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O regresso dos Dó Mi Sol 40 anos depois

O regresso dos Dó Mi Sol 40 anos depois

José João Luís foi um dos elementos do conjunto musical de Alpiarça que fez sucesso na região nos anos 60 e 70

Durante cinco anos fez parte do conjunto musical Dó Mi Sol, um grupo de Alpiarça que fez grande sucesso um pouco por todo o país. Tal como acontece nos concertos de Tony Carreira também as fãs adoravam os músicos, não perdiam uma oportunidade para tirarem fotografias e pedirem autógrafos. José João Garrucho Luís tocou acordeão e viola baixo. Recorda com saudades esses tempos. Agora vai poder matar saudades porque alguns elementos vão juntar-se para recordar o sucesso que fizeram nos anos 60 e 70.

Só dez anos depois do seu casamento [que aconteceu em Dezembro de 1963] é que José João Garrucho Luís passou o seu primeiro Natal e passagem de ano com a mulher e os filhos. Até essa data os fins-de-semana e datas festivas eram passadas a tocar. José João Luís tocava acordeão e mais tarde viola baixo, no conjunto musical Dó Mi Sol, de Alpiarça, que no final da década de 60 e início dos anos 70 fez sucesso um pouco por todo o país. Do conjunto musical faziam também parte Domingos Penteado (órgão e saxofone) e Valdemar Ilusiário (bateria).As músicas que tocavam na altura conquistavam toda a gente. Beatles e Bee Gees eram algumas das bandas consagradas cujos temas o grupo interpretava. Mas também tocavam música italiana, francesa e espanhola que estavam na moda. E, tal como acontece agora nos concertos de Tony Carreira, também as fãs adoravam os músicos e não perdiam uma oportunidade para, nos dias dos espectáculos, tirarem fotografias e pedirem autógrafos. “Era uma loucura. Só num ano fizemos 37 actuações, só em Santarém. As pessoas gostavam muito de nos ouvir”, recorda José João com saudade.Quando lhe perguntamos se naquela altura tinha muitas fãs e se era muito assediado, a esposa, Jacinta Luís, que esteve sempre a assistir à conversa, levanta-se e sai da sala. Regressa minutos depois com uma fotografia a preto e branco do marido quando era jovem. “Não acha que tinha que ter muitas admiradoras”, deixa a pergunta no ar elogiando o marido.Durante cinco anos o grupo nunca parou com espectáculos um pouco por todo o país. José João era o condutor de serviço e, apesar das viagens serem longas e os caminhos mais sinuosos que hoje, nunca ficaram pelo caminho. Só uma vez, em direcção a Ponte de Sôr, é que chegaram tarde devido a um pequeno incêndio no atrelado onde levavam os instrumentos. Um incidente detectado a tempo e que não teve consequências de maior.José João sempre gostou de música. Aos oito anos ia para a porta de uma taberna em Alpiarça ouvir a telefonia do estabelecimento. Como as crianças não tinham autorização para entrar nas tabernas, o menino punha-se à entrada com um ouvido no rádio e muita atenção ao dono da taberna. Quando era apanhado fugia mas acabava sempre por lá voltar.Filho de agricultores, aos dez anos começou a ajudar os pais nuns terrenos de família. O pai queria que o filho lhe seguisse as pisadas mas José João queria ser músico. O progenitor não achou grande piada mas, com a ajuda da mãe, lá conseguiu convencê-lo a deixá-lo seguir a sua paixão. Aos 14 anos começou a aprender música na banda de Alpiarça e aos 17 já estava a aprender acordeão. Entretanto, começou a trabalhar na Câmara de Alpiarça e mais tarde no Centro de Comércio Agrícola. Nos tempos livres dedicava-se ao conjunto musical. O sucesso foi tão grande que chegaram a ser cinco elementos.No entanto, ao fim de cinco anos o conjunto terminou. José João confessa que era complicado gerir o emprego com a música. As actuações acabavam já quase com o dia a nascer e o tempo para descansar era pouco. O antigo músico confessa que tem saudades desses tempos em que tudo foi vivido com muita intensidade. “Tive uma vida cheia e fui muito feliz porque sempre fiz o que gostei, que era tocar. Nem todas as pessoas têm a felicidade de fazer o que realmente gostam”, explica acrescentando que chegaram a ter dois convites para actuar no estrangeiro mas tal não se concretizou porque na altura já tinham extinguido o conjunto. Deixou de tocar há anos mas os instrumentos estão guardados lá em casa, em Almeirim. O nervoso miudinho voltou porque foi convidado para uma ‘brincadeira’. Ainda este mês alguns elementos do Dó Mi Sol vão juntar-se e recordar os sucessos do conjunto musical, no pavilhão dos Águias, em Alpiarça. José João diz que já está ‘enferrujado’ mas tem andado a treinar para que tudo corra bem e que todos voltem a dançar ao som dos Dó MI Sol.O músico que conquistou a esposa através da dançaApesar de estar habituado a dar música a toda a gente José João Garrucho Luís conquistou a esposa pela dança. Já lá vão mais de 50 anos. O jovem músico conheceu Jacinta numa festa de casamento em Alpiarça. Ficou encantado com a jovem, que na altura tinha 16 anos, mas não aconteceu nada. Meses mais tarde reencontraram-se num baile em Almeirim, onde seria permitido às moças da terra dançarem com jovens de fora. Convidou-a para dançar mas a dança foi interrompida por um tio da jovem. Apesar do percalço conseguiu conquistá-la.Em Dezembro comemoram as bodas de ouro do casamento. Têm dois filhos e duas netas. Nenhum dos seus descendentes seguiu as suas pisadas na música. A única que tinha mais inclinação era a sua filha mas a mãe não tinha muita vontade que esta seguisse as pisadas do pai. “Sempre que eu andava por fora a minha mulher ficava com o coração nas mãos e não queria que acontecesse o mesmo com a nossa filha. Quando eu deixei de tocar ficou 100 por cento satisfeita porque andava sempre preocupada”, afirma.Na véspera do casamento ainda actuou na sala do Círculo Cultural Scalabitano. A única condição para aceitar foi que o baile terminasse às duas da manhã. Uma semana depois do casamento foi para novo concerto. Apesar de ter ‘fugido’ de seguir os passos do pai, José João acabou por ligar-se à agricultura. A esposa herdou uns terrenos e José João foi dando uma ajuda. Actualmente possui cerca de um hectare e meio de terreno na estrada do campo, na zona de Alpiarça, e outro em Santarém, onde plantou uma vinha. É uma forma de estar entretido e passar o tempo. Não vai lá todos os dias mas sempre que é preciso dá lá um salto.Nasceu em Alpiarça mas vive em Almeirim há mais de três décadas. Gosta de ambas as terras, onde diz ter vários amigos. No entanto, confessa que em Alpiarça é mais mimado porque já não mora lá. Diz que vale a pena as pessoas continuarem ligadas à agricultura apesar de todas as dificuldades. Apesar do incentivo deixa um alerta: “As entidades competentes têm que olhar para os agricultores e apoiá-los”.
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