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Vão mas é trabalhar!

Há uns tempos tive a Polícia Judiciária à perna por causa de uma notícia que escrevi sobre um organismo público da região. Os dois inspectores a quem tinham entregado o caso queriam apurar se tinha difamado o organismo e os seus representantes ao ter divulgado um negócio que lesava o Estado. A situação não me tirou o sono nem por uma noite e o caso acabou por nem chegar a julgamento. Mas ainda hoje me interrogo como é possível num Estado de direito fazer dos jornalistas criminosos enquanto quem faz borrada e gere o nosso dinheiro como entende, sem prestar contas, continua na sua vidinha santa. Quer isto dizer que não houve procurador ou polícia que resolvesse investigar o negócio que levou ao despedimento de um dirigente que mais tarde foi contratado para o mesmo sítio mas com um cargo ainda mais importante. O tempo que já passei em tribunais, gabinetes da polícia ou do Ministério Público por causa de gente que se sente muito ofendida na sua honra, como se muitos soubessem o que isso é para além do que se pode ler no dicionário, dava para tirar umas férias prolongadas. A intenção desta senda justiceira de alguns, sobretudo políticos, de matar o mensageiro, é clara. É fazer pressão, causar medo. É exercer censura através do sistema judicial que nós todos pagamos. Houve um socialista que me moveu vários processos enquanto foi presidente de câmara ofendido por vir a público o que ele não gostava que se soubesse. O Ministério Público nunca me levou a julgamento e o político que tem vivido do sistema continua por aí com o seu feitio cobarde. A diferença é que deixou de chatear os magistrados. Ser democrata e apregoar os valores da liberdade não é o mesmo que saber viver em democracia. E há por aí muito boa gente que vive à nossa custa com o rei na barriga que lida muito mal com a crítica. Podem querer ver ou fazer com que vejam os jornalistas como perigosos criminosos, mas enquanto houver comunicação social livre há sempre alguém que por cá vai andar atento ao que se faz, ou não se devia fazer. Sem comunicação social não há democracia. Talvez um dia alguém consiga prender todos os jornalistas incómodos, mandar fechar jornais, controlar o que se divulga. Nesse dia muitos estarão mais descansados nos seus poleiros a viverem a sua vidinha. Mas até lá, vão mas é trabalhar…António PalmeiroJornalista, chefe de redacção adjunto de O MIRANTE

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