26º Aniversário | 20-11-2013 15:28

Uma terra em Ascensão

Na Chamusca, terra branca com vasto património arquitectónico e artístico, ligação umbilical ao Tejo e paisagens deslumbrantes, dias antes e depois da Quinta-feira de Ascensão, feriado municipal, celebra-se na rua a alegria de viver e conviver de gente orgulhosa, valente e honrada que não deixa morrer as tradições ligadas à sua identidade rural.A Semana da Ascensão é uma das maiores festas populares do Ribatejo. E tem todos os condimentos que uma festa popular e ribatejana pode ter. Fado, folclore, vinho, petiscos, reencontros, convívio, noites brancas e em branco, touradas na praça e touros na rua, alegria a rodos e alma, muita alma. Os chamusquenses podem viver sem tudo aquilo que parece essencial à vida mas não podem viver sem a Semana da Ascensão e sem a entrada de toiros da Semana da Ascensão.Quem visita a vila naquele dia pode sentir como que uma energia eléctrica a percorrer a multidão que se aglomera ao longo da Rua Direita de S. Pedro, quando os animais, enquadrados por campinos trajados a rigor e com batedores a cavalo na frente e à retaguarda, passam em correria desenfreada em direcção à praça de toiros.A entrada começa sempre duas horas ou mais depois da hora marcada. A excitação vai crescendo à medida que o tempo passa. Ouve-se um cavalo relinchar ao longe. Há um cão perdido que atravessa a estrada com a indiferença de quem já viu tudo. Alguns homens de idade vestem roupa domingueira com corte do século passado. Colete, jaqueta, chapéu de aba direita. Uma mulher tem uma papoila no cabelo. Rapazes novos atam à cabeça fitas coloridas com a frase que dá o mote ao ritual: “Estou em Ascensão”. De repente a multidão agita-se. Os de trás empurram os da frente. A estrada fica mais estreita. Afunila-se. As ferraduras dos cavalos arrancam chispas do pavimento. Agitam-se lenços e camisolas. Centenas de gargantas gritam de alegria e excitação à medida que passa o emaranhado de cavaleiros, campinos e toiros. Os mais ágeis saltam no meio da estrada como se estivessem possuídos pelo demónio. Correm para as bermas e regressam num bailado descontrolado. O percurso é feito num ápice por entre a multidão. No final da rua alguns toiros derrapam ao dar a curva para entrar na praça. Espumam pela boca. Estacam quando de repente se confrontam com o silêncio e a sombra. Os espectadores recompõem-se. Os corações baixam das 140 para as 70 pulsações por minuto. As pernas e o corpo ainda tremem e a saliva mantém o gosto acre do instinto por mais alguns minutos. Cumprido o ritual, reconfortada a alma e saciados os sentidos, partem todos à procura do almoço, em animadas conversas.

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