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“Os enterros de crianças e amigos são os mais difíceis de fazer”

“Os enterros de crianças e amigos são os mais difíceis de fazer”

Manuel Gardão e Olga Rosa abriram a empresa Scalcovas há cerca de dois anos em Vale Figueira

O empresário trabalhou no campo e na construção civil mas acabou por seguir a profissão do pai e do sogro: coveiro. Diz que é um trabalho duro e que não existem horários pré-estabelecidos, mas alguém tem que o fazer. Há dois anos, Manuel Gardão e a esposa, Olga Rosa, criaram a Scalcovas, que faz a manutenção de cemitérios e também é a responsável pelos enterros. Dizem que a empresa por conta própria foi uma aposta ganha e trabalho não lhes falta.

Em criança era habitual Manuel Gardão brincar no cemitério onde o pai era coveiro. Não tinha qualquer problema em mexer nas ossadas. O problema era quando aparecia um carro funerário. Manuel Gardão escondia-se atrás das oliveiras e só voltava a aparecer quando o carro desaparecia de vista. Natural de Vale Figueira (concelho de Santarém) Manuel Gardão nunca pensou que anos mais tarde viesse a ter a mesma profissão do pai e também do sogro.Pouco depois de completar a quarta classe começou a trabalhar para ajudar os pais. Trabalhou na construção civil, foi caseiro e guardou gado. Mais tarde tirou um curso de coveiro e arranjou emprego na Junta de Freguesia de Pernes. No entanto, percebeu que para poder dar uma vida estável à sua família tinha que ir mais além e para isso tinha que trabalhar por conta própria. Há cerca de dois anos criou a Scalcovas em parceria com a esposa, Olga Rosa.Na Scalcovas garantem a limpeza e manutenção do espaço e fazem o enterro nos cemitérios pelos quais estão responsáveis. Têm sob a sua alçada mais de duas dezenas de cemitérios divididos pelos concelhos de Santarém, Alcanena, Rio Maior e Torres Novas. Depois de tirar a carta de condução, há três anos, o negócio começou a expandir-se. Antes disso, trabalhava apenas na sua motorizada com um pequeno atrelado.Manuel Gardão lamenta que existam poucas pessoas interessadas neste tipo de trabalho. O empresário, melhor que ninguém, sabe que não é uma profissão fácil. “Há uns tempos tive cá um rapaz que só aguentou uma semana”, conta. Nestas profissões não existe um horário pré-definido. “Se aparece um funeral às seis da tarde não posso dizer que não trabalho, tenho que ir”, afirma.Se ao início não queria que os seus filhos seguissem a actividade profissional por ser muito duro, agora espera que eles dêem continuidade ao negócio. O filho mais velho já trabalha com os pais. Manuel Gardão e Olga Rosa consideram que este trabalho também é complicado a nível emocional. Quando é o enterro de alguém conhecido evitam chegar perto dos familiares para não perderem o controlo emocional. “Temos que ser profissionais”, realçam.O empresário recorda o dia em que teve que fazer o funeral de um jovem bombeiro da corporação de Pernes, de quem era amigo assim como de toda a família. “Na altura do enterro caí e parti um pé por causa dos nervos. Foi um trabalho muito difícil”, recorda. Os funerais mais difíceis são também os de crianças. Manuel Gardão lembra o enterro de uma menina de dez anos, que morreu repentinamente, com uma embolia cerebral. “Tinha estado a conversar com o pai antes de ele regressar a casa e descobrir que a filha tinha morrido. Foi um enorme funeral com muitos motards”, diz.Em média fazem 35 enterros por mês. Felizmente o negócio vai de vento em popa. Manuel Gardão não se arrepende de ter arriscado abrir a sua própria empresa. Se tudo correr como previsto, no final do ano vão ficar responsáveis por mais alguns cemitérios da região. O empresário de Vale Figueira lamenta apenas que não haja um crematório na região porque o pedido de cremações tem vindo a aumentar nos últimos tempos.
“Os enterros de crianças e amigos são os mais difíceis de fazer”

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