Museu de Aguarela Roque Gameiro é uma jóia escondida em Minde
Inaugurado em 2009, o único museu do país dedicado à pintura a aguarela alberga no seu acervo a maior parte da obra de Alfredo Roque Gameiro, artista emérito que deixou um importante legado que a família soube preservar e divulgar.
É o único museu no país dedicado à aguarela mas na vila de Minde, onde está localizado, não existe uma placa indicativa que encaminhe os potenciais visitantes. Vale a solicitude dos mindericos, que à pergunta da repórter indicam prontamente que fica junto ao coreto, no Largo Justino Guedes. O Museu de Aguarela Roque Gameiro foi inaugurado em 2009 e é uma jóia escondida que alberga um espólio de cerca de duas centenas de aguarelas e desenhos de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935), artista, pintor, gravador e aguarelista, natural de Minde, freguesia do concelho de Alcanena.Durante o período de tempo em que a reportagem de O MIRANTE esteve no local não apareceu nenhum visitante, mas no mês de Maio foram contabilizadas mais de duas centenas de visitas à colecção do museu. Desde 2 de Janeiro, o número total de participantes nas actividades promovidas e em visitas à exposição já ultrapassou os 970 visitantes. Maria Alzira Roque Gameiro, museóloga e presidente do Conselho Director do Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro (CAORG), considera este número “muito bom para um museu de província”. O pai do pintor era trisavô da museóloga e é o gosto pela obra do mestre que tem movido a timoneira deste projecto a trabalhar com empenho no museu, sempre com o apoio de toda a família Roque Gameiro.O Museu de Aguarela não é autónomo, integra um dos oito polos do CAORG. No local trabalham permanentemente quatro funcionários. O jardineiro, que cumpre também as funções de vigilante, o historiador de arte, responsável pelas visitas guiadas dos visitantes, ambos pagos pela Câmara de Alcanena. A restante equipa é constituída pela técnica de conservação e restauro, paga pela instituição, e pela museóloga. Parte do espólio foi cedido pela família e 73 obras pertencem à Fundação Calouste Gulbenkian que as cedeu através de um depósito de longa duração. O número de obras vai aumentando à medida que vão sendo cedidas ou emprestadas novas obras, sobretudo por familiares de Roque Gameiro. “O museu tem que viver por ele próprio”, afirma Maria Alzira Roque Gameiro. Foi com base nessa premissa que foi construído.O anterior museu, apenas com o nome de Museu Roque Gameiro ficou temporariamente sediado na moradia que tinha servido de residência aos pais do mestre “migança”, nome do pintor em minderico. Foi inaugurado em 1970 e fechou uma década depois. Seis anos depois, em 1986, foi fundado o CAORG, associação que deu o mote para a criação do Museu de Aguarela. Um trabalho de 23 anos que hoje muito orgulha os cidadãos de Minde, apelidados por Maria Roque Gameiro como “bons embaixadores” do museu. Através da persistência dos familiares, seguidores da obra de Roque Gameiro, e do envolvimento de toda a comunidade minderica no processo foi possível a criação do “Novo Museu”, na “Casa dos Açores”, adquirida em 2001 pela Câmara de Alcanena. O espaço já estava ligado à família de Alfredo Roque Gameiro e havia sido desenhado pelo pintor em colaboração com Raul Lino, seu grande amigo. “Honra teus avós”, lema do mestre que se pode ler à entrada do museu, é uma frase reveladora das convicções e da ligação às raízes de Roque Gameiro. Uma máxima que aliás já se encontrava afixada na sua casa da Amadora e posteriormente na porta do atelier em Campolide. O museu é visitado principalmente por grupos de pessoas ligadas às artes que chegam de todos os pontos do país. As escolas também são presença assídua, mas “as redondezas conhecem menos do que os de fora”, confessa a museóloga. “Há uma falta de sensibilidade do povo português para determinados aspectos ligados à cultura”, justifica. Com uma vasta oferta cultural, o Museu de Aguarela Roque Gameiro apresenta todos os meses um conjunto de actividades para miúdos e graúdos, que vai desde workshops, até espectáculos de música, dança, entre outros. “O museu também é uma escola para formar públicos conscientes”, considera Maria Alzira Roque Gameiro. O museu, e especialmente o Museu de Aguarela, “não é só quadros na parede, é aquilo que o faz viver, que o anima”. Palavras da museóloga, que estima e se emociona ao falar desta jóia que alberga a riqueza de um pintor cuja obra será sempre actual.“A moda aos olhos de Roque Gameiro” em exposição Em exposição, até 31 de Agosto, estão presentes ao longo das salas do museu um conjunto de aguarelas de Roque Gameiro, sob o mote “A moda aos olhos de Roque Gameiro”. A beleza, a vida e a evolução dos trajes até 1935 são retratados com o traço minucioso característico de Alfredo Roque Gameiro e podem ser observados ao longo desta mostra. O pormenor espanta quem olha para cada obra, pelo seu enquadramento fotográfico da realidade que rodeava o mestre. As figuras femininas, tanto em ambiente urbano como em ambiente rural, são apresentadas com detalhe. Cada obra exibe a respectiva legenda, onde nunca é esquecida a tradução em minderico, variante linguística falada em Minde desde o século XVIII. As exposições apresentam a rotatividade de 4 meses e as aguarelas e desenhos escolhidos são seleccionados com base num tema pré-definido. Numa das salas o auto-retrato de Roque Gameiro destaca-se, frente a frente com o retrato da autoria de Abel Manta, o único óleo em exposição no museu, os quais ladeiam o olhar translúcido de “A Mãe”, obra de Roque Gameiro premiada em 1910 com a Medalha de Ouro na Exposição no Salon de Paris. O museu está aberto de terça-feira a domingo, das 10h00 às 16h00 no horário de Inverno e das 10h00 às 18h00 no horário de Verão. As visitas de grupos requerem marcação prévia e todas as visitas, sejam individuais ou em grupo, são guiadas de hora a hora. Cada entrada tem o custo de 3 euros. Herity certifica Museu de Aguarela Roque Gameiro O Museu de Aguarela Roque Gameiro é um dos 22 lugares de cultura que farão parte de uma rede mundial de mais de duas centenas de bens culturais certificados pela entidade internacional Herity, organização mundial reconhecida pela UNESCO para a avaliação e certificação da qualidade na gestão do património cultural. O Médio Tejo é assim uma das três regiões do mundo, onde estão integradas Lazio e o norte do Brasil, a serem reconhecidas pela Herity.
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