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Extravagante Manuel Serra d’Aire

Extravagante Manuel Serra d’Aire

Um historiador concluiu que Miguel Cervantes, o autor de D. Quixote de La Mancha, também conhecido por cavaleiro da triste figura, andou por terras de Tomar no século XVI quando o nosso país estava sob o domínio dos Filipes castelhanos. Confesso que gosto deste tipo de especulação, semelhante à da nacionalidade de Cristóvão Colombo ou à da naturalidade de Afonso Henriques, porque alimenta a imaginação e a arte. Não sei se Cervantes andou ou não por terras do Nabão para participar nas cortes filipinas, ou se simplesmente passou por ali para beber um copo na Casa das Ratas da época. Tal como não sei se realmente Camões penou por terras de Constância a padecer de amores, como reza a lenda, ou se simplesmente foi descer o Zêzere de canoa. Mas garante-me historiador amigo e infalível que a passagem de outro lendário escritor, de seu nome Moita Flores, por Santarém, está mais que confirmada, tendo sido encontrados esqueletos de porcos no espeto e espinhas de sardinha que comprovam os célebres arraiais feitos durante a sua indelével estadia por terras escalabitanas, bem como facturas por pagar e bilhetes para corridas de toiros a 5 euros.Numa época em que não abundam as referências e em que os valores estão em saldo, as cidades devem saber extrair mais valias da relação com personalidades de prestígio como as que enumerei acima. Por exemplo: se Santarém está no top 10 dos municípios que levam mais tempo a pagar aos credores, esse aspecto distintivo deve ser propalado aos quatro ventos e usado para cativar visitantes. “Venha passar o fim de semana a Santarém e pague daqui a 600 dias” podia ser um dos slogans.Foi isso que se fez em Fátima há quase cem anos, após três pastorinhos terem dito que viram Nossa Senhora pousada numa azinheira. A partir daí foi sempre a bombar. Hoje Fátima é uma terra famosa em todo o mundo graças ao fenómeno nascido da versão de três crianças que nem sequer tinham a autoridade de um historiador para atestar aquilo que diziam. E Nossa Senhora continua na berra e até já interfere nas negociações com a Troika, como disse o Presidente Cavaco, embora não saiba que conhecimentos tem a divindade em causa sobre questões de macro-economia. Aproximam-se as autárquicas e começa a venda de banha da cobra a granel. Um dos maiores embustes é o dos chamados movimentos independentes. Na maior parte dos casos, mais não são que albergues de gente descontente com as decisões dos seus partidos, que não lhes deram o que queriam: um lugar bem cotado nas respectivas listas de candidatos ou o candidato que eles preferiam. Esta escaganifobética situação não é de agora, mas ver em listas independentes o presidente da Câmara de Almeirim, Sousa Gomes, que ainda deve ser militante socialista e que foi figura de topo do PS na região durante décadas, causa-me urticária. É que não gosto que me tentem vender gato por lebre. O mesmo se aplica ao candidato independente à Câmara de Ourém Vítor Frazão, que até foi presidente desse município pelo PSD, partido de que também foi dirigente. Além disso, esta situação deixa-me em crise de identidade profunda. É que se estas pessoas que fizeram toda a sua vida política à sombra dos partidos são independentes, que raio serei eu?Um abraço cheio de dúvidas do Serafim das Neves
Extravagante Manuel Serra d’Aire

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