta era uma bola de gás e lava quente, que ao evaporar condensou na atmosfera e causou chuvas torrenciais durante centenas de anos, que deram origem aos nossos oceanos. A viagem sonora leva-nos ao tempo em que o planeta era uma bola de vida selvagem no Universo. Ouvem-se pássaros e sente-se um mergulho no oceano. O vento bate nas copas das árvores. Um macaco parece cair do topo de uma conífera, a julgar pelo seu guincho. E depois, o grito de uma criança. Surge o homem, a destruir rapidamente o recurso mais escasso do nosso planeta: a água. A viagem acaba literalmente com um humano a ir pelo ralo abaixo. É nesta altura que os alunos do primeiro ciclo de uma escola da Póvoa de Santa Iria dão um pulo nos seus lugares. A viagem acaba onde começou, numa tenda insuflada numa tarde quente de Outubro em Vila Franca. Os mais novos tiram as vendas e saem da “Hidrobox” com a ideia que uma torneira a pingar é algo maléfico. E têm razão. Afinal de contas, um futuro com água limpa e potável só depende deles. Filipe Matias