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Trabalhadores de gráfica do Porto Alto já iam para o trabalho com fome

Trabalhadores de gráfica do Porto Alto já iam para o trabalho com fome

A gráfica Peres-Soctip entrou em insolvência e atirou 180 pessoas para o desemprego.

Paulo Guerreiro, impressor, é um dos exemplos da situação dramática em que se encontram muitos trabalhadores da empresa gráfica Peres-Soctip do Porto Alto, Benavente. Não tem dinheiro para comer e vive numa casa sem água nem luz. Funcionário na Peres-Soctip durante nove anos foi, como todos os outros 180 funcionários, surpreendido no dia 20 de Outubro com um comunicado da empresa a dispensar os trabalhadores na empresa, na sequência de um pedido de insolvência apresentado no Tribunal de Benavente. Paulo é pai de uma criança e a mulher trabalha num restaurante 16 horas diárias para ganhar o ordenado mínimo. Paulo tem por receber o último subsídio de férias e os ordenados de Outubro e Setembro e 20 por cento do salário de Agosto e retroactivos dos meses de Fevereiro e Março. “Tomo banho com água de um poço”, lamenta. Em situação semelhante está João Gouveia, 39 anos, residente no Porto Alto, que vai vivendo com a ajuda dos pais. O manobrador de máquinas, solteiro, já não conseguiu pagar a última prestação da casa e vê os juros a acumularem-se. Ganhava pouco mais de 530 euros mas nos últimos meses viveu com pouco mais de 100 euros. “Chegámos ao ponto de dividir maçãs para comer. Vi colegas a irem trabalhar de estômago vazio. Havia gente a passar fome dentro da empresa e é isso que os patrões não conseguiam ver. Mas de certeza que têm mais comida à mesa do que todos nós”, lamenta. A empresa não prestou quaisquer esclarecimentos a O MIRANTE. Mas no comunicado lido aos trabalhadores justifica o encerramento com a conjuntura económica, a “acentuada e irreversível” quebra na facturação e o “endurecimento” da posição dos fornecedores e bancos face à empresa. Fonte próxima da administração refere que a empresa, instalada no Porto Alto desde 2001, acumulava uma dívida de 40 milhões de euros a 485 credores. Há cerca de um ano que estava num Plano de Recuperação de Empresas (PER) que não foi suficiente para a manter em funcionamento. A administração diz lamentar o “trágico desfecho” sem que “infelizmente” tivesse podido contar com um “atempado apoio” da banca portuguesa. A empresa dedicava-se à produção de livros, revistas e catálogos. Um dos seus últimos trabalhos foi a impressão de livros educativos para as escolas do ensino público angolano. Entre os clientes estava o exército português, o grupo Leya e o Lidl.Ganhão teme aumento de insolvências no concelhoO presidente da Câmara de Benavente, António José Ganhão (CDU), diz que a notícia do encerramento da Peres-Soctip é uma “má notícia” que tenderá a agravar-se no futuro. “Os bancos só estão interessados na sua própria liquidez. Esta era uma empresa saudável que de repente caiu por causa desta crise”, condena. “Temo que estes casos se venham a agravar no futuro e que tenhamos mais surpresas ao longo do ano”, lamenta.
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