Como é que vê a actual situação do país?O que mais me preocupa é a vida dos meus filhos e netos. Sinto que já têm o futuro empenhado. Existe muita gente que comprou casa e carro e agora não tem trabalho para conseguir pagar essas dívidas. Eu comecei a trabalhar aos 12 anos e ainda continuo aos 66 anos porque não consigo viver só da minha reforma. O trabalho antigamente, de sol a sol, nos campos, era muito duro, mas pelo menos dava para quem quisesse trabalhar.Estão a pedir sacrifícios a mais aos portugueses?Na raiz de todo este mal estão as desigualdades entre os mais ricos e os mais pobres. Enquanto uns têm reformas altíssimas, outros têm de sobreviver com 300 euros ou menos. Os nossos políticos andam agora a chorar que isto está mau, mas quem é que aprovou todas estas leis que criam desigualdades? O Mário Soares ou o Cavaco têm culpa no cartório. As pessoas mal ganham para comer.A bancada do PS Na Assembleia da República acabou de comprar quatro carros topo de gama. Essa é outra... Se os nossos deputados reduzissem um terço dos seus privilégios nesta altura complicada já iriam ajudar muita gente a viver melhor. O que importa é que o carro ande, não precisa de ser um topo de gama pago com o dinheiro dos nossos impostos numa altura tão complicada.Se fosse polícia teria muito trabalho nas estradas?Não tinha mãos a medir. Infelizmente existe muita falta de civismo nas estradas, especialmente por parte dos mais jovens que andam a grandes velocidades. Colocam a vida deles em risco e a dos outros. Já apanhei muitos sustos. Um dia destes ia sendo atropelado perto de uma escola de Vila Franca de Xira por um condutor que ia a grande velocidade. Já não vive sem o telemóvel?Tenho um telemóvel, mas está metido numa gaveta. Não o uso, nem quero. É útil para certas coisas, mas também é muito prejudicial. Dá-me a sensação que todos podem ficar a saber da minha vida, do sítio onde estou e o que estou a fazer. Não gosto de ter alguém a tomar conta de mim...A idade é algo que o preocupa?O que me preocupa mais é a saúde. Tenho tido sorte nesse campo. Encaro o envelhecimento com naturalidade. A minha mãe tem 101 anos e espero gozar também ainda de muitos anos. Acredita em Deus?Sei que existe alguma providência que nos domina. É nisso que acredito. Sou católico não praticante. Não vou à missa, mas tenho um enorme respeito. Como é que ocupa os seus tempos livres?A trabalhar. Levanto-me às 4h30 todos os dias para vir trabalhar para o Mercado de Vila Franca de Xira. Vou-me embora por volta das 15h00 e mal chego a casa ainda vou trabalhar para uma horta que tenho. Não consigo estar parado. Gosto de trabalhar.Era capaz de roubar se não tivesse dinheiro para comer?Sem dúvida. Não fazia mal a ninguém, mas para pôr comida na mesa para mim e para os meus, roubava se não conseguisse mesmo encontrar solução. Tenho a sensação que com o desespero que está a tomar conta das pessoas, a criminalidade vai aumentar. Já alguma vez entrou numa casa de strip?Não, nunca (risos). Não tenho nada contra, cada um sabe como é que governa a sua vida e desde que exista respeito, é o que importa. Qual é o seu maior sonho?É ter saúde acima de tudo.