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"Quando gostamos do que fazemos até trabalhamos de sol a sol"

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Lúcio Perinhas Batista fugia da escola para agarrar o sonho de ser campino

Aos 58 anos o campino de Samora Correia é homenageado na 81.º edição do Colete Encarnado de Vila Franca de Xira

Não sabe ler nem escrever porque no tempo em que devia estar na escola fugia para o campo perseguindo o sonho de ser campino. Lúcio Perinhas Batista, 58 anos, não se arrepende da escolha de vida que fez porque o que mais conta na vida é a felicidade e essa conseguiu-a quando aos 14 anos entrou para os quadros da Casa Prudêncio onde ainda continua. O campino de Samora Correia é o homenageado este ano nas festas do Colete Encarnado. Chega a trabalhar de sol a sol mas não se importa porque para a paixão pelo que se faz não há horários. Um burrico foi a sua primeira montada e na qual tentou começar a apartar gado e a conduzi-lo com os campinos. O responsável da Casa Prudêncio gostou da atitude do miúdo e acolheu-o. Lúcio Batista é oriundo de uma família de nove irmãos e foi o único a enveredar por esta profissão talvez pelo exemplo do pai que foi guarda da Companhia das Lezírias. O seu cavalo de eleição chamava-se “Maravilhas” e durante duas décadas passou com ele grandes momentos de alegria mas também algumas desventuras. Ainda não tinha 30 anos quando um toiro lhe ia ceifando a vida. Foi colhido quando o animal fugiu dos curros. “Fui todo cosido no Hospital de Vila Franca de Xira mas ainda tive forças e orgulho, embora cheio de dores, para montar o ‘Maravilhas’ e ajudar a enjaular o toiro. Cortei uma vedação num canto junto a uma tapada e consegui trazer o toiro por aí ao engano com a ajuda dos outros campinos”, recorda Lúcio Batista. Diz que o Maravilhas foi um cavalo destemido à sua imagem. Não tem medo da morte e diz que ela é apenas uma fase da vida. “Quando morrer, morri”. Morte mesmo é deixar de ser campino. De muitas feiras e festas percorridas na região, um dos episódios foi passado na Feira de Maio de Azambuja, onde se lançou a galope atrás de um cabresto tresmalhado que fugira para a estrada. Numa montada que agarrava bem ao alcatrão lá conseguiu levar de volta o cabresto para a manga da feira. A exigência de se levantar às quatro da manhã para trabalhar e participar em vários dias nas corridas e entradas das feiras chegou a levá-lo a pensar que o corpo não ia aguentar. Mas não há nada que um sonho não consiga ultrapassar e as dificuldades eram compensadas pelos momentos de camaradagem e convívio com os colegas. Bebia-se um copito, conversava-se, contavam-se aventuras e voltava à campinagem ainda com mais força. O campino tem uma filha. Actualmente, diz-se “solteiro e bom rapaz”. Se tivesse tido um filho aconselhava-lhe a vida de campino. Reconhece que é dura mas eternamente bonita. Quanto a mulheres na campinagem, porque não? “Já andam muitas a cavalo e nas picarias, por isso não será de estranhar que um dia tal possa acontecer”.
"Quando gostamos do que fazemos até trabalhamos de sol a sol"

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