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Perspicaz Manuel Serra d’Aire

Uns adolescentes do Porto Alto fizeram um abaixo-assinado a reivindicar a possibilidade de irem à porta da escola fumar durante os intervalos, como acontece com os professores. Para quem diz que os nossos miúdos não têm imaginação nem espírito crítico aqui está uma verdadeira pedrada no charco. Já tinha ouvido muitas reivindicações estudantis, mas esta supera-as em ousadia e argumentação e é um bom exemplo da luta de classes nos tempos actuais. Se os maganos dos profes podem ir esfumaçar lá fora nos intervalos, os alunos também devem ter direito. E mais nada! E essa coisa de os reclamantes só terem 13 ou 14 anos é treta. Há miúdos com essa idade que são mais encorpados que muitos homens.Nos meus tempos de estudante, quer acreditem quer não, fumava-se dentro das salas de aula no ensino secundário. Alunos e professores. Tive inclusivamente um professor de Introdução à Economia que me mandava religiosamente ao sábado de manhã (é verdade, nos anos 80 havia aulas aos sábados de manhã) ir comprar um maço de SG Ventil a um café próximo e em troca dava-me três cigarros que eu consumia alegremente até ao filtro durante as duas horas de aula.Felizmente, ao contrário do que presumo que aconteça com estes rapazes do Porto Alto, o meu pai não sonhava sequer que eu fumasse. E muito menos nas salas de aula. Caso contrário, em vez de um abaixo-assinado ter-me-ia dado um correctivo anti-tabágico que ainda hoje me estaria a fazer efeito. Portanto, meu caro Manel, estes jovens nem estão a pedir nada de especial, atendendo ao histórico do nosso sistema educativo. E como a nostalgia e o mercado da saudade estão na moda (basta ver os penteados, as roupas, a música...) por que não recuperar mais uma “cena marada” dos loucos anos 70 e 80? É que até lhes podia ter dado para pior!Penso que foi também a vontade de reviver os velhos tempos que levou um grupo de maduros de Rio Maior e do Entroncamento a entreter-se a trocar sopapos, murros e pontapés fora do campo enquanto os filhos jogavam futebol dentro das quatro linhas. Quem não andou à batatada na bola quando era puto que atire a primeira pedra. Além disso, todos sabemos que esse tipo de exercício tonifica os músculos, enrijece os ossos e ajuda a aliviar a tensão do dia-a-dia. Os médicos fartam-se de alertar para a necessidade de prática de actividade física. Até há um slogan que reza assim: “Mexa-se, pela sua saúde!”. Mas quando um grupo de veteranos de outras guerras entende exercitar-se em conjunto, dando aos braços e às pernas como se não houvesse amanhã, lá vem o coro de puristas descrevê-los como arruaceiros, maus exemplos e não sei que mais. Queriam o quê? Que ribatejanos de barba rija se ficassem pelo ballet? Pelo xadrez ou pelo ioga? Pelo badmington ou pelo golfe? Há que ter abertura de espírito quando se analisa estas questões e não enveredar logo pela condenação moral. Se os homens gostam de desportos de contacto deixem-nos praticar alegremente em sã convivência. Cumprimentos e saudades do Serafim das Neves

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