uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Endiabrado Manuel Serra d’Aire

As notícias de que a Câmara de Torres Novas se encontra falida são manifestamente exageradas. Só assim se pode explicar que a autarquia tenha decidido gastar quase 13 mil euros na publicação de um livro. Trata-se de uma tórrida história de amor, neste caso do actual presidente da câmara, António Rodrigues, por ele próprio. A trama, recheada de cenários de betão, palmeiras e rotundas chama-se “20 Anos de Obras Municipais” e promete ser um best-seller em Timor e Cabo Verde, onde o autarca tem legiões de fãs. A mesma autarquia que não teve dinheiro para pagar dez mil euros à vencedora do concurso “Maria Lamas”, a investigadora Inês Brasão, que escreveu uma tese de doutoramento de sociologia sobre as criadas de servir em Portugal nos tempos da outra senhora, optou por financiar um projecto mais contemporâneo mas, penso eu, muito menos interessante e arrojado. Todos sabemos como o universo literário está pejado de histórias de acção onde as criadas são para quase todo o serviço. Ao invés, vamos ter um livro que será certamente muito do agrado de Rodrigues e dos apreciadores do seu bigode, mas pouco mais. Dá ideia que o autarca tem receio de se ir embora sem que as pessoas dêem pelas obras feitas e por isso teve de lhes fazer um desenho. Neste caso, um livro.O ainda presidente da Câmara de Almeirim, José Sousa Gomes, também não cessa de me surpreender. Depois de ter estado conotado com os movimentos independentes MODA (que parece ter saído de cena) e MICA, agora dá o nome a um movimento chamado “Zé Gomes” que, para já, é, em termos de designação, o mais original dos vários movimentos independentes que por aí andam, tendo um nome que faz lembrar uma receita de bacalhau. O que só por si já pode atrair muitos votantes. Mas a cena não se fica por aí. O movimento Zé Gomes tem como líder uma mulher chamada Rosa que é há muito tempo a chefe de gabinete do dito Zé, sendo que o dito Zé, como não se pode recandidatar a presidente, poderá ir em número dois da lista. Sim porque a abençoada lei da limitação dos mandatos não impede um presidente com três ou mais mandatos de se candidatar, desde que não vá em primeiro da lista. Tal como nada impede que depois, caso seja eleito na lista ganhadora, não seja na prática quem manda na autarquia, mesmo que seja uma espécie de testa de ferro a auferir o salário do cargo.É por estas e por outras que não concordo com o encenador de Vila Franca de Xira que disse a O MIRANTE que o teatro está a ser muito maltratado pelos políticos. Essa é uma conclusão muito precipitada e que denota alguma inveja por, provavelmente, Pedro Cera não poder contar nas suas peças com actores do calibre de alguns dos nossos políticos. Se há gente que tem divulgado o teatro, disponibilizando voluntariamente o seu talento e arte é precisamente a classe política. Cenas como as que se têm verificado em Almeirim ou no Cartaxo só estão ao alcance de quem tem amor pela representação. E o resto é conversa!Respeitosos cumprimentos do Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...