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Grande maioria dos doentes mentais não é perigosa

Grande maioria dos doentes mentais não é perigosa

Discriminar um doente mental é o pior que se pode fazer. Luísa Jorge é enfermeira na Unidade de Cuidados na Comunidade de Coruche e foi convidada a integrar um dos painéis de debate do 2º Fórum Educação e Acção Social que a Câmara de Coruche realizou na semana passada no auditório do museu municipal da vila.

Os doentes mentais ainda são excluídos da sociedade e para evitar essa situação é necessário esclarecer e falar do assunto sem receios, desfazendo os vários mitos ainda existentes sobre a doença. O alerta é de Luísa Jorge, enfermeira na Unidade de Cuidados na Comunidade de Coruche (UCCC), oradora no debate “Cidadania e Saúde Mental”, integrado no 2º Fórum Educação e Acção Social, que a Câmara de Coruche realizou nos dias 21 e 22 de Novembro, no auditório municipal da vila, onde participaram cerca de 15 convidados e onde se debateram outros assuntos como “Responsabilidades Parentais e as Escolas”, “Segurança na Escola”, “Envelhecimento e Cidadania”, entre outros.Luísa Jorge garante que a grande maioria dos doentes mentais não é perigosa. São cidadãos normais que precisam de tratamento adequado à sua doença. “A discriminação é a pior coisa que se pode fazer a um doente mental. Já basta o estigma que o doente sente por saber que é portador desta doença. Temos que ultrapassar os nossos medos e receios e encarar estas pessoas como uma de nós, porque é isso efectivamente que elas são”, afirma.Cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem de perturbações mentais ou neurobiológicas, sendo que a depressão grave é actualmente a principal causa de incapacitação em todo o mundo e ocupa o quarto lugar das principais causas de patologia a nível mundial. Luísa Jorge afirma que, de acordo com as estatísticas, uma em cada quatro pessoas será afectada por uma perturbação mental em alguma fase da vida.Em Coruche não existem dados estatísticos elaborados mas a enfermeira confirma que tem havido um aumento na procura das consultas de saúde mental da UCCC. Desde que começou a trabalhar na vila, há cerca de 18 meses, que as pessoas recorrem cada vez mais ao seu serviço sendo que actualmente já só existem vagas para consultas para o próximo ano. A depressão é a doença que atinge mais pacientes que vão às suas consultas. No entanto, o alcoolismo também existe bastante e é um problema desvalorizado. “É preocupante porque as pessoas não estão em alerta porque não o consideram como um problema que precisa de tratamento adequado”, lamenta acrescentando que com os problemas originados pela actual crise financeira a tendência é para que a situação se agrave mais. Luísa Jorge avisa que as pessoas não têm dinheiro para comprar os medicamentos que lhes permite controlar as doenças.A enfermeira alerta para a necessidade de haver um maior contacto das pessoas com o doente mental. “Seria importante criar iniciativas em que o doente mental possa assumir a sua doença e, mais importante ainda, é que as pessoas consigam perceber que existem doentes mentais em todos os extractos sociais e em todos os lugares de trabalho. Muitas vezes as pessoas não admitem que têm uma doença mental por medo de serem discriminadas pelos colegas e pela sociedade”, afirma acrescentando que a maioria dos doentes mentais tem capacidade para viver e desenvolver uma vida normal dentro das limitações que a doença impõe.Luísa Jorge, que já trabalhou no serviço de internamento de psiquiatria do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, critica o facto de o Governo ter suspendido os cuidados continuados em saúde mental. “Desde que deixou de haver comparticipação de psicofármacos aumentaram as descompensações de muitos doentes mentais porque ficaram sem dinheiro para comprar os medicamentos. Se a pessoa está descompensada não tem capacidade de lutar pelos seus direitos e de fazer uma vida normal. O trabalho social também é muito importante e é fundamental que se perceba que muitos doentes precisam de ajuda financeira para fazerem uma vida normal, devidamente medicados”, alerta a enfermeira.“A falta de contacto com os doentes mentais, que também se isolam e provocam afastamento dos outros porque não sabem lidar com certo tipo de comportamento, acaba por gerar um desconhecimento grande sobre o doente mental. É isso que leva aos mitos infundados e falta de esclarecimento”, sublinha.
Grande maioria dos doentes mentais não é perigosa

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