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Quando os casamentos duravam até que a morte os separasse

Quando os casamentos duravam até que a morte os separasse

Recriação de casamento de antigamente marcou arranque de mais uma Feira do Livro em Alpiarça. O desfile começou na antiga casa onde se realizavam as festas de casamento e terminou no pavilhão do Águias de Alpiarça.

Jéssica Cunha exibe orgulhosamente o seu vestido de noiva. A indumentária, cor de pérola, é composta por um casaco, sem decotes e com uma gola, e uma saia rodada até aos pés. Na mão esquerda, a jovem de 16 anos, segura o ramo de flores e na mão direita uma pequena bolsa da mesma cor do vestido. O noivo, Cláudio Dias, 21 anos, enverga casaco, colete e calça cinzenta, com um chapéu preto. Só lhe falta a corrente de ouro. “A troika estraga tudo e tive que vender o ouro”, brinca. Os jovens, que se conhecem desde crianças, estão prontos para percorrer as ruas de Alpiarça depois da festa de casamento na chamada Casa das Bodas, na zona da Ribeira, no centro da vila.A recriação aconteceu na tarde de sábado, 20 de Abril. O casal improvisado pertence ao Rancho Folclórico Albandeio de Alpiarça e foi escolhido para recriar os casamentos de antigamente na vila ribatejana. O desfile começou na antiga casa onde se realizavam as festas de casamento e terminou no pavilhão do Águias de Alpiarça. A recriação marcou o início da exposição “E foram felizes para sempre - casamentos de antigamente” e também da Feira do Livro de Alpiarça que decorre até 28 de Abril, no Águias.Ao lado de Jéssica, está Manuela Alves, 73 anos, que recorda os casamentos há meio século em Alpiarça. Tudo muito diferente, garante. Uns dias antes do casamento os noivos iam a casa dos amigos entregar uma taça de arroz doce e uma ferradura (doce tradicional). O intuito era receberem uma prenda ou dinheiro. No dia do casamento, depois de ser servido o bolo dos noivos, os convidados davam a ‘gorjeta’. As mulheres davam 50 escudos e os homens, como naquele tempo ganhavam mais, ofereciam 100 escudos. Manuela Alves lamenta que se tenham perdido as tradições. “Antigamente dava-se mais valor ao casamento, duravam até um elemento do casal morrer. Hoje é só uma festa e passado pouco tempo já estão divorciados”, afirma. Este é o primeiro casamento de Jéssica. Quando for para valer garante que quer um vestido mais moderno do que aquele que teve que vestir no sábado. As avós contam-lhe que antigamente as vizinhas iam para casa da noiva fazer os bolos para depois distribuírem pelos convidados e conhecidos. “O casamento hoje é só uma festa para comer, beber e apanhar bebedeiras, incluindo os noivos”, diz enquanto solta um sorriso tímido. Também Cláudio ainda não casou e quando isso acontecer será bem diferente. No sábado recriou todos os passos dos casamentos realizados há meio século. Os noivos comandavam o cortejo seguidos pelos convidados em direcção ao pavilhão do Águias. Não faltou uma passagem pela igreja local, onde tiraram fotografias para mais tarde recordarem o momento. Na sede do Águias aguardavam-nos o presidente da Câmara de Alpiarça, Mário Pereira, Ludgero Mendes, presidente do Grupo Académico de Danças Ribatejanas e organizador do Festival Internacional de Folclore Celestino Graça, e todos os que quiseram assistir à inauguração da exposição.No interior do pavilhão não faltou uma mesa com arroz doce e ferraduras e um abafado que serviu para os noivos brindarem à sua felicidade. Depois foi tempo de ver as fotografias expostas dos casamentos de antigamente. Todos quiseram recordar momentos que já não voltam mas que ficam guardados na memória.
Quando os casamentos duravam até que a morte os separasse

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