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Vida de Índio

Quem é que sabe que Assentiz é nome de aldeia no concelho de Torres Novas e Rio Maior? Eu soube ontem. E soube porque gosto de meter o nariz onde não sou chamado sempre que alguém faz trabalho incompleto ou de forma incompetente. Tinha acabado de perceber essa dura realidade (para os habitantes mais bairristas) de haver duas aldeias territorialmente tão perto uma da outra, consumindo uma boa parte da manhã de trabalho, e daí a uma hora estava numa cidade da área metropolitana de Lisboa a comer um “risoto de caranguejo real”. Saiu-me um prato com tanto de arroz como de cebola cozida. Como era um almoço de trabalho mamei o prato de cebola miudinha cozida como quem bebe água a ferver. Mas estava a trabalhar. Quem se ajusta a São Miguel não é dono de si quando quer. Ah grande “caranguejo real”. O que um grande nome esconde, e engana, gente provinciana como eu.Levei chauffeur para poupar o físico que os anos pesam. A meio do caminho no regresso à secretária comecei a ficar enjoado. Não tenho estilo para rico. Se for eu a conduzir vou para o fim do mundo a cantar. Se me conduzirem enjoo como quando tinha 10 anos e vomitava-me todo a caminho da Nazaré nas excursões de domingo. Há dois ditados que tenho escritos na testa que chegou a hora de partilhar: Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré. O outro é mais especial: Se perderes a cabeça… resta mais espaço para a poesia. O dia de segunda-feira desta semana começou com muita gente do outro lado a dizer “para a semana falamos”. Estamos na semana do Natal?, perguntava eu a sorrir. Não: Estamos na semana que antecede as eleições autárquicas diziam os interlocutores embora por outras palavras. É difícil trabalhar quando há festa na aldeia. Ou vamos todos para os copos ou quem não bebe tem que aturar as bebedeiras dos outros.É mais ou menos assim que me sinto nos últimos dias. Ando a aturar bebedeiras de caixão à cova. Pareço um barril de vinho azedo esquecido num canto da adega. Quem me olhar nos olhos vai achar que estou opado de tanto me meter na pinga. Não é verdade. Gosto de vinho tinto, e branco, mas só bebo para festejar a vida, ou seja, só bebo moderadamente e quando estou a léguas do trabalho o que não é muito normal.Gosto dos índios desde os tempos em que os via “morrer” nos filmes americanos da minha infância. Sempre que posso decoro um provérbio atribuído à memória dos índios guerreiros Sioux; aqui fica o último; “O progresso baseia-se mais no fracasso do que no sucesso”. Para mal dos meus pecados não li o provérbio antes de viajar para o tal almoço de trabalho. JAE

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