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Tragédia

A tragédia que vivemos está magnificamente retratada por Rolf Dobelli em a Arte de Pensar com Clareza, Ed. Circulo de Leitores (jul 2013).A história reflete sobre a boa pastagem comunitária onde todos os vizinhos levam as suas vacas a pastar. O problema surge quando cada um pensa em maximizar os seus ganhos e a pastagem fica pequena para o número de vacas que vai aumentando. Segundo Rolf Dobelli, esta é a “tragédia da pastagem comunitária”, o verdadeiro lugar-comum do conflito entre o interesse individual e o coletivo. Quase todos esperamos que este conflito se consiga resolver por meio da educação, do esclarecimento, das campanhas, etc., numa palavra, pelo “apelo à consciência social”. Infelizmente, não é assim.O final da história já todos o sabemos, e vivemo-lo; isto não se resolve com “falas mansas”, a solução do problema só tem duas vias: privatização ou gestão/regulação do Estado. Ou se põe a pastagem na mão de privados ou na regulação do Estado. Não temos alternativa. Ou alguém acredita que a consciência social coletiva dá para mais? Regulação significa regras de acesso como taxas, escalas de utilização, ou ainda pela cor dos olhos do agricultor ou da vaca, como escreve com ironia o autor. A privatização parece ser uma boa solução, mas também sabemos no que pode dar a “mão invisível do mercado”.Segue-se então a natural questão: porque nos deixámos tolher por duas alternativas tão problemáticas?São duas as causas, a História da Humanidade convenceu-nos que os recursos são ilimitados, e os ecossistemas humanos (cidades) cresceram de tal maneira que deixámos de conhecer o nosso vizinho e, por isso, perdemos a vergonha social, vivemos no safe-se quem puder. A conclusão desta realidade é a “tragédia da pastagem comunitária”: tudo aquilo em que a utilização é individual e os custos são comunitários (contaminação da água, emissão de CO2, desflorestação, deficit da CP, etc., os exemplos estão à nossa volta em abundância).Chegados aqui, é fácil prever que vamos ser cada vez mais confrontados com este dilema. Na verdade, as politicas que se baseiam na boa vontade da ínfima minoria são ingénuas e não conduzem a lado nenhum, a não ser ao agravar do problema. Isto é, segundo Rolf Dobelli, “não podemos contar com o sentido ético das pessoas”.Como disse Upton Sinclair “é difícil fazer compreender alguma coisa a uma pessoa cujos rendimentos provêm do fato de não compreender essa coisa”.Só temos mesmo duas soluções: mercado ou estado. O sucesso da decisão está em saber o que pode ser privatizado e o que tem de ser gerido.Isto é, as PPP só podiam dar no que deram. É fundamental que governantes e governados compreendam o básico, de vez, sob pena de se cometerem novos erros que nos saem muito caros.Queremos continuar na ilusão da Alice no país das maravilhas, ou assumimos a verdade de vez?Carlos A Cupeto Professor na Universidade de Évora cupeto@uevora.pt

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