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“Existe um regresso ao associativismo e aos valores tradicionais”

“Existe um regresso ao associativismo e aos valores tradicionais”

Luís Coelho, 46 anos, Solicitador, Alverca do Ribatejo

Luís Coelho, 46 anos, é o novo presidente do Centro Social para o Desenvolvimento do Sobralinho (CSPDS). Divide o seu tempo durante a semana entre a instituição e o seu trabalho de solicitador. Sempre esteve ligado ao movimento associativo. Tinha 15 anos quando começou a trabalhar, mas nunca deixou de estudar. Tem dois filhos e é casado com uma advogada. Gosta de cozinhar. Há 16 anos mudou-se para Alverca. Do que mais sente saudades é de ver o Tejo todos os dias.

Tenho saudades dos tempos em que todos se conheciam. Nasci e cresci em A-dos-Loucos, em São João dos Montes. O meu pai era operário fabril e a minha mãe doméstica. Tenho mais dois irmãos. Tínhamos poucos brinquedos e era na rua que passávamos grande parte do tempo. Lembro-me de ter uma bicicleta aos 12 anos. Foi um acontecimento naquela altura porque ninguém tinha dinheiro. Existiam outras relações de vizinhança. As pessoas davam mais valor umas às outras. Existe um regresso ao movimento associativo. Vila Franca de Xira sempre teve muitas associações com um peso muito importante na comunidade, especialmente na década de 80. Depois o estilo de vida mudou, as pessoas passaram a valorizar outras coisas e a terem menos tempo disponível. Esta crise está a acordar um pouco o movimento associativo. Existe menos dinheiro e as pessoas estão a recuperar e a valorizar muitas coisas de antigamente. Comecei a trabalhar às escondidas do meu pai. Tinha 15 anos. Só a minha mãe é que sabia. Era baldas nos estudos e queria ganhar algum dinheiro para comprar as minhas coisas. Esperava primeiro que o meu pai saísse de casa. Comecei a trabalhar nas obras, na construção de um bairro social municipal. Mal comecei a aparecer nas assembleias gerais puxaram-me para o centro. Há oito anos coloquei a minha filha no Centro Social do Sobralinho. Gostei muito da instituição, dos seus valores, e senti-me na responsabilidade de dar também o meu contributo. As associações sempre viveram crises directivas e mal manifestei interesse surgiram convites para integrar listas aos órgãos sociais. Em Janeiro acabei por ser eleito presidente. O meu objectivo principal é manter a missão e os valores da instituição. Nunca me interessei em seguir carreira como advogado. Muitos solicitadores acabam depois por tirar o curso de Direito. Estar à espera das decisões do tribunal que demoram muito tempo é desmotivante. Gosto mais de ajudar as pessoas com os seus problemas do dia-a-dia. Ter uma acção mais imediata. Nunca deixei de estudar. Tirei o 12º ano à noite. Trabalhei durante alguns anos no departamento de administração e urbanismo da Câmara de Vila Franca e ali é que comecei a lidar directamente com o público. Deparei-me com a procuradoria ilícita, que em vez de ajudar só agravava os problemas das pessoas. A minha esposa, que é advogada, incentivou-me a tirar um curso de solicitadoria. Sempre me interessei muito por História, mas como não existiam cursos nocturnos, acabei por deixar de lado.Estudei para o curso de solicitadoria numa piscina. Durante o dia trabalhava na câmara e à noite ainda era nadador salvador numa piscina em Lisboa. Levava os livros e ia estudando numa espreguiçadeira para o curso que era aos fins-de-semana. Mal acabei o curso, em 1997, abri escritório na Póvoa de Santa Iria. Mudei-me para Alverca em 2009. O tempo livre é organizado conforme as vontades dos filhos. Durante a semana reparto-me entre o trabalho no escritório e no centro social. Nos fins-de-semana tento estar mais com a família. Vou muito ao parque infantil. Sou um pouco preguiçoso. Não pratico desporto. As refeições em casa são por minha conta. Gosto muito de feijoada e de caldeirada.Tenho saudades de ver o Tejo todos os dias. Em A-dos-Loucos conseguia ver o Tejo da minha casa. Há 16 anos que me mudei para Alverca e confesso que isso foi o que mais me custou. Gostava de viver no campo, mas hoje em dia é muito complicado. O sentido de responsabilidade é o que mais valorizo. Não somos máquinas, todos temos contratempos, mas valorizo muito o sentido de responsabilidade. A honestidade e sinceridade são outros valores que muito prezo. A nossa vida não se resume a chegar, a aproveitar tudo o que os outros fizeram e a partir. No fim, o mais importante que temos é a família e os amigos. Eduarda Sousa
“Existe um regresso ao associativismo e aos valores tradicionais”

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