A equipa ouriense comandada pelo treinador Mauro Moderno, que subiu a época passada ao escalão maior do futebol feminino português, já tinha sido primeira na primeira fase da prova, mas tinha na luta pelo título as três equipas que a precederam na tabela classificativa. O 1º de Dezembro, de Sintra, que tinha conquistado os últimos onze títulos, o Clube de Albergaria, recheado de jogadoras muito experientes e o Vilaverdense. Não tinha por isso uma tarefa fácil pela frente.A equipa uniu-se e foi desfrutando jogo a jogo, andou sempre na frente, não perdeu nenhum jogo na fase final, apenas empatou os dois jogos com o 1º de Dezembro. Chegou ao jogo de domingo, o penúltimo do campeonato, com mais dois pontos do que o Albergaria que era o segundo classificado da prova. Para festejar a conquista do título tinha que vencer. Conseguiu a vitória e a festa foi feita em casa.E a festa foi rija. O Campo da Caridade em Ourém nunca contou com a presença de tanta gente para assistir a um jogo de futebol de qualquer escalão ou sexo. Atrevemo-nos a dizer que pouquíssimas vezes devem ter estado tantos espectadores num outro estádio do distrito de Santarém.As jovens entraram nervosas no jogo, e as jogadoras do Albergaria, mais experientes, cedo se aperceberam disso e pressionaram logo de início, não se furtando a meter o pé, às vezes com alguma rispidez, criando algum perigo junto da baliza do Ouriense. Mas nunca conseguiram bater a excelente guarda-redes da equipa da casa.O jogo foi sempre muito equilibrado. As jogadoras de Ourém foram acalmando e conseguiram chegar ao intervalo com um nulo no marcador. No regresso para a segunda parte, também se viu que a equipa da casa vinha com outra disposição e logo nos primeiros minutos criaram duas boas oportunidades para marcar.Contudo o golo que iniciou a festa aconteceu apenas aos 73 minutos, numa rápida jogada de contra ataque a bola chegou aos pés da grande marcadora da equipa, Diana, que bem no centro da área e frente à guarda redes do Albergaria atirou forte para o fundo da baliza adversária.Foi a primeira explosão de alegria em todo o estádio. Mas ainda foi preciso sofrer. A equipa de Albergaria não se entregou, foi para a frente e causou alguns lances de perigo. Mas as últimas oportunidades pertenceram à equipa de Ourém. Quando a árbitra apitou para o final as jogadoras do Ouriense caíram num longo abraço e festejaram com o público que nas bancadas e em redor do rectângulo de jogo, não se cansou de aplaudir e vitoriar. A festa prolongou-se pela noite dentro. As jovens que, comandadas por Mauro Moderno, trouxeram o título para Ourém são: Ana Cláudia, Ana Coelho, Ana Valinho, Anita Santos, Daniela, Diana Silva, Flávia Fartaria, Inês Cruz, Jéssica Pastilha, Joana Marchão, Mafalda Batista, Maria Inês Reis, Mariana Coelho, Náná Oliveira, Tininha Quartau, Petra, Tita, Margarida Pisco e Bárbara.“chegámos ao título porque fomos os melhores”O novo campeão nacional de futebol feminino, Atlético Ouriense, concretizou o objectivo secreto de um plano traçado há três anos, revelou o presidente João Sousa.“É o culminar de um trabalho de três anos em que poucos acreditariam. Quando arrancámos tínhamos exactamente isto em mente: destronar o 1.º Dezembro e trazer o título para Ourém”, explicou o líder do clube, sublinhando que essa meta nunca foi revelada: “Para a pressão não ficar do nosso lado”.João Sousa considera que em Ourém mora a mais forte equipa do país: “Somos os melhores, sem tirar o mérito às equipas que estiveram na luta. Mas, neste momento, somos superiores e demonstrámos dentro do campo”.O presidente João Sousa considera que o Atlético Ouriense está preparado para defender esta conquista na próxima época. “Quem ganha tem sempre responsabilidade de defender o título. Traz mais responsabilidade mas, por outro lado, traz mais motivação. Quem quer ser campeão tem de estar habituado a lidar com a responsabilidade”, explicou.Treinador Mauro Moderno sublinha a capacidade de superação das suas jogadoras“Acabámos por ser a equipa mais feliz, de forma muito justa. Tivemos as principais situações para finalizar e, depois de perdemos a meia-final da Taça para o Boavista, no dia 25 de Abril, conseguimos recuperar animicamente. Apesar das jogadoras estarem fatigadas conseguiram superar-se”, disse. Entre o plantel, a ambição cresceu “logo a partir do primeiro jogo”, mas sobretudo após o segundo confronto com o 1.º Dezembro, recorda o treinador. “Empatámos, estávamos em segundo lugar e começámos a pensar mais longe”, disse o técnico, acrescentando que estava feliz pelas suas jogadoras. Pelos dirigentes e pelo público “foi sempre o nosso 12º jogador”.A felicidade da capitã era partilhada com as suas companheiras de equipaAna Valinho, a grande “capitã”, quis desde logo partilhar a felicidade de ser campeã ao serviço de uma equipa do seu concelho. “É uma vitória extremamente saborosa, é uma felicidade enorme, reúno todas as minhas companheiras de equipa num grande abraço de felicidade”. A experiente jogadora do Ouriense realçou ainda o virar de página que este título representa para o futebol feminino português. “O 1.º Dezembro era campeão há onze anos. Quebrámos essa hegemonia e mostrámos que é possível qualquer equipa ser campeã. Isto é bom para todas as equipas, para todas as jogadoras, para associações, para a Federação e para aumentar o nível do futebol feminino em Portugal. Não foi fácil mas conseguimos”, afirmou.