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Igreja não consegue acabar com os santos revestidos de notas nas procissões

Igreja não consegue acabar com os santos revestidos de notas nas procissões

A GNR também pediu para não colocarem tanto ouro na imagem de Nossa Senhora da Glória

Em muitas aldeias o pedido do Bispo de Santarém foi escutado e a tradição das notas presas às vestes das imagens dos santos foram desaparecendo aos poucos mas noutras a tradição continua viva. É o caso da Glória do Ribatejo. Para além das notas de euro a santa também vai na procissão carregada de ouro. O pároco fala em questões culturais. O dinheiro é usado na manutenção da igreja e na ajuda aos necessitados.

Na Glória do Ribatejo, concelho de Salvaterra de Magos, a imagem de Nossa Senhora da Glória voltou a sair na procissão anual de 25 de Agosto, com dezenas de notas de euro presas ao manto e enfeitada de peças de ouro. O padre João Maria já tentou alterar aquela tradição mas sem sucesso. Militares da GNR acompanharam o cortejo em serviço de segurança. As notas foram sendo colocadas pelos fiéis nas horas que antecederam a procissão. Notas de 10, 20, 50 e algumas de 100 euros. A imagem da santa também estava adornada com cordões de ouro, brincos e pregadeiras, resultantes de dádivas ou pagamentos de promessas. Os andores do Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora de Fátima, São João Batista e de Santa Luzia, também tinham algumas notas de 5 e 10 euros pregadas, mas em muito menor quantidade. Para além das notas, os mais devotos depositavam ainda dentro da igreja algumas moedas em cada um dos cinco Santos que tinham uma pequena cesta para dádivas, ao lado.Embora a igreja católica tente erradicar a ostentação de dádivas, na Glória do Ribatejo isso parece ser missão impossível. Há oito anos na paróquia, o padre João Maria confessa que não é adepto da tradição mas não consegue erradicá-la. “Existe um pedido para não existir uma exposição do património, mas a Glória tem uma cultura muito própria e este gesto que representa o cumprimento de promessas e oferendas é importante para as pessoas”, explica. O ano passado a GNR até pediu para não haver tanto ouro exposto mas sem resultado. “Estamos aqui para servir o povo e temos de aceitar e respeitar as suas tradições”, insiste o padre.Há 37 anos que Maria de Jesus vem de Marinhais para cumprir a tradição e deixar uma nota a Nossa Senhora de Glória. “Faço-o para cumprir algumas promessas. É uma fé que tenho. Deixei dez euros porque isto está difícil, mas acho que não é por dar mais que se é atendido”, reconhece. Também Rosário Bernardino, da Glória, prega todos os anos com um alfinete uma nota ao vestido da Santa. “Pode ser para cumprir uma promessa ou então pelo simples agradecimento de o ano me ter corrido bem”. Muitas dádivas são de emigrantes em férias. Bernardino Feijão, que se encontrava a assistir à procissão, confessa que mesmo em tempos de crise não lhe causa impressão ver tantas notas. “As pessoas têm a sua fé e a vida também passa por acreditar nalguma coisa. Entregar este dinheiro à Igreja é também entregar à caridade”. Dois militares da GNR acompanharam a procissão pelas ruas da vila de modo a evitar alguma tentativa de roubo e também permanecem a vigiar a igreja enquanto decorrem as dádivas. No ano passado existiram suspeitas em relação a um grupo que apareceu na terra, mas não chegou a existir sequer uma tentativa. “Se existisse os ladrões não tinham hipótese. O povo aqui é muito unido e juntava-se todo”, conclui Bernardino Feijão. Todo o dinheiro e ouro doados revertem para a paróquia da Glória do Ribatejo. O padre João Maria revela que o ouro é um património não vendável, sendo depositado num lugar seguro. Em relação ao dinheiro é usado para as despesas anuais da paróquia e para ajudar quem mais precisa através do grupo de voluntários ligado à igreja que compõem a Conferência de São Vicente de Paulo. O padre escusa-se a revelar quais os montantes recebidos daquela forma.
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