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In Memoriam Dr. José Lopes

Quis o acaso que um jovem chamusquense se tivesse cruzado com o Dr. José Lopes, director do Externato Braamcamp Freire, em Outubro de 1951. Durante os cinco anos que permaneci em Santarém, este Amigo ajudou-me de várias maneiras, talvez sem se dar bem conta da importância desse apoio.Desde logo, concedeu-me uma bolsa de estudo para frequentar gratuitamente o Externato e, assim, completar o curso dos liceus. Isto hoje parece trivial, mas naquele tempo foi decisivo: marcou exactamente a diferença entre a possibilidade de eu continuar, ou não, os meus estudos. A contrapartida da bolsa consistia na realização de algumas tarefas na secretaria do colégio. Foi também o Dr. José Lopes que me aconselhou o alojamento em Santarém, na casa da D. Sofia, sua tia. Guardo uma terna recordação do tempo que passei na Travessa da Roda, mesmo ao lado do Sá da Bandeira. A mensalidade foi fixada em seiscentos escudos, que o dinheiro que vinha da Chamusca não dava para mais. Nesse tempo, uma geral no Rosa Damasceno custava vinte e cinco tostões...Foi ainda o Dr. José Lopes quem me arranjou o primeiro explicando, tinha eu dezasseis anos. Lembro-me de que se tratava de lições de Português. A princípio, fiquei receoso com a ideia por duvidar que pudesse dar conta do recado. Mas a experiência correu bem, abrindo caminho a outras explicações. Que bem me sabia aquele dinheiro ao bolso ao fim do mês!Recordo um momento de humor e aflição, devido a um atrevimento meu numa aula de História. Foi na véspera de um 1.º de Dezembro. A professora dissertava sobre o estado em que o País ficara depois da dominação espanhola. Dizia ela: «A marinha estava desorganizada, a indústria desmantelada, o comércio...». Inopinadamente, interrompi-a: «O comércio estava fechado... era feriado!». Os meus colegas riram muito, mas a professora é que não achou piada à graçola. Resultado: fui expulso da aula e mandado apresentar ao “Senhor Director”!Foi com o rabo entre as pernas que bati à porta do seu gabinete. «Então, rapaz, o que é que há?», perguntou-me, percebendo logo que ali havia asneira. Comprometido, contei-lhe o sucedido. Foi com surpresa que entrevi um leve sorriso nos seus lábios, enquanto me ralhava mansamente: «O menino não pode armar-se em engraçado nas aulas, não se esqueça que tem de dar o exemplo. Quando terminar a aula, trate de ir pedir desculpa à senhora professora.» E tudo ficou por ali.A atitude serena do Dr. José Lopes foi uma lição para mim: um mestre não necessita de dramatizar as situações para se fazer respeitar, basta-lhe um julgamento equilibrado e uma decisão adequada às circunstâncias.Onde quer que esteja, Bem-Haja Amigo!PS – Curiosamente o Externato Braamcamp Freire funcionava onde é hoje a sede do jornal O MIRANTE.Eduardo Martinho

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