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“Temos que ter a noção de que há sempre muito para aprender”

“Temos que ter a noção de que há sempre muito para aprender”

Francisco Vieira, 55 anos, director executivo da Insignare e presidente da direcção da ACISO, Ourém

Natural de Fátima fez o ensino básico num colégio de freiras e chegou a encarar a hipótese de ir para padre mas como ainda era criança o pai decidiu por ele. Mais tarde sentiu o apelo de ser jornalista mas acabou a estudar história. Começou a trabalhar na empresa familiar que comercializava produtos alimentares e artigos religiosos. Quando iniciou a carreira como professor foi dar aulas a alunos que eram mais velhos que ele. Já foi candidato a presidente da Câmara Municipal de Ourém mas diz que nunca quis fazer carreira como político.

Senti o apelo do sacerdócio mas o meu pai achou que não era futuro para mim. Nasci perto da Cova da Iria, em Fátima, e estudei num Colégio de Freiras até à 4.ª classe. Éramos empurrados para seguir a via da Fé. Continuei os estudos em Fátima, apesar de um pequeno interregno de dois anos a estudar no Colégio Dr. Andrade Corvo, em Torres Novas. Fui para a Faculdade de Letras em Coimbra onde tirei o curso de História. Queria ser jornalista mas não existia esse curso em Portugal. Cheguei a ponderar ir para Paris, porque podia tirá-lo na Sorbonne mas não me aventurei. Trabalhei numa rádio pirata em Fátima.Com quinze anos era o presidente da associação da minha rua. Em criança nunca quis ser isto ou aquilo mas sabia que o meu futuro passava por trabalhar em dinâmicas de grupo porque sempre tive uma disponibilidade muito grande para as causas colectivas. Na rua onde vivia, eu e um grupo de jovens, criámos uma associação com objectivos culturais que se chamava “ABC da Rua de Baixo” e tinha como assinatura de marca os tartarugas. (risos). Fátima sempre foi e será uma cidade fortemente marcada pela influência da Igreja mas a dinâmica da sua sociedade civil era muito débil.Com 19 anos fui 15 dias para Marrocos na carrinha dos meus pais que usávamos para distribuir a mercearia. Comecei a trabalhar em criança nas empresas da família, ligadas à venda de produtos alimentares e de artigos religiosos. Era ali que ocupava as minhas férias escolares e os fins-de-semana. Conheci cedo o rigor, a obrigação do trabalho mas, uma semana por ano, tínhamos autorização para fazer tudo o que queríamos. Tivemos acesso a alguns bens materiais que muitos dos nossos amigos não tinham mas era a compensação por passarmos o Verão a vender Santos.Tive uma vivência académica fantástica em Coimbra. Quando terminei o antigo 7.º ano (hoje 12.º ano) tinha uma boa média e resolvi que devia continuar a estudar porque sempre era mais interessante do que ficar atrás de um balcão a vender artigos religiosos. Depois das aulas discutíamos, até à exaustão, a resolução dos problemas do mundo. Passei mais tempo a ler sobre as questões globais do mundo do que a estar empenhado em ser aquele aluno muito certinho e arrumado. Na minha primeira experiência como professor era mais novo do que os meus alunos. Uma semana depois de terminar o curso comecei a trabalhar, muito contrariado, no escritório da empresa do meu pai, na área da contabilidade. Depois, através dos miniconcursos, fui convidado para dar aulas à noite na Escola Preparatória de Mira D’Aire e, mais tarde, arranjaram-me mais horas. Durante um ano, acumulei o ordenado de professor com o que tirava na empresa até que fui chamado para cumprir a tropa. A estrutura militar existe porque nunca é questionada. Delego competências com facilidade mas sou exigente com os outros. Sou presidente da direcção da ACISO desde Janeiro de 2011. Entrei para a Associação em 1985 por intermédio do meu pai, que pertencia ao extinto Grémio dos Comerciantes. Consigo conciliar esta actividade com a de director executivo da Insignare - Associação de Ensino e Formação, entidade proprietária da Escola Profissional de Ourém e da Escola Profissional de Hotelaria de Fátima, que dirijo há três anos devido a um convite que me foi feito pelo actual presidente da autarquia. É interessante porque, em 1990, estive ligado à génese da criação da Escola Profissional de Ourém. Sou uma pessoa mais de fazer do que de falar. Nos anos 80, fui candidato à Câmara de Ourém pelo CDS, partido do qual fui militante e perdi contra o candidato do PSD, Mário Albuquerque. Nunca tive ambição de fazer uma carreira como político e penso que só aceitei ser candidato por impulso. Mas foi uma grande aprendizagem e, se há coisa que tenho bem resolvida, é essa. Gosto muito de fazer caminhadas ao ar livre. Gosto muito de rir e de brincar com as minhas fragilidades. Ler e escrever sempre foi um dos grandes prazeres da minha vida. Penso que tenho um sentido de humor, que surpreende as pessoas quando passam a conhecer-me melhor. E, depois, tenho uma paixão irracional pelo Sporting que me massacra. Sofro bastante com o meu clube. Tenho duas filhas de um primeiro casamento e fui pai, novamente, de um menino há dois anos e meio com quem tenho descoberto os Castelos da nossa região. Ser humilde é diferente de ser subserviente. A primeira característica fundamental para o sucesso é a humildade. Temos que ter a noção de que há sempre muito para aprender. Com uma persistente capacidade de trabalho conseguimos resultados fantásticos. Cito, muitas vezes, Herberto Hélder, um poeta português que admiro muito: “Caracol, lento, lento, lento, sobe o Fuji”.Elsa Ribeiro Gonçalves
“Temos que ter a noção de que há sempre muito para aprender”

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