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Um encarregado que gosta de andar sempre na frente de trabalho

Um encarregado que gosta de andar sempre na frente de trabalho

João Manuel Simão é encarregado de máquinas na firma Ventura Simões

As máquinas de construção são uma paixão antiga de João Manuel Simão, que não perde uma oportunidade de as operar na frente de trabalho. Começou a trabalhar aos 12 anos para comprar uma bicicleta e nunca mais parou. Garante que a crise se ultrapassa com luta e persistência.

Filipe MatiasA crise ultrapassa-se não dando saltos maiores que as pernas e lutando todos os dias com persistência e dedicação para ultrapassar as adversidades. A opinião é de João Manuel da Silva Simão, 36 anos, encarregado de máquinas da firma Ventura Simões, de Vila Franca de Xira.O seu trabalho é gerir e coordenar o trabalho das cinco máquinas pesadas de obra que a firma tem, mas como é apaixonado pelos veículos não perde uma oportunidade para as conduzir na frente de trabalho, ao lado dos operários. O seu trabalho consiste na realização de terraplanagens, movimentos de terras, desmatações, limpeza de terrenos, abertura e limpeza de valas, desaterros e demolições. João Simão nasceu na Chamusca e frequentou a escola primária até à terceira classe no Chouto. Mais tarde, quando os pais se mudaram para a Ericeira, João acompanhou-os. Foi à beira-mar que completou a quarta classe. “Como era um bocado rebelde na escola, aos 12 anos, quis logo ir trabalhar, estava cheio de pressa. Entrei numa fábrica de loiças e o meu primeiro emprego foi a pintar loiças decorativas”, recorda. O trabalho era cansativo e pintar um só prato chegava a demorar mais de três horas. No seu primeiro dia encheu formas de gesso que, depois de cozido e laminado, dava origem às peças que eram pintadas. “Tínhamos uns socalcos de plástico que sobrepúnhamos nos pratos para pintarmos”, explica. Uma camada de verniz rematava o trabalho. O primeiro dinheiro que ganhou na pintura de pratos gastou numa bicicleta. Hoje diz que é uma pessoa mais poupada. “Sempre tive o gosto pelas máquinas, desde criança, e quando surgiu a oportunidade de entrar neste ramo aproveitei”, nota. Regressou ao Ribatejo e estabeleceu-se em Vila Franca de Xira. Com o tempo foi aprendendo a conduzir retroescavadoras, tractores de rastos, niveladoras e giratórias. “Um dia de trabalho normal consiste em chegar à empresa quando são 06h45, organizar a saída do pessoal e trabalhar junto dos restantes operários. Por norma estou sempre na frente de trabalho também, é lá que gosto de estar”, confessa. O responsável diz que não tem obras complicadas mas sim exigentes. Cada tarefa pode parecer simples mas requer um planeamento cuidado. “Por exemplo, na lezíria a abertura de valas para o regadio do arroz e a sua limpeza têm de ser feitas de forma correcta, para não haver deslizamento de barreiras. Com máquinas tem de haver sempre o maior cuidado”, alerta. João Simão aprendeu com a vida de trabalho que os riscos pagam-se caro. Há uma década, em Angola, na pressa de tirar a maior quantidade possível de areia de um rio acabou por levar uma máquina para uma zona lodosa que começou a abater. “Foi o maior susto que apanhei. Arrisquei um pouco e a máquina começou a afundar. Não ficou toda debaixo de água porque não calhou. Só com a ajuda de outras máquinas a conseguimos retirar. Mas ficou a lição. Hoje prezamos a segurança acima de tudo”, recorda.Apesar de os dias serem de crise, João Simão diz que ainda há trabalho na área, desde que os profissionais sejam trabalhadores, sérios e competentes. “Felizmente vamos mantendo o mesmo ritmo e trabalhamos com clientes muito bons, o que nos facilita a vida. Infelizmente ainda vamos sendo enganados por pessoas de fora”, lamenta. Em Dezembro a empresa aceitou uma sub-contratação para fazer um trabalho na Cimpor de Alhandra. João Simão alocou uma máquina para extrair cimento para barcaças que trabalhou um mês seguido durante 24 horas por dia. “Só parávamos para a manutenção e combustível. No fim não recebemos o dinheiro e tivemos de assumir todas as despesas. Essas situações dão um abalo muito grande”, lamenta.O elevado preço do gasóleo e a carga fiscal são apontados como os grandes problemas do negócio. Apesar disso João Simão diz que o futuro passa por lutar e andar com a empresa para a frente. “Só os fracos desistem. Lutaremos com força, persistência e muita luta. Isso consegue-se mas não é fácil. Há muitos fins-de-semana passados aqui na empresa a tentar adiantar as coisas”, conta.
Um encarregado que gosta de andar sempre na frente de trabalho

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