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“Moita Flores foi um carrasco do desenvolvimento de Santarém”

“Moita Flores foi um carrasco do desenvolvimento de Santarém”

Empresário Armando Rosa é o primeiro autarca eleito por uma lista independente para a Assembleia Municipal de Santarém

Foi o inconformismo e o estado a que Santarém chegou que fizeram Armando Rosa aceitar ser candidato nas últimas autárquicas pelo movimento independente Mais Santarém. O empresário diz que Moita Flores comprometeu o desenvolvimento do concelho e que a gestão do município está fortemente condicionada nos próximos anos devido aos erros cometidos em anteriores mandatos. O antigo militar de Abril lamenta ainda a falta de zonas para instalação de empresas no concelho e diz que tem faltado dinamismo para afirmar Santarém.

É empresário, dirigente de várias entidades e agora tornou-se o primeiro autarca eleito por uma lista independente para a Assembleia Municipal de Santarém. O que o levou a entrar na política?Não me considero um político, embora esta não seja a primeira vez que estou ligado à política. Desde os meus tempos de estudante intervim social e politicamente. Nunca fui de me conformar. A seguir ao 25 de Abril pertenci a um movimento que não era da situação, o MES - Movimento de Esquerda Socialista, que depois deu muitos dirigentes partidários. Eu não enveredei por aí. Era um movimento muito são, centrado na parte social e na defesa das minorias. Depois o movimento extinguiu-se e nunca mais tive acção política.Até agora...Neste caso, foi quase um chamamento pelo que se está a passar no país. Fui confrontado com o convite do candidato à Câmara de Santarém do movimento Mais Santarém e do movimento Mais Democracia, a que já estava ligado desde a candidatura do dr. Fernando Nobre à Presidência da República. Demorei bastante tempo a aceitar, mas penso que as responsabilidades dos cidadãos também têm muito a ver com a situação de cada momento. E achei que estava na altura de me chegar à frente.Apontou o “estado depreciado da cidade e do concelho” como uma das razões para aceitar candidatar-se. Pelos vistos não concorda com o anterior presidente da Câmara de Santarém, Moita Flores, que diz ter devolvido a auto-estima e a capitalidade regional a Santarém?Penso, de facto, que Santarém merece mais. O anterior presidente da câmara foi o carrasco do desenvolvimento desta cidade e deste concelho e há elementos que o podem provar. As obras de fachada e o show off foram privilegiados em detrimento do desenvolvimento e da economia. E isso deixa-nos de rastos durante muitos anos.Está a referir-se a Moita Flores?Sim. Qualquer presidente que viesse a seguir estaria muito condicionado na sua acção por causa daquilo que ele fez. E o actual presidente também tem as suas responsabilidades, porque foi conivente com grande parte das medidas então tomadas.Não concorda com Moita Flores quando este diz que devolveu a auto-estima e a capitalidade regional a Santarém?Isso é muito subjectivo. Ele até pode dizer que foi o melhor presidente da câmara que Santarém teve em democracia.Santarém merece o título de capital do Ribatejo?Santarém, mesmo assim, não por mérito próprio mas por demérito de outras cidades, continua a merecer ser capital desta região. Aliás, tem as características para ser uma grande cidade e um grande pólo de desenvolvimento. Alguém disse que Santarém é uma cidade condenada ao desenvolvimento.Está condenada ao desenvolvimento desde que haja gente que faça por isso. Esperemos que as coisas melhorem. Mas no estado em que aquele anterior presidente da câmara deixou isto, dificilmente nos próximos anos poderá haver grande desenvolvimento. O problema é esse.Sente-se desiludido com a passagem de Moita Flores por Santarém? Não me sinto desiludido porque nunca acreditei nos messias nem nos salvadores da pátria.Mas esperava mais dele? Ou não?Acho que no primeiro mandato dele, até determinada altura, teve algumas situações positivas. Nomeadamente na área da educação. Mas depois enveredou pelos gastos excessivos. Não sei se tem noção, mas ele gastou em 2009, só em touradas e na promoção da festa brava, 311 mil euros. Em contrapartida, temos a fonte das Figueiras ao abandono, a igreja de Santa Maria da Alcáçova está abandonada, o centro histórico é aquilo que nós sabemos, os dois museus da cidade estão fechados. E temos aquela palhaçada que foi feita no Convento de São Francisco, aquela rosácea que é um atentado ao bom senso e à História. O que pensa dos negócios feitos por Moita Flores com o Estado, para a aquisição de imóveis como o antigo quartel da Escola Prática de Cavalaria? Penso que o valor atribuído às instalações da Escola Prática de Cavalaria é razoável. Quanto à oportunidade desse negócio, se era oportuno ou não para o interesse imediato do concelho, aí tenho as minhas dúvidas.Aceita que parte daquela área seja utilizada para urbanização, como forma de rentabilizar aquele investimento?Sobre isso ainda não tenho opinião formada. Mas concordo com o aproveitamento de alguns espaços, como aquele onde vai ser instalada uma incubadora de empresas em parceria com a Nersant. Acho que foi uma boa medida criar ali espaços para novas empresas, para projectos de empreendedorismo e inovação, pois a cidade está a precisar. O parque de negócios de Santarém não há meio de avançar. Enquanto membro da administração da Parquiscalabis, Parque de Negócios de Santarém, como vê a situação?O que se sente em Santarém é que não tem havido uma prioridade política no que toca a criar condições para a instalação de empresas e criação de emprego. A Câmara de Santarém sempre pertenceu à administração desta sociedade, umas vezes com mais interesse, outras com menos, mas por vezes chegámos mesmo a ter a sensação que não havia interesse em que aquilo fosse para a frente. Como está o processo actualmente?O primeiro local para o parque de negócios foi inviabilizado por várias razões e agora estamos a tentar a relocalização noutro local, na freguesia de Almoster, junto ao Valleypark. A sensibilidade da Parquiscalabis é que esta câmara e o presidente Ricardo Gonçalves tudo farão para criar ali um parque de negócios. Obviamente que isso terá de ser bem estudado, dada a conjuntura actual, pois envolve muitos riscos. Entretanto passaram muitos anos e possivelmente muitas oportunidades de captar investimentos para Santarém.É um estigma que esta cidade tem desde há muitos anos. Não se aposta nas empresas nem nos empresários e, consequentemente, no emprego. Santarém tem estagnado, tem perdido população.O que espera deste novo presidente de câmara?Tenho muita consideração pelo presidente Ricardo Gonçalves. É uma pessoa de muito bom trato, completamente diferente de Moita Flores. E embora fosse politicamente conivente com ele, a última parte do anterior mandato mostrou que tinha uma maneira de ser completamente diferente. Procura consensos, ouve as pessoas e tem um discurso completamente diferente. Politicamente, enfim, tem as peias que todos os eleitos dos partidos têm. A partidocracia continua a ser o elemento preponderante na política nacional. Na política regional já se vai vendo alguma alteração nesse aspecto, pois já existe a possibilidade de cidadãos organizados se candidatarem. Não se consegue ver a militar num partido?Os partidos, como e quando foram criados, tinham e têm a sua razão de ser. Se os partidos fossem aquilo que deveriam ser, e se baseassem em princípios éticos e constitucionais e de boas práticas, os cidadãos iriam rever-se nas suas práticas. Mas as coisas não são assim. A partidocracia está subordinada a interesses que não são propriamente ligados à ética, à solidariedade e às boas práticas.O que pensa acrescentar de diferente com esta sua intervenção cívica?O que vou tentar fazer é ser uma voz fora desses programas e dessas tácticas que os partidos, mais uns do que outros, têm. Todos têm cartilhas para seguir. Nós, como movimento de cidadãos, temos uma matriz a defender que é a democracia participativa. A luta deste movimento é um pouco essa, de mostrar às pessoas que existe outra forma de democracia e pôr os cidadãos a terem voz activa na administração pública.O Mais Santarém não será um movimento efémero que ficará por esta experiência eleitoral?Não. Vamos continuar e eu procurarei na assembleia municipal dar voz às necessidades e ambições da população do concelho. Foi para isso que nos constituímos e a actividade não acabou com a campanha eleitoral. Temos pessoas com muito valor que nos vão continuar a ajudar na elaboração de propostas concretas para o concelho.Um empresário muito ligado ao associativismoArmando António Leal Rosa nasceu na freguesia de Abrã, no concelho de Santarém, em 3 de Junho de 1950. É casado e tem uma filha. Estudou em Santarém até ingressar no ensino superior em Lisboa, onde se licenciou em Engenharia Electromecânica no Instituto Superior de Engenharia. Cumpriu o serviço militar na Escola Prática de Cavalaria de Santarém, entre 1973 e 1975.A primeira actividade profissional após o serviço militar obrigatório foi como professor na Escola Preparatória de Santarém. Em 1981 foi admitido nos CTT, onde foi director do departamento de projectos e instalações. Em 1986 deixou os CTT para criar, em Almeirim, a empresa Telemon, da área das telecomunicações. Em 1987 fundou a Ribatel em Santarém, empresa de telecomunicações de que continua gerente.Para além da actividade empresarial, Armando Rosa é uma pessoa muito ligada ao associativismo. Pertence actualmente à direcção da Nersant _ Associação Empresarial da Região de Santarém, é membro da mesa administrativa da Misericórdia de Santarém e preside ao conselho fiscal do Lar de Santo António e da Liga dos Amigos do Hospital de Santarém. Integra ainda o conselho de administração da Parquiscalabis, Parque de Negócios de Santarém S.A.. Foi ainda co-fundador, em 1994, da Associação de Comerciantes e Instaladores de Sistemas de Telecomunicações, de que foi presidente da direcção e da assembleia geral.Um militar de Abril que ajudou a prender pidesEra militar na Escola Prática de Cavalaria (EPC) em Santarém quando se deu a revolução de 25 de Abril de 1974. Qual foi o seu grau de participação nesse movimento?Eu tinha acabado de ser graduado em aspirante miliciano e tínhamos iniciado há dois dias uma recruta no antigo quartel de artilharia 6, junto à polícia. Ali funcionava um destacamento da EPC onde se fazia a recruta dos sargentos milicianos. Eu tinha um pelotão a meu cargo. A nossa missão foi ficar na retaguarda e prender os inspectores da Pide em Santarém. Quando é que ficou a par da operação militar?Foi nessa noite. A primeira missão foi pôr os recrutas todos na rua à meia-noite e tal. Naquela situação os recrutas só empatavam. Quando fomos às camaratas e os acordámos a mandá-los ir embora para casa, pensaram que era uma praxe e alguns não se queriam levantar nem por nada. Teve de ser quase à força. Pusemo-los na rua e dissemos-lhes para se irem embora.Ficou com pena de não seguir na coluna militar de Salgueiro Maia para Lisboa?Depois fiquei. Sabendo aquilo que aconteceu, toda a gente gostava de ter ido. A minha especialidade era atirador e foram mais os que tinham especialidade de carros de combate e que estavam mesmo na Escola Prática de Cavalaria.Alguns dos seus camaradas de armas da altura dizem hoje que é preciso um novo 25 de Abril. O que pensa disso?Conseguiram-se muitas vitórias e muitas situações de melhoria face àquilo que existia. Não há dúvida que os benefícios sociais conseguidos são grandes. Claro que actualmente as pessoas vivem numa incerteza muito grande e o estado a que isto chegou, parafraseando Salgueiro Maia, também já é um estado que ninguém entende bem.“O Estado paga mal e cobra bem”Trabalha numa área do mercado, a das telecomunicações, extremamente concorrencial. Que receitas arranjou para enfrentar a crise?Poucas. Temos duas áreas de negócio: a tradicional, relacionada com o fornecimento de soluções de comunicação para as empresas, como centrais telefónicas e com tudo aquilo que se relaciona com radiocomunicações; e, desde 2007, começámos a investir bastante na telemetria. Desenvolvemos produtos de telemetria, na área do gás, especialmente, que acabaram por ser uma fonte de receita importante, embora represente um investimento bastante grande. Temos tentado também a internacionalização nessa área e com esse produto, mas não tem sido fácil. A diminuição de receitas em virtude da crise, proporcionada pelo desinvestimento das empresas, acabou por ser compensada pela investigação e desenvolvimento em que investimos bastante. Mas também houve necessidade de emagrecer a estrutura, devido ao abaixamento de facturação. Para sobreviver temos que nos ajustar.Alguns empresários queixam-se que hoje é mais difícil receber pelos serviços prestados do que propriamente arranjar clientes. Também sente essa realidade na pele?As dificuldades são em escada e vão-se manifestando por toda a cadeia económica. Se o Estado pagasse aquilo que deve a tempo e horas com certeza que as dificuldades das empresas seriam muito menores e se calhar o desemprego seria menor. As autarquias e o Estado pagam mal e cobram bem.
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