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Não sinto saudades de dar aulas porque a profissão perdeu encanto

Não sinto saudades de dar aulas porque a profissão perdeu encanto

José Possante, 59 anos, director da Escola Secundária Jácome Ratton, Tomar
Estou, desde sempre, ligado à Escola Jácome Ratton. Foi aqui que estudei e tirei o curso profissional de Comércio, entre 1968 e 1972, antes de ingressar em Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Na altura, a Jácome Ratton era uma escola de “elite” em termos de edifício porque era uma escola nova e tinha uma grande tradição de formação. Era uma escola de Industrial e Comercial e, quem vinha para aqui estudar era para tirar cursos para ingressar na vida activa. Criava alicerces sólidos para o futuro. Em criança, fruto das minhas raízes, pensava ser engenheiro agrónomo. Durante o meu percurso formativo, nomeadamente durante a frequência desta escola, fui-me encaminhando para as áreas económicas e sociais. Trabalhei, esporadicamente, em tribunais e algumas empresas e fui completando os estudos à noite. Só depois resolvi tirar um curso superior na área da Economia porque, na altura, a perspectiva económica também era importante. Apanhei o período pré-25 de Abril e também o pós-revolução e tive uma participação sempre activa nas reformas da sociedade. Gosto de desafios. Esta escola, que tem 128 anos desde a sua fundação, foi objecto de uma grande requalificação entre 2009 e 2011, período em que os alunos tiveram aulas em contentores enquanto decorriam os trabalhos pelo que, na minha opinião, foi um desafio superado por toda a comunidade escolar. Estive nove anos fora da direcção da escola e voltei, em 2009, sobretudo porque se estava a iniciar um novo ciclo e que a escola iria ficar preparada para os próximos cinquenta anos. Escolhi ser professor devido à liberdade que me dava e para fugir à monotonia. Terminei a licenciatura em 1978 e, após alguns estágios em empresas, considerei que ser professor me daria uma maior liberdade profissional. Ser professor, à época, permitia uma maior autonomia, não tínhamos uma estrutura rígida em cima. Embora acumulasse o ensino com trabalhos em part-time cheguei à conclusão que a docência era o caminho. Em 1978 fui colocado na Ilha Terceira, nos Açores, durante cinco anos e depois vim para Tomar porque era aqui que queria consolidar a minha vida social. Sou professor da Jácome Ratton há mais de trinta anos e director desde 2009. A excelência do professor é a Sala de Aula. Hoje em dia são anexadas às tarefas clássicas dos professores uma série de tarefas burocráticas, de controlo disciplinar e de elaboração de documentos que “abafam” a sua verdadeira essência. Ao longo de 35 anos de carreira, com a degradação da instituição família, noto que o perfil dos alunos mudou muito. Hoje, as escolas têm que perder muito tempo a educar e só depois de estabilizar a turma é que os professores começam a ensinar. Não sinto saudades de dar aulas. A profissão de professor era muito atractiva nos anos 70-80 mas, hoje em dia, deixou de o ser. Se as pessoas puderem fugir da profissão quase todos o farão. Os professores têm uma grande carga horária lectiva e não lectiva, as turmas são muito grandes e há cada vez mais exigências que lhes são feitas para as quais não estão vocacionados. No meu tempo formar mentes para o futuro e pessoas era muito enriquecedor.Gosto de gerir recursos humanos. Acho que uma escola funciona bem se os elementos da direcção conseguirem potenciar a grande quantidade de recursos humanos que têm. Fora o trabalho burocrático, é o mais aliciante. Desde que fui colocado a dar aulas na Jácome que prestei apoio à direcção da escola. Integrei este órgão entre 1990 e 1999 e, paralelamente, fui assessor, na parte da gestão económica, dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento. Na altura era possível conciliar porque a carga lectiva era menor e o ensino era menos cansativo e burocrático. Delego responsabilidades facilmente mas exíguo responsabilidade, pontualidade e competência. Actualmente, na sequência dos mega-agrupamentos, integro uma Comissão Administrativa Provisória e trabalho com o antigo director da Escola de Santa Iria e da Gualdim Pais. Éramos todos directores e agora somos um grupo mas estou a gostar bastante porque não há conflitualidade. Gerimos 3.400 alunos e 500 funcionários com base na partilha de responsabilidades. Sou rigoroso mas dou liberdade aos que me acompanham. Sou conhecido por estar calmo dentro de um incêndio (risos). Tenho uma capacidade grande para motivar as pessoas. Tenho paciência e procuro, em cada pessoa, o seu melhor. Considero que é preciso estar constantemente em mudança. Sou a favor de uma gestão evolutiva. Sou contra o imprevisto e a favor do planeamento. Sou organizado no tempo. Duas horas de reunião são duas horas de reunião. Gosto de produzir muito em poucas horas.Não levo trabalho para casa. Mantenho o telemóvel ligado mas no silêncio. Nasci em Marinhais mas vivo em Tomar desde os nove anos e por isso considero-me tomarense. Sou casado e tenho dois filhos, já independentes. Gosto de passear ao ar livre, mantenho como passatempos a agricultura, a leitura e o cinema. Vou aos Açores, onde tenho família, todos os anos. O meu fio condutor, quer na vida pessoal quer profissional, é a verdade. Por muito que nos custe encarar a situação é a única alternativa para ultrapassarmos qualquer problema.Elsa Ribeiro Gonçalves
Não sinto saudades de dar aulas porque a profissão perdeu encanto

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