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Uma crónica roubada

Comentário
O festival do Sudoeste na Zambujeira do Mar completou 17 edições. Abanquei lá pela primeira vez e cheguei quatro dias antes de começar a festa. Foi a minha estreia absoluta em festivais deste género. Tenho 22 anos e acabei de me licenciar em psicologia. Levei para o local uma tenda para duas pessoas mas viajei sem companhia. Doze dias passados estou de regresso a casa. Finalmente simpatizo com a música reggae; pela primeira vez na minha vida dancei cinco horas seguidas sempre a bombar ao som dos djs famosos que me encantaram com a magia do seu trabalho; Já tinha ouvido falar do Bob Marley mas nunca tinha convivido de perto com os seus seguidores e adorei aquela postura peace and love (Passos Coelho aprendia mais sobre o seu país numa visita à Zambujeira que num ano de inaugurações e deslocações para a Assembleia da República.)As primeiras miúdas que me conquistaram foram todas apanhadas a mijar ao lado da minha tenda.Fui testemunha de uma visão do inferno que acho que vale a pena partilhar. Um tipo da minha idade vomitava-se todo metido numa vala e com o focinho literalmente enterrado no pó. Meti-me com os amigos que estavam ali por perto e tentei ajudar: a resposta foi que seguisse o meu caminho que ele já estava treinado no vómito de longa duração.A companheira mais gira do 3º dia bebeu à minha frente pelo gargalo da garrafa um litro de uma mistura explosiva de álcool. Fui eu, depois, que servi de assistente aos seguranças no recinto e paguei do meu bolso a água e o açúcar que ela teve que beber de emergência antes de ser levada em ombros para a sua tenda ainda a festa mal tinha começado.Não tenho espaço para descrever o que aprendi com a malta da minha idade que ainda usa chucha; com aqueles que saem da praia às 3 da tarde para se prepararem para o concerto das 22 horas; com os que trocam a segurança do azeite de uma lata de sardinha ou de atum por uma maionese que os faz andar de diarreia daí a horas; com o à vontade que ganhei ao frequentar as casas de banho e ouvir o barulho dos peidos como se fossem música para os meus ouvidos; não tenho espaço para contar sobre a rapaziada que adora viver permanentemente as emoções de um big brother ao nível daquilo que é exemplo nas televisões mas em versão ainda mais dramática.Estou a pensar escrever ao Reitor da minha universidade onde vou começar o Mestrado para lhe sugerir um protocolo com as organizações dos festivais de Verão para realização de estágios profissionais. Nunca aprendi tanto em 12 dias e, modéstia à parte, até nem sou daqueles que dormiram muito no colo da mãe.Dedico esta crónica ao meu pai que tem quase 60 anos e só fala nas varizes, nas dores na coluna; na falta de vista e nos problemas com o trabalho. É um pobre diabo que não teve a sorte que merecia. Mas Deus é misericordioso; quando as pessoas começam a ficar velhas deixam de ver e sentir a miséria em que se transformam. Amén! JAE

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