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Transportes e Ambiente

O modelo de desenvolvimento em que temos participado, ao longo dos últimos anos, resulta num constante aumento do número de pessoas com viatura própria. O automóvel transformou-se no objeto de desejo capaz de satisfazer grandes aspirações. Isto é consequência, não só da melhoria das possibilidades económicas (que muitas vezes não se verifica, sendo esse um outro problema de ordem social: o endividamento das famílias), mas também da necessidade de independência de horários em relação aos transportes públicos, na maioria das vezes, insuficientes e desadequados da realidade social. Resulta também da emancipação social das mulheres, que se traduz no emprego, no leva e traz dos filhos para infantários, colégios, escolas, atividades físicas ou lúdicas.Atualmente, muitos dos agregados familiares possuem mais do que uma viatura própria: umas vezes por absoluta necessidade, tal a independência de vidas profissionais, outras nem tanto. Identifica-se, cada vez mais, o automóvel com liberdade e o esforço de “ganhar tempo”, que raramente se traduz em “tempo livre”.As consequências deste desenvolvimento não sustentado são inúmeras, a vários níveis, afetando a qualidade de vida. Interessa aqui considerar as consequências ambientais, na sua totalidade (?) negativas: ruído, diminuição da qualidade do ar, consumo de combustíveis fósseis (com as consequentes crises financeiras que afetam o mundo inteiro), sacrifícios de zonas não urbanizadas para construção de redes viárias, afetando espécies vegetais e animais, paisagem e solos. Em oposição, o “marketing verde” tenta convencer-nos que a evolução tecnológica se traduz na minimização de repercussões a nível ambiental, como a construção de veículos energeticamente mais eficientes. O consumo energético, por unidade pode diminuir, mas continua a aumentar o número de unidades numa proporção muito maior, não se podendo contar sequer com uma estabilização da situação já que continuaria a não ser viável uma vez que os recursos são limitados. Torna-se evidente que a solução é só uma: reduzir a utilização do automóvel. Como? Há que adotar dois tipos de comportamento:Redução das necessidades de deslocação (tanto em número como em distância);Promover alternativas (caminhar, bicicleta, transportes públicos) e criar infra-estruturas que as suportem. A política a adotar deverá: recuperar a cidade; favorecer a proximidade entre o lugar de residência e o trabalho; revitalizar o desenvolvimento comercial nos bairros, de modo a gerar emprego próximo do local de residência; impulsionar os meios de transporte alternativos. Estas opções assentam em políticas de atuação coerentes, claras e bem estruturadas. Como se imagina, nada disto é fácil de implementar, nomeadamente devido à já referida distribuição espacial e social das áreas metropolitanas, da inércia dos hábitos de vida e sobretudo dos interesses instalados.Sabemos a receita, falta aplicá-la.Carlos Alberto CupetoProfessor na Universidade de Évora, cupeto@uevora.pt

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