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Rosa Cruz conta o inferno que viveu durante sete dias na prisão

Rosa Cruz conta o inferno que viveu durante sete dias na prisão

Mulher de Alpiarça, reformada por invalidez, foi presa por não ter dinheiro para pagar custas de processo judicial

Foi levada de casa pela GNR sem saber o que a esperava, deixando os dois filhos de 17 anos sozinhos e entregues à sua sorte. A generosidade da população permitiu juntar os 900 euros necessários para pagar a dívida em menos de 24 horas. A história teve final feliz mas Rosa Cruz não esquece o ‘inferno’ que viveu durante uma semana, criticando a actuação das autoridades.

Rosa Cruz diz que, por mais que tente, nunca vai conseguir esquecer o inferno que viveu durante os sete dias em que esteve presa no Estabelecimento Prisional de Tires, perto de Cascais. Julgada em tribunal num caso de ofensas à integridade física simples foi condenada numa pena de 150 dias de multa a uma taxa diária de 6,00 Euros, o que totaliza a quantia de 900,00 Euros, à qual correspondem 100 dias de prisão subsidiária, nos termos do artigo 49º, nº 1, do Código Penal.Como não pagou a multa, Rosa Cruz acabou por ser presa. No entanto, a generosidade da população de Alpiarça, onde Rosa Cruz, de 45 anos, vive há mais de duas décadas, fez com que fosse possível juntar os 900 euros necessários para resgatá-la do cativeiro. Em todo este “inferno”, como descreve várias vezes ao longo da conversa com O MIRANTE tudo o que passou, Rosa aponta o dedo à actuação da GNR de Alpiarça que diz não ter sido a mais correcta.“Bateram-me à porta e disseram-me, de forma muito simpática, que tinha que os acompanhar. Não estranhei porque há uns três anos aconteceu o mesmo quando tive que ir ao Tribunal de Almeirim assinar uns papéis. Só na esquadra é que me disseram o que se estava a passar mas garantiram-me que a minha advogada ia resolver o assunto e, no máximo, passava apenas uma noite fora de casa”, recorda. Rosa voltou a casa apenas para buscar alguma roupa interior e disse a um dos filhos, que estava em casa com gripe (o outro tinha ido para a escola), que ia tratar de uns assuntos e que no máximo no dia seguinte ficaria tudo resolvido e voltaria para casa. Mas nada disso aconteceu e Rosa Cruz foi detida no dia 28 de Novembro. O problema é que com toda a agitação não levou consigo os medicamentos que tem que tomar diariamente. Rosa é portadora de uma doença cardíaca congénita, tendo sido operada aos nove anos. No entanto, na carta do médico, escrita logo após a operação, é explicado que a cirurgia é só parcialmente correctiva pelo que permanecem sequelas da cardiopatia que produzem limitação funcional importante. Com o sistema nervoso alterado por se ver presa e imaginar os filhos, gémeos, com 17 anos, sozinhos em casa, Rosa teve que ser reencaminhada com urgência para o hospital mais próximo, tendo a situação acabado por estabilizar.“Prisão é muito pior do que se possa imaginar”O inferno de Rosa Cruz terminou quando a direcção do Agrupamento de Escolas José Relvas, de Alpiarça, teve conhecimento através de um telefonema do que se estava a passar. Sensibilizados com o problema desta família mobilizaram-se e em menos de 24 horas conseguiram a verba necessária para tirar Rosa Cruz da cadeia. Na quarta-feira, 6 de Dezembro, já Rosa estava em casa junto dos filhos. Ainda bastante debilitada, Rosa Cruz diz que é impossível descrever como é o ambiente naquela prisão. “Que nunca nenhuma mãe tenha que ter uma filha numa cadeia daquelas. É indescritível. É muito pior do que se possa imaginar”, afirma confessando que a sua maior angústia era pensar que não ia passar o Natal junto dos seus filhos.Rosa está mais revoltada pela forma como as coisas aconteceram. Afirma que a GNR a podia ter logo avisado do que se estava a passar para poder orientar os filhos. “Os meus meninos comeram o que havia no frigorífico e quando a comida acabou tentaram vender os bordados que faço para poderem comprar comida. Tentaram comprar fiado numa loja mas não conseguiram. Apanharam laranjas e foi assim que se desenrascaram. Isto não se faz”, diz, enquanto as lágrimas caem pelo rosto.Reformada por invalidez, Rosa Cruz vive com 256 euros de reforma e vai vendendo os bordados que faz. A filha mais velha, que é trabalhadora-estudante, sempre que pode dá uma ajuda à mãe. Apesar de tudo Rosa diz-se feliz por se sentir tão acarinhada pela população de Alpiarça que continua a dar donativos para ajudá-la. Até ao momento já conseguiram mais de dois mil euros que vão ajudar a que Rosa e os filhos passem um Natal mais ‘confortável’.
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