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O forcado a quem chamavam “Timpanas” também foi futebolista e bombeiro

José Carlos Hipólito ganhou alcunha por andar sempre a cantarolar um fado da Amália
Os versos da última quadra do fado “O Timpanas”, que fez sucesso cantado pela fadista Amália Rodrigues podiam ter sido escritos por José Carlos Hipólito. Agora com 87 anos de idade, o antigo forcado conta que a alcunha que ainda hoje usa como nome de guerra, lhe foi posta por andar sempre a cantarolar aquela cantiga “Já andei por tanta espera / Já levei tanto boléu / Já conheço tantos bois / Que lhes tiro o chapéu”. E com indisfarçável orgulho conta que dedicou uma das suas pegas à diva do fado, num dia em que ela estava nas bancadas do Campo Pequeno a assistir à tourada. “Ela mandou-me uma fotografia autografada mas infelizmente não sei o que foi feito dessa recordação”, refere.Entrar na casa de José Carlos Hipólito é como entrar num museu dedicado à festa brava. Pelas paredes estão várias molduras com fotografias de actuações suas. E não falta o traje que envergava. Numa das paredes está um grande azulejo com uma imagem da última corrida que fez em 1973. No centro da sala destaca-se a cabeça de um toiro embalsamado. Apesar da memória já não ser tão boa como antigamente, Timpanas recorda-se bem da pega que fez com esse toiro na praça de Vila Franca de Xira. No final quis ficar com uma recordação dessa pega e foi o próprio quem trouxe a cabeça do animal, embrulhado em sacas, dentro do autocarro, para casa. “Tive sorte porque o revisor não se importou. Fui para o banco de trás da camioneta para passar despercebido mas havia sangue por todo o lado”, recorda. Ao lado da cabeça embalsamada está também o rabo do toiro que pegou nessa tarde, já lá vão muitos anos.Apesar dos anos que já passaram, são muitos aqueles que ainda se lembram das pegas do forcado Timpanas, não só em Salvaterra de Magos mas em todo o lado onde há aficionados. A sua fama e valentia chegaram longe. Em Macau e no Coliseu de Roma [Itália] ficou conhecido por fazer pegas de costas, com os cornos dos toiros em pontas. As mazelas são mais que muitas. A filha, Julieta Hipólito, diz que algumas antigas lesões ainda hoje lhe causam sofrimento. Timpanas foi sempre ‘forcado da cara’. Acredita que a explicação para o seu sucesso foi o facto de ser baixo e magro. “Quanto mais leve é o forcado menos o toiro sente o peso e dá menos ‘derrotes’ (safanões com a cabeça). Por isso é que eu ficava sempre na cara”, conta com um sorriso bem-disposto. Garante que nunca teve medo dos toiros. O que lhe metia mesmo respeito eram os espectadores que enchiam as praças. José Carlos Hipólito, o Timpanas, nasceu a 15 de Abril de 1926, trabalhou no campo com o pai, a guardar gado, antes de enveredar pela profissão de soldador que exerceu durante 46 anos. Começou a pegar toiros no grupo de forcados de Salvaterra de Magos, tendo passado pelos grupos de Tomar, Coruche e Profissionais de Lisboa. Além de forcado, também foi bombeiros, mais de quatro décadas. Na juventude chegou a jogar futebol no Grupo Desportivo Salvaterrense. Veste de preto, em memória da esposa que faleceu há quatro anos e com quem começou a namorar na adolescência. De vez em quando ainda vai às touradas mas quando deixou de pegar custava-lhe ir. É contra a compra de toiros bravos espanhóis e diz que quem não gosta de touradas devia respeitar quem gosta.

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