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Jornalista e professor são as melhores profissões do mundo

Jornalista e professor são as melhores profissões do mundo

Numa iniciativa de O MIRANTE, Jaime Rocha e M. Parissy estiveram a conversar no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, sobre poesia e jornalismo. Dois poetas com uma Obra diversificada mas com muitas coisas em comum. Ambos nasceram na Nazaré e são jornalistas de profissão. Embora levem quase 20 anos de diferença no mundo dos livros são amigos de longa data e cultivam as amizades da terra onde nasceram. Jaime Rocha e M. Parissy partiram para a escrita literária quando verificaram que o jornalismo não permitia satisfazer a vontade que tinham de criar algo a partir da realidade que observavam. Os dois poetas acreditam que a poesia pode ser uma arma de combate nestes tempos difíceis que o país atravessa.

“O sagrado no jornalismo é a luta pela descoberta da verdade, enquanto na poesia se procura descobrir uma outra verdade”. É deste modo que o poeta, dramaturgo e romancista Jaime Rocha, pseudónimo do ex-jornalista Rui Ferreira e Sousa, analisa os dois mundos. Garante que o jornalismo e a actividade docente são as melhores profissões do mundo e prefere apresentar-se antes como jornalista do que como ficcionista ou poeta. O jornalista da Antena 1, Mário Galego, também se sentiu “ obrigado” a criar o pseudónimo de M. Parissy para separar os dois ofícios. A poesia é algo que partilha com os amigos mais chegados porque escreve por prazer e não para ser conhecido. Jaime Rocha e M. Parissy estiveram durante a tarde de quinta-feira, 2 de Maio, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, a convite de O MIRANTE, para participarem no terceiro de uma série de encontros que o jornal está a organizar no âmbito das comemorações do seu 25º aniversário.O primeiro confronto entre poesia e jornalismo surge quando Jaime Rocha não conseguia ir mais além dos factos que relatava numa notícia. “Não podia inventar. Uma notícia é o que é. Não era suficiente escrever algo que morresse na edição do dia seguinte”, confessou o autor que queria ser “verdadeiro” enquanto jornalista e “falso” enquanto escritor. Para exemplificar recordou uma reportagem que realizou no Alentejo; à medida que ia apontando os factos para a reportagem no jornal anotava pequenas coisas para utilizar na sua poesia ou na ficção. Reconhece, no entanto, que o jornalismo está mais próximo da escrita de teatro do que a poesia ou o romance. M. Parissy referiu que tanto no jornalismo como na poesia pode partir de factos concretos mas só “inventando e recriando” é que se tem liberdade para ultrapassar as barreiras que a realidade impõe todos os dias e condiciona o espírito livre.O diretor-geral de O MIRANTE, Joaquim António Emídio, que moderou o encontro e o debate com o público, foi lançando algumas questões como, por exemplo, a necessidade de fazer opções entre a profissão e a vida de escritor. “Em primeiro lugar deve estar sempre a profissão”, confessaram em uníssono. Jaime Rocha, o autor de “Zona de Caça” alertou para o facto de em Portugal serem muito poucos os autores que conseguem viver só da literatura. “O Rui (Ferreira e Sousa) trabalhava para o Jaime (Rocha) poder escrever”, referiu, acabando a criticar “uma nova geração de escritores que quer viver só da escrita mas acabam por não passar de meros e servis “empregados dos editores”. M. Parissy assume-se como um jornalista antes de ser um poeta um escritor de ensaios ou editor. Os livros que vai publicando em pequenas editoras alternativas têm tiragens reduzidas e são, segundo o autor, para distribuir junto de amigos. São poucos os colegas de profissão que conhecem a actividade poética de M. Parissy o que não o preocupa e considera até ser uma vantagem a nível profissional.Jaime Rocha revelou alguns desentendimentos com colegas da redacção quando trabalhou no Público e alguns descobriram que também escrevia livros. Foi depois de ganhar um importante prémio literário .“Muitos chegaram a zangar-se comigo por nunca ter dito nada. Depois também gera sempre alguma ciumeira”, acrescentou, alertando ainda para os “muitos jornalistas que por escreverem muito pensam que são escritores e depois publicam livros”. “É perigoso porque até pode ser um bom jornalista e um péssimo escritor”. Respondendo à pergunta sobre as vidas polémicas e boémias de alguns poetas, e o encanto que provocam nos leitores, Jaime Rocha considera que com o tempo a única coisa que restará são as obras dos grandes mestres. M. Parissy confessou que podia “escrever bêbado e drogado e ninguém saber. Não me preocupo em ser uma vedeta. Escrevo apenas porque gosto e sinto-me realizado praticando este ofício nas horas livres”. Sobre a possibilidade de a poesia “ajudar a combater a troika”, M. Parissy defende que pode ajudar a fazer parte do combate político mas não é suficiente para combater a corrupção e o analfabetismo. “No 25 de Abril os grandes cartazes diziam que a poesia estava na rua. Não foi por acaso. O ADN da poesia é a liberdade, o que tem muito a ver com o combate”. Jaime Rocha acredita que, antes das palavras, são precisas as pessoas. “A poesia e a música são uma mistura explosiva que podem fazer tremer os sistemas políticos. A poesia sozinha não chega para combater a troika. Quem o pode fazer são os deputados da Assembleia da República, um milhão ou dois de pessoas, com ou sem poesia, mas tem de ser com pessoas”, concluiu.Jovens que gostam de expressar sentimentos por escritoOs jovens podem não utilizar a poesia como refúgio, podem não ser leitores assíduos deste género literário, mas escrevem, gostam de se exprimir através das palavras e de rascunhar o que lhes vai na alma. Alexandra Almeida e Raquel Alexandra são duas alunas da Escola Alves Redol de Vila Franca de Xira que se encaixam neste perfil. As estudantes nunca escreveram poemas mas assistiram com atenção à conferência “Dois poetas de dois mundos”, promovida por O MIRANTE no Museu do Neo-Realismo, com Jaime Rocha e M. Parissy, pseudónimos dos jornalistas Rui Ferreira e Sousa, já reformado, e Mário Galego, respectivamente.Para Alexandra Almeida, 17 anos, aluna do 10º ano, “a poesia é uma forma de mostrar diversas coisas e esconder o que realmente sentimos”. Gosta de Alexandre O’Neill e o seu poema preferido é “Um Adeus Português”. A jovem até gosta de ler poesia de vez em quando mas não se aventura a ser poeta. Já tentou escrever poemas mas com espontaneidade diz que lhe “sai sempre tudo ao contrário”. Mas no seu blogue, sobretudo quando está melancólica, grava o que lhe vai na alma. Tal como esta jovem também a sua colega de turma Raquel Alexandra, 16 anos, gosta de escrever porque tem necessidade de expressar os seus pensamentos. Mas também nunca escreveu poemas nem em cartas de amor. A leitura também passa ao lado da poesia e a sua perdição são os romances. Ser poeta “é ter mil desejos” como escreveu Florbela Espanca no poema “Ser Poeta” cantado pelo grupo Trovante e estas jovens até têm muitos, mas não os conseguem arrumar em versos. Mas não têm dúvidas que a língua portuguesa também ganha vida quando escrevem os seus pensamentos, seja no papel ou no teclado de um computador. Para ambas a conferência foi uma forma de conhecerem melhor a força da poesia e de estarem diante de dois “verdadeiros poetas”.
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