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Ruben Santos

Ruben Santos

Músico, 33 anos, Benavente

“Há muita gente a dar preocupação a mais à roupa, mas penso que existem outras coisas mais importantes. É preciso ter algum cuidado, mas não pode comandar as nossas vidas”* * *“Toda a gente se queixa dos políticos, mas penso que 90 por cento dos portugueses, se estivessem no mesmo lugar, fariam exactamente a mesma coisa. Tento viver dentro das minhas possibilidades, nos tempos que correm mais vale um passo de cada vez”

Ser músico ainda é uma profissão?É cada vez mais difícil viver da música. Sou músico freelancer e tenho depois uma loja e escola de música com o meu irmão. Tenho uma banda de rockabilly, os The Wine-a-billy Rollers e temos andado a tocar aqui na região. Uma das nossas lutas é pelo menos não perdermos dinheiro. O mercado está mal porque muitas bandas tocam por umas cervejas em troca e isto prejudica os profissionais. Os estabelecimentos preocupam-se mais em chegar ao final do dia com dinheiro do que com a qualidade da música. Se contratarem uma banda jovem, sabem que os amigos vão todos atrás. Os portugueses estão educados para a música?De modo nenhum, basta estar atento ao que mais vende e nos entra pela casa adentro através da televisão. Já nem sei classificar a música pimba, acho que se tornou vergonhoso tal é o mau gosto. Se não fosse músico, que outra profissão gostaria de ter?Talvez cozinheiro. Gosto de seguir algumas receitas, mas não à risca. Vou improvisando e por acaso tenho algum sucesso. Ninguém se queixa (risos). Um dos chefs que mais aprecio é o Tiago Candeias. Vale ainda a pena tirar um curso universitário?Não deixa de ser uma mais-valia, mas já não é sinónimo de emprego. Também é bom para quem pensa emigrar porque lá fora dá-se muito mais valor do que em Portugal. Qual foi o último concerto a que assistiu?Como costumo tocar, acabo por ir mais a um concerto para trabalhar. O último concerto a que assisti foi de Brian Setzer e B.B. King. Já assisti a concertos memoráveis de AC/DC e de Eric Clapton. Somos um povo que não se sabe governar a si próprio?Basta olhar para a imagem actual de Portugal e acho que nos reflecte por inteiro. De quem é a culpa?É do nosso ADN. Todos temos boas intenções, mas se eu puder ganhar 500 não vou ganhar 50. É assim que eu vejo os portugueses. Toda a gente se queixa dos políticos, mas penso que 90 por cento dos portugueses, se estivessem no mesmo lugar, fariam exactamente a mesma coisa. Tento viver dentro das minhas possibilidades, nos tempos que correm mais vale um passo de cada vez. Preocupa-se com a roupa que veste?No dia-a-dia visto-me descontraidamente. Se for tocar já tenho de ter alguma preocupação com a roupa até porque é uma banda de rockabilly e vestimos sempre algo dos anos 50. Há muita gente a dar preocupação a mais à roupa, mas penso que existem outras coisas mais importantes. É preciso ter algum cuidado, mas não pode comandar as nossas vidas. Nunca pensou trocar o carro pela bicicleta?Já ando muito a pé (risos). Fazia-me bem realmente para perder uns quilos. Sempre que vou abastecer o carro sinto bem na carteira. Mas viver sem carro seria impossível, até por causa da profissão de músico. Já pensou em tornar-se vegetariano?Está fora de questão. É um dos poucos prazeres que ainda vou tendo. Gosto muito de comer bem, de um bom cozido à portuguesa. Prefere como petisco caracóis ou amêijoa?Sem dúvida caracóis. É um bom petisco e confesso que em casa também sei tratar deles. Imagina a sua vida sem telemóvel?É impensável. Neste momento até serve para estar ligado à internet. Mas quando vou de férias, o telemóvel fica em casa. Veio melhorar a nossa vida, mas também é preciso algum equilíbrio. Lembra-se da última vez em que escreveu uma carta à mão?Sinceramente não me consigo lembrar. Hoje em dia utiliza-se o email. Mas ainda conheço a minha letra para tomar uns apontamentos, apesar de cada vez ser pior. Benavente pode chegar a cidade?Há perto de três anos que vim para cá e adoro esta terra, as pessoas, as tradições, a pacatez das pessoas. Sinto-me em casa e gosto da vila assim.
Ruben Santos

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