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Emigrantes não confiam no sistema nacional de saúde e preferem tratar-se nos países onde trabalham

Apesar de alguns não quererem regressar nem depois de reformados dizem que não abdicam da nacionalidade

Partiram todos por questões económicas e conseguiram o que não conseguiam aqui. Ganhar mais. Uns querem regressar depois da reforma mas outros dizem que só voltam para passar férias. Todos eles elogiam os sistemas de saúde dos países onde vivem e trabalham e garantem que, mesmo que regressem a Portugal, não vão abdicar deles.

Nacionalidade francesa só serve a quem quer ser funcionário públicoCláudia Frazão, 54 anos, e Joaquim Andrade, 60 anos, de Almeirim, são emigrantes em França. Ela tinha sete anos quando foi com os pais e os três irmãos para o Sul daquele país. Ele emigrou para fugir à tropa e à guerra colonial. Conheceram-se anos mais tarde em Portugal, casaram mas continuaram a viver e a trabalhar em França. Os filhos nasceram lá e é lá que querem permanecer. Eles querem regressar depois da reforma e estão a construir uma vivenda em Fazendas de Almeirim para se instalarem nessa altura. Como estão a construir a casa em Portugal grande parte do dinheiro que recebem é aplicado numa conta de um banco português onde têm crédito. Dizem que confiam nos bancos portugueses e até hoje não tiveram razão de queixa. Sobre a crise dizem que ela está em todo o lado e dão o exemplo da filha, de 30 anos, que anda à procura de emprego há três anos. Entre o Serviço Nacional de Saúde português e o francês dizem preferir este último. Cláudia diz que, mesmo depois de voltar, se tiver algum problema mais grave de saúde irá tratar-se em França. “Em Portugal só somos bem atendidos quando são casos urgentes. De resto é tudo muito lento”, explica. Joaquim e Cláudia nunca pediram a nacionalidade francesa porque, segundo eles, essa situação só dá vantagem a quem pretende trabalhar para o Estado francês. Onde se ganha dinheiro é em França Foi no parque de estacionamento de um hipermercado em Tomar que encontrámos na segunda-feira, 19 de Agosto, Edgar Ferreira, 26 anos, originário da aldeia das Curvaceiras, freguesia de Paialvo, mas emigrado há seis anos em Paris. Carpinteiro de profissão, embarcou na aventura de trabalhar além-fronteiras em busca de um futuro melhor embora, na altura, ainda houvesse trabalho por cá. “Surgiu a oportunidade e fui experimentar. Dei-me bem, vi que o ordenado era melhor e acabei por ficar”, recorda. É em França que acaba por aplicar o dinheiro que ganha embora continue a trabalhar com um banco português. Nos dias de hoje não dá para investir aqui. O que ganho é para pagar as minhas contas, os impostos e poupar algum”, refere, acrescentando que, em termos de segurança, ainda acredita que o sistema bancário português é seguro. Em relação ao sistema de saúde já tem uma perspectiva diferente, considerando que no país onde está emigrado, o sistema funciona melhor “porque o atendimento é rápido” e, se a pessoa pagar os impostos, o valor despendido é reembolsado. Edgar Ferreira atenta que para conseguir visitar a família duas vezes por ano, três semanas em Agosto e duas semanas no Natal, tem que fazer em França uma árdua vida trabalho-casa, caso contrário, não compensa. Optou por manter a nacionalidade portuguesa mas diz que se entretanto, casar e tiver filhos vai certificar-se que os mesmos tenham dupla nacionalidade e que sejam bilingues. Afirma que quer continuar em França até à reforma. Nessa altura pretende regressar à sua aldeia e desfrutar do que Portugal tem de melhor, que é o sol e as praias. Quero viver na Suíça até morrer mas manterei a nacionalidadeJosé António Gomes, de 55 anos, estava desempregado há três anos quando, em Abril de 2012, decidiu emigrar para a Suíça, país onde já tinha trabalhado alguns anos. Residente na Charneca da Peralva, na freguesia de Paialvo, Tomar, é actualmente técnico de manutenção de um hotel de cinco estrelas em Neuchâtel. “A todas as entrevistas de emprego a que ia em Portugal diziam-me que, com a idade que tinha, estava bom era para a reforma. Na Suíça, arranjei trabalho logo na primeira entrevista porque a principal mais valia neste país é a experiência profissional e essa eu tinha-a de sobra”, refere. Alguns meses mais tarde, a esposa foi ao seu encontro conseguindo o casal gerir as despesas no país para onde emigrou e ainda sustentar os compromissos que têm em Portugal. José António Gomes refere que, como muita gente sabe, a Suíça é conhecida como um dos países mais seguros para se ter dinheiro e descarta a hipótese de investir no nosso país. “Em Portugal acho que não volto a fazer investimentos, a não ser que seja em melhoramentos do património que tenho. Estou muito desiludido com os políticos portugueses”, sustenta. Satisfeito com a experiência, refere que, se puder, quando se reformar continuará a viver na Suíça porque “é o país do mundo onde há mais justiça social”. Prefere igualmente o sistema de saúde suíço. “Em Portugal quem não tiver um seguro de saúde privado está feito ao bife”, desabafa. Apesar de tudo vai manter a nacionalidade portuguesa. “Eu e a minha esposa vivemos na Suíça, temos um filho que vive e trabalha em Lyon, França, e outro que está em Portugal. Todos temos nacionalidade portuguesa”, salienta.Portugal deixou de ser um país seguro e o meu pouco dinheiro vai para bancos suíçosLuís Santos tem apenas 21 anos mas estava farto de não ter oportunidades de trabalho em Portugal. Morava na Póvoa de Santa Iria e há oito meses resolveu emigrar para Lausanne, na Suíça. Depois de ter tirado um curso intensivo de francês conseguiu arranjar emprego num mês. Trabalha com ferro num armazém. Começou por viver com uma tia e primos mas agora já tem um quarto sozinho. “Os primeiros tempos são difíceis. Não sabia falar a língua, não estava habituado à cultura e todos os meus amigos e família estão aqui”, afirma o povoense. Apesar das saudades Luís Santos está decidido a manter-se lá por “muitos anos” e só quer voltar à pátria de férias ou para resolver assuntos pessoais.É muito novo para falar em reforma mas confessa que se ficar lá até à velhice, ou se constituir família, não encontra razão para voltar. Para um jovem da sua idade, que gosta de sair e de passear, não é fácil poupar dinheiro porque o custo de vida na Suíça é elevado e por mais que gostasse, não pensa investir tão cedo em Portugal. Um dos seus objectivos é ter um contrato de trabalho efectivo e com isso obter o Permit C, o mais próximo da nacionalidade suíça e que é válido para sempre. Diz que o nosso país deixou de ser um país seguro e por isso prefere guardar o dinheiro nos bancos suíços. Se tiver algum problema de saúde recorrerá sempre aos serviços do país onde trabalha mesmo que esteja de férias em Portugal. “Já tive más experiências em hospitais públicos de cá. Assim que chegas à Suíça, és obrigado a fazer um seguro de saúde que pagas mensalmente e que te dá acesso a todas as consultas que precisares, sem pagar mais nada”, explica.Portugal é para as férias e a França para ganhar dinheiro É no quintal da sua casa em Arneiro de Tremês, Santarém, que Joaquim Catarino, 62 anos, e Ermelinda Henriques, 58 anos, aproveitam a aragem fresca para conviverem com a família, principalmente com a filha Cristina e os três netos que vivem em Portugal. Há mais de quatro décadas emigrado em Clichy, França, Joaquim Catarino diz-se um privilegiado, porque quando foi para o país que o acolheu já tinha lá o pai e as irmãs. “Já fui para França como rei, já lá tinha a família toda”, afirma, consciente de que o amparo dos seus foi essencial para a boa adaptação ao país. Três anos depois, foi cá em Portugal, numas férias na Nazaré, que Joaquim conheceu Ermelinda e acabaram por casar em 1971. “Ela pensava que eu era rico, depois casei e levei-a logo de fugida comigo”, afirma de forma divertida. As duas filhas do casal nasceram em França, mas Joaquim e Ermelinda mantiveram a nacionalidade portuguesa. E mantêm-se portugueses de alma e coração. Joaquim já está reformado e a esposa vai reformar-se daqui a dois anos. Depois disso querem viver em Portugal. Mas não vão abdicar do sistema de saúde francês, nomeadamente “para ir fazer os exames de rotina, uma ou duas vezes por ano”.

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