uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

“As empresas da região a trabalhar no estrangeiro têm uma imagem de seriedade e qualidade”

Presidente da direcção da Nersant faz o balanço do processo de internacionalização

Para Maria Salomé Rafael, o balanço da internacionalização das empresas da região de Santarém é bastante positivo. A título de exemplo, a presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém refere que empresas envolvidas registaram um crescimento global no sector das exportações, na ordem dos 250 por cento. Mas a situação pode melhorar com mais apoios do governo e dos nossos diplomatas.

A Nersant definiu em 2009 a internacionalização das empresas como a sua principal prioridade para o ano seguinte. Na altura os mercados alvo eram Angola, Cabo Verde, Líbia, Moçambique, Tunísia e Roménia e de entre as acções a realizar estava a participação em feiras internacionais. Como analisa essa decisão a esta distância?A decisão tomada na altura foi a mais acertada, até porque o principal objectivo foi a definição de algumas áreas de intervenção prioritárias. Constatamos, porém, que os resultados obtidos em Angola, Moçambique e Cabo Verde se revelaram mais positivos do que os obtidos na Líbia, Tunísia e Roménia (devido à situação política e instabilidade social), o que nos levou a efectuar alguns ajustamentos.É possível dar uma ideia da actividade da Associação Empresarial neste processo? Durante os últimos anos, a Nersant organizou 22 missões empresariais, recebeu 11 delegações de empresários estrangeiros e participou em 12 feiras internacionais em Angola (FILDA e Expo-Huíla), Moçambique (FACIM) e Cabo Verde (FIC). Apoiámos ainda o Agrocluster Ribatejo através da sua participação em 5 eventos de referência do sector. O balanço destas iniciativas é claramente positivo, tendo possibilitado a identificação de várias oportunidades de negócio e possibilidades de parcerias para as empresas da Região.Quais são nesta altura os mercados mais interessantes para as empresas da região?Actualmente, os mercados de maior interesse para as empresas situam-se nos PALOP, designadamente Moçambique, Angola, Cabo Verde e Brasil, que constitui uma nova aposta, e pelo Magrebe, com maior destaque para Marrocos e Argélia. Algum que se destaque?Olhamos com especial atenção para Moçambique cuja economia manteve um desempenho robusto em 2012, com um produto interno bruto (PIB) real de 7.4%. O aumento progressivo da produção de carvão, a implementação de grandes projectos de infra-estruturas, juntamente com a expansão do crédito deverão continuar a impulsionar o crescimento para 8.5% em 2013, e 8% em 2014. É partindo desta conjuntura económica favorável que a Nersant, em parceria com a Associação Comercial da Beira, vai organizar um Encontro de Negócios, de 9 a 14 de Dezembro. Neste momento, temos mais de 20 empresas já interessadas em participar.Para muitos empresários tratou-se de avançar em terrenos completamente desconhecidos. Como avalia o percurso feito?Participaram nas acções de internacionalização promovidas pela Nersant cerca de 433 empresas da região. Para muitas delas, tratou-se da primeira abordagem a mercados externos, o que exigiu um maior esforço da Nersant na identificação dos parceiros e no estabelecimento dos contactos mais adequados aos objectivos delineados pelas empresas. Hoje, e passados três anos sobre a primeira abordagem feita a esses mercados, possuímos já um conhecimento bastante pormenorizado, fruto de inúmeras missões e das várias parcerias/protocolos estabelecidos entre a Nersant e várias entidades de relevo desses mesmos mercados. Registamos, por isso, vários casos de sucesso de empresas que têm participado nas nossas acções, e que já estão a exportar ou a investir nesses mercados. Esse sucesso pode ser quantificado?Os dados que recolhemos indicam que as empresas que participaram nas acções que realizámos em 2010 e 2011 registaram um aumento de exportações na ordem dos 250%, no seu conjunto.A Nersant leva empresários portugueses a outros países mas também traz empresários estrangeiros à região.Em 2012, e pela primeira vez, organizámos o Nersant Business, e que foi um tremendo sucesso e onde participaram 50 empresários de 6 países (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Brasil, Namíbia e África do Sul). Vamos, por isso, apostar numa nova edição, de 26 a 29 de Novembro, com mais novidades e com objectivos mais ambiciosos. Enfrentar leis proteccionistas, vencer naturais desconfianças, encontrar os melhores interlocutores e os melhores parceiros, são tarefas ciclópicas. A própria Nersant tem nesta altura um capital muito grande de conhecimentos adquiridos. Esse know-how que é reconhecido à Associação Empresarial está a ser bem aproveitado pelo nosso tecido empresarial?As empresas têm sido muito receptivas aos projectos da Nersant e reconhecem que a abordagem a um mercado externo requer um conhecimento aprofundado e um parceiro de confiança. O know-how adquirido e a forma séria com que trabalhamos confere-nos uma imagem de credibilidade junto dos mercados, dos empresários e instâncias locais, o que é muito importante para as empresas que procuram investir nesses países. Qual é o próximo projecto da Associação Empresarial nesta área?A Nersant vai continuar a apoiar as empresas que pretendam internacionalizar-se, através de um novo projecto que apresentámos e que foi aprovado, o ExportRibatejo. Estamos, neste momento, a trabalhar de forma directa e personalizada com cerca de 20 empresas da região, no sentido de as apoiar na definição do seu plano de internacionalização e dos riscos associados, de modo a que a abordagem a novos mercados seja efectuada de forma ajustada e tendo presente toda a informação relevante, não só a nível económico, mas também a nível social e cultural.Como avalia as alterações entretanto verificadas no comportamento de autoridades e empresários dos países com que as nossas empresas têm relacionamentos comerciais?As alterações que temos vindo a verificar têm sido bastante positivas para as nossas empresas. De facto, temos registado que as empresas portuguesas têm uma imagem de seriedade e de grande qualidade junto das autoridades destes países e também junto dos seus parceiros, o que muito contribui para abrir as portas a novas empresas portuguesas. A sensação que existe é a de que ao nível da internacionalização tudo tem que ser tratado com pinças e que qualquer pequeno incidente pode ter consequências muito nefastas. É assim ou esta ideia não corresponde à realidade?Naturalmente que os processos de internacionalização devem ser cuidadosamente planeados, desde logo porque representam um elevado investimento e um risco grande para as empresas. Da nossa experiência e do conhecimento que detemos dos mercados com os quais temos contactado (pelo menos com as empresas/entidades com as quais temos lidado), não temos conhecimento de incidentes com gravidade. As relações diplomáticas entre Portugal e os países africanos de expressão portuguesa são favoráveis à melhoria das relações empresariais?O investimento que tem sido feito nos últimos anos para melhorar as relações diplomáticas entre Portugal e os PALOP tem tido influência positiva nas relações empresariais. No entanto, muito ainda existe a fazer a este nível. É importante que os nossos diplomatas tenham cada vez mais consciência que possuem também uma responsabilidade económica e que funcionem como um elemento facilitador para a geração de negócios para as empresas portuguesas.O que tem sido defendido pela Nersant a nível de ajudas à internacionalização que continua por concretizar?Há muito que defendemos o reforço dos apoios à internacionalização das empresas portuguesas, principalmente nos casos em que as empresas pretendem investir nos países de destino e onde os apoios são, neste momento, praticamente inexistentes. Simultaneamente, deve continuar a trabalhar-se no sentido de reduzir ainda mais os prazos de reembolso do IVA a empresas exportadoras, que nem sempre tem funcionado devidamente. O que pode ser feito a nível diplomático para ajudar as empresas envolvidas em processos de internacionalização?Consideramos que os nossos diplomatas devem intervir mais ao nível da diplomacia económica, apoiando empresas que pretendam abordar esses mercados. O que se verifica actualmente com a nossa diplomacia é que, para além de não ser um factor facilitador se torna, algumas vezes, num obstáculo a essa mesma abordagem. É nossa percepção que a própria AICEP deveria ter um papel mais activo na identificação e divulgação de oportunidades de negócio nos mercados onde está presente, tal como a Nersant tem vindo a defender nos locais próprios há já muito tempo.A língua e a cultura têm ajudado a entrada em países de expressão portuguesa?Claramente a questão da língua e dos traços culturais têm sido bastante positivos na forma como as empresas nacionais têm sido aceites e facilmente entrado em mercados como o de Moçambique, Angola e Cabo Verde. Se compararmos o sucesso que as empresas portuguesas têm tido nestes mercados, relativamente a países vizinhos mas com traços culturais e linguísticos distintos Namíbia, Congo, Zimbabwe, Tanzânia, a diferença é considerável.Os vistos, nomeadamente os vistos de trabalho, continuam a ser uma questão muito sensível. Há alguns avanços nessa matéria, nomeadamente em relação a Angola e Moçambique?Não se têm registado avanços positivos nesta matéria, muito pelo contrário. A recente alteração no processo de obtenção de visto junto do Consulado de Moçambique transformou um processo que era relativamente simples, em algo complicado e moroso, devido aos inúmeros documentos solicitados. Esta é uma questão que deveria merecer uma atenção especial da nossa diplomacia económica.A Nersant tem tido muitas solicitações a nível de ajuda especializada no sector jurídico? Tem a capacidade de resposta ideal?A Nersant recebe frequentemente pedidos de apoio especializado na área jurídica, em especial para a constituição de empresas nos mercados de destino. Tratando-se de questões muito específicas, a Nersant tem constituído parcerias com escritórios de advogados e outros parceiros em cada um dos mercados que aborda. É para esses parceiros que encaminhamos estas questões e são eles que garantem um correcto tratamento das mesmas.Este caminho da internacionalização poderia ter começado mais cedo?Reconheço que em alguns mercados, como o Brasil e Angola, houve oportunidades que se perderam por termos chegado tarde. Julgo que a nossa diplomacia económica durante muito tempo não funcionou, as relações políticas e comerciais com alguns países africanos não foram trabalhadas e as empresas portuguesas não puderam aproveitar as oportunidades que iam surgindo nestes mercados, sendo ultrapassado por outros países, como a China.Que avaliação é que a Nersant faz do interesse de empresas estrangeiras em investimentos na região?Esta região tem características endógenas muito apelativas ao investimento estrangeiro. Refiro-me à localização, às infra-estruturas, aos parques de negócios, às condições climáticas e à qualidade dos solos, só para citar alguns exemplos. Agora, perante o interesse de investidores estrangeiros é fundamental que o governo proporcione condições atractivas e estáveis, no que concerne à fiscalidade, à burocracia e aos licenciamentos exigidos para que estes investimentos se concretizem.

Mais Notícias

    A carregar...