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Centro Desportivo de Fátima afunda-se em dificuldades financeiras

Centro Desportivo de Fátima afunda-se em dificuldades financeiras

Constituição da SAD - Sociedade Anónima Desportiva só veio agravar a situação

Os jogadores do actual plantel de futebol de onze do Centro Desportivo de Fátima, que disputam o Campeonato Nacional de Seniores, só receberam um mês de ordenado e passam por problemas graves. Na última assembleia do clube, realizada no dia 25 de Novembro, foi apresentado um passivo do clube - não inclui as dívidas aos jogadores - de mais de 340 mil euros. O clube caminha claramente para o abismo.

Os problemas financeiros no Centro Desportivo de Fátima são conhecidos há muito tempo mas a gestão do clube nos últimos anos agravou substancialmente a situação. Agora com um passivo superior a 340 mil euros e sem pagar a jogadores, treinadores e funcionários há quatro meses, o clube afunda-se numa crise de que não vai ser fácil sair.No início desta época, 2013/2014, já com o clube mergulhado em profunda crise, o actual presidente da direcção, Sérgio Frias entendeu que só a constituição de uma SAD - Sociedade Anónima Desportiva - para o futebol sénior e júnior poderia ser a tábua de salvação para que o clube pudesse continuar a manter o nível competitivo que tinha e ultrapassar os problemas financeiros.Embora contestada por algumas das principais figuras do clube e vários elementos da própria direcção, o presidente avançou para a contratação de jogadores por valores considerados altos para as possibilidades do clube. Nessa altura surgiram vozes discordantes relativas ao valor que a equipa ia custar. Vozes que advogavam a constituição de um plantel com a maioria de jogadores formados no clube e da região, aceitando mesmo que a manutenção da equipa no nacional fosse colocada em causa.Sérgio Frias não concordou com essa situação e acusou mesmo essas pessoas de quererem acabar com o clube e garantia que a SAD seria o remédio para todos os males. O plantel actual custa mais de 20 mil euros por mês. E a constituição da SAD, patrocinada quase em exclusivo pelo presidente, avançou e a assinatura de constituição foi efectuada no dia 17 de Setembro de 2013.O presidente do CD Fátima apresentou o investidor milagroso. O cidadão brasileiro Marcelo Martins, que teria adquirido 90 por cento do capital da SAD, ficou como presidente e começou logo a fazer alterações no plantel e na equipa técnica aumentando ainda mais as verbas mensais a despender. A cláusula principal de entrada de capital, cerca de 250 mil euros, nunca foi cumprida pelo accionista. Por isso se chegou a esta situação que ninguém sabe como vai terminar.Entretanto foram aprovadas em assembleia geral as contas do clube de 2012 e 2013, que apresentam um deficit de mais de 340 mil euros. Contas que não foram alvo de fiscalização por parte do Conselho Fiscal, que entretanto se tinha demitido por não concordar com a gestão de Sérgio Frias.Alguns sócios e directores com quem O MIRANTE falou apontam claramente o dedo à postura de Sérgio Frias e garantem que é ele o único culpado da situação. “Fez praticamente tudo sozinho. Colocou quase todos os outros directores de parte e quando foi aconselhado por algumas figuras do clube para travar os seus ímpetos ainda os tratou de forma depreciativa”, disse um elemento há muito tempo ligado ao Centro Desportivo de Fátima.Também o padre António Pereira, embora não se tenha pronunciado muito sobre a situação, lamentou que tenham deixado chegar o clube a este estado, confessou-se triste por ver o nome do Centro Desportivo de Fátima andar nas bocas do mundo por estes motivos. “Estou sempre disponível para ajudar, mas não sei como se vai sair desta situação. É muito grave o que se passa”, disse a O MIRANTE.Convidado a esclarecer a situação e a defender-se das acusações que lhe são feitas, Sérgio Frias chegou a marcar um encontro com o jornalista de O MIRANTE, mas acabou por faltar ao encontro marcado, sem dar qualquer explicação para a sua falta.Jogadores recorrem ao Sindicato que accionou fundo de garantiaOs jogadores do Centro Desportivo de Fátima que estão sem receber ordenados pediram a ajuda do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) e já receberam uma pequena verba - 240 euros cada um - proveniente do Fundo de Garantia Salarial.No final de uma reunião com o plantel da equipa - quarta classificada da série F do Campeonato Nacional de Seniores -, o presidente do SJPF, Joaquim Evangelista especificou que há 15 jogadores que ou não receberam qualquer verba esta época ou receberam apenas um mês. Noutros casos já aconteceu rescisão de contrato e a respectiva saída do clube.Na reunião ficou decidido que os jogadores, cujo contrato estava registado na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), accionavam o Fundo de Garantia Salarial, enquanto, aos restantes, o SJPF “disponibilizou meios próprios e uma verba para as situações mais dramáticas”.“A situação arrasta-se há algum tempo e o que está na base dos problemas é a constituição da SAD do Fátima», sublinhou Joaquim Evangelista, acrescentando que o presidente acreditou num investidor brasileiro que surgiu, cedeu os direitos da sociedade mas “a transferência do dinheiro não se realizou e isso não permitiu o pagamento de salários”.Segundo o presidente do SJPF, este caso começa a ser reincidente no futebol português. “Os clubes acreditam na boa vontade de investidores sem qualquer tipo de garantias. Depois são surpreendidos. Está na moda falar-se de investidores angolanos ou asiáticos e ninguém sabe quem são. Os dirigentes não podem estar à espera de resolver os problemas com dinheiro alheio e desresponsabilizarem-se dos seus actos”, disse Evangelista.O dirigente sindical reconheceu existirem “situações dramáticas” no plantel do Fátima: “O presidente disponibilizou-se para encontrar soluções, mas as vítimas são os jogadores que não vivem cá, almoçam no restaurante indicado pelo clube e quando falha alguma coisa isso reflecte-se logo na sua vida pessoal”.Jorge Neves, médio de 26 anos e “capitão” de equipa, revelou que o dinheiro recebido foi “a primeira verba desde o início da época”.“Há jogadores que ainda não receberam um único salário desde o início da época. É grave, há quem não tenha dinheiro para comer ou para ir a casa ver os filhos”, lamentou o atleta, criticando as promessas constantes da parte dos dirigentes. “O futuro não é risonho”, assumiu.Mas o atleta assumiu que continua com o clube e vai continuar a manter um diálogo intenso com os seus companheiros para tentar manter a esperança em melhores dias. “Vamos continuar a treinar e a competir enquanto for possível”, garantiu.
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