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Alexandre Caldas quer transmitir sangue novo à gestão do Politécnico de Santarém

Professor universitário vai concorrer contra o actual presidente do instituto, Jorge Justino

Gerir o Politécnico de Santarém numa perspectiva empresarial, articulando a formação dos seus alunos com a prestação de serviços, é uma das bandeiras da candidatura de Alexandre Caldas à presidência da instituição. O candidato quer reforçar as parcerias com a Nersant e pretende acabar com a dependência financeira em relação ao Orçamento de Estado. A internacionalização e a criação de consórcios sectoriais com outras instituições de ensino superior são também objectivos para o mandato. As eleições estão marcadas para 25 de Março.

Vai concorrer à liderança do Instituto Politécnico de Santarém (IPS) contra o professor Jorge Justino, actual presidente da instituição, com quem colaborou enquanto foi presidente do conselho geral do IPS.Sim, é verdade. É uma pessoa que estimo. Tive oportunidade de trabalhar com ele e de falar com ele sobre o que achávamos melhor para o futuro do instituto. Mas neste caso temos projectos diferentes. O que o levou a candidatar-se à presidência do IPS? Há um problema gravíssimo relativamente ao futuro do ensino superior em geral, e dos politécnicos em particular, que passa essencialmente pela questão do financiamento. Há uma dificuldade de financiamento estrutural do IPS que põe em risco a sua própria sobrevivência. E há um problema claro de ausência de estratégia para aquilo que se propõe para a rede e reorganização do ensino superior no país.Na sua opinião, quem devem ser os parceiros privilegiados do IPS para, no futuro, trabalhar em conjunto?Primeiro há que fazer uma coisa fundamental, que é garantir que as cinco escolas trabalhem em conjunto, com uma identidade e uma comunicação conjunta no sentido da sua valorização. E depois fazer um conjunto de parcerias de geometria variável com base nas áreas de competência do IPS.Pode especificar?Leiria é uma excelente aposta na área do desporto. Évora, em agronomia, é uma excelente aposta na área das ciências agrárias. Lisboa é uma excelente aposta na área da educação. E vamos fazer à inglesa, seguindo as boas práticas internacionais, parcerias ganhadoras para cada uma destas áreas onde temos competências.Há outro Instituto Politécnico na região, o de Tomar. Pensa estreitar as relações entre as duas instituições?Tomar vai ter um lugar fundamental. Tenho uma extraordinária relação com o actual presidente do Instituto Politécnico de Tomar. Trabalhámos em conjunto no lançamento do Tecnopólo do Vale do Tejo, o Tagusvalley, que é um excelente exemplo de parceria que resulta. Tomar tem uma visão muito idêntica nesta questão e o que vai acontecer é um estreitamento de colaboração e parceria, sem nenhuma das instituições perder a sua identidade.Irá avaliar a oferta formativa das várias escolas do IPS, nomeadamente nas licenciaturas?Está a acontecer já uma grande reestruturação, que queremos que passe por um trabalho extraordinário das escolas no sentido de colaborarem mais em conjunto nesta revisão da oferta formativa. O objectivo é adequar a oferta ao mercado das empresas, à comunidade empresarial. Quais são as mais valias que a sua candidatura pode representar para o IPS? O sangue novo?Não é só sangue novo. Temos uma noção estratégica de financiamento sustentável para o instituto. Que passa por depender menos do Orçamento de Estado?Queremos deixar de depender a prazo. O financiamento actual é baseado no Orçamento de Estado, propinas dos alunos e pequenos projectos. O financiamento que vai ser colocado em marcha, estratégia a quatro anos para dentro de dois ou três anos estar a funcionar, é baseado em serviços à comunidade e financiamento internacional. Como cooperação com países de língua portuguesa e projectos europeus. O primeiro grande ponto é o financiamento sustentável do IPS...A que se segue…A gestão profissionalizada. Está na altura de o IPS possuir uma equipa totalmente profissionalizada na gestão. Uma equipa formada por professores das escolas, que dão valor acrescentado pelo conhecimento que têm da missão do IPS. A internacionalização é outra aposta?É um grande activo. A minha carreira passou em grande parte pelo estrangeiro. Penso que posso trazer mais valias quer em termos de financiamentos internacionais directos da União Europeia, quer nas conexões com as melhores universidades da Europa e do mundo, como Oxford, quer na experiência que tenho em projectos de cooperação com países de língua portuguesa que podem passar a integrar a nossa rede de prestação de serviços. “O IPS não pode viver afastado das instituições da região”De tanto se olhar para fora não se corre o risco de se esquecer quem está mais próximo?Não. O IPS nunca pode viver afastado das instituições da região.Isso acontece actualmente, na sua perspectiva?Sim, acontece. O IPS não tem uma parceria estratégica com uma das melhores associações empresariais do país, que é a Nersant. Quando falo em parceria estratégica é o IPS prestar serviços às empresas associadas da Nersant e as empresas associadas da Nersant prestarem serviços e trabalharem com o IPS. É importante ter uma parceria estratégica com a Nersant para dentro e também nos projectos europeus. Porque a associação empresarial tem uma experiência ampla nesse tipo de projectos. Também deve haver uma parceria estreita com as comunidades intermunicipais da Lezíria e do Médio Tejo para ir buscar financiamentos aos novos programas operacionais e aos programas de inovação. Será uma forma completamente diferente de fazer as coisas.“Não vejo no professor Jorge Justino a força necessária para enfrentar as dificuldades”Como classifica a gestão do actual presidente do IPS nos últimos quatro anos?O professor Jorge Justino teve um papel extraordinariamente importante no aparecimento do IPS e no seu crescimento. É uma pessoa que deu ao IPS uma vida e uma carreira. Tenho uma grande estima e apreço pessoal pelo professor Justino. Tive oportunidade de lhe dizer, no âmbito deste processo, que lhe podemos encontrar uma função mais de embaixador, de figura mais externa, menos executiva, que poderia ser muito interessante para o IPS. Não vejo neste momento a força necessária para estar a gerir um executivo perante todas as dificuldades que elenquei.Falou com o professor Jorge Justino antes de decidir apresentar a sua candidatura?Necessariamente, até por uma questão de ética e pelas relações de cordialidade que temos. Tive uma primeira conversa com ele, após um conjunto de professores do IPS me ter abordado no sentido de eu poder pensar numa candidatura. Depois falei com ele para lhe comunicar que tinha decidido candidatar-me. Temos dois projectos diferentes e agora que venham as eleições.Não estava nos seus planos esta candidatura?Como sabem, tive uma experiência durante quatro anos como presidente do Conselho Geral do IPS, órgão a que ainda pertenço, e não estava realmente no meu horizonte uma candidatura a um cargo executivo. Mas as dificuldades levaram-me a dizer que estou disponível. O Conselho Geral fez um trabalho de definição da estratégia que agora se torna necessário executar. Já escolheu os seus candidatos aos dois lugares de vice-presidente?Por uma questão de reserva não vou indicar quem são, mas já está decidido. São representativos de escolas diferentes do IPS e têm uma ampla experiência como directores de escolas e de gestão efectiva. Aliás, a equipa será mais alargada porque vamos trabalhar também com os directores das escolas de forma muito diferente.Diferente em que sentido?Os directores das escolas vão ser parte da equipa executiva mesmo em termos formais. Vou arranjar uma forma de ter os directores a trabalharem na estratégia do instituto e as unidades de investigação também vão ter um papel mais executivo. Isso está praticamente tudo definido e o programa de acção, que inclui esta estratégia toda, será distribuído no dia 29 de Janeiro. Esse plano de acção passa pela manutenção dos recursos humanos ou pode haver mexidas a esse nível?Assumo como estratégia do IPS a não redução de postos de trabalho. Cortar dinheiro nas escolas, que são os activos estratégicos, ou cortar dinheiro nos recursos humanos é péssimo para o futuro da instituição. Assumo pessoalmente que se vai fazer precisamente ao contrário. Aumentar as receitas próprias para garantir que se mantêm os recursos humanos e se garante o financiamento das escolas.Um homem ligado à ciência e novas tecnologiasLicenciado em Economia, com mestrado e doutoramento na área das novas tecnologias, Alexandre Caldas, 41 anos, foi durante quatro anos presidente do Conselho Geral do IPS, órgão a que ainda pertence e a quem cabe eleger o presidente do instituto. Viveu grande parte da sua infância e juventude no Cartaxo e é irmão gémeo do ex-presidente desse município, Paulo Caldas.Alexandre Caldas nasceu em Nampula (Moçambique) em 1972. Da sua carreira ligada à gestão, ao ensino e investigação na área das novas tecnologias constam funções como as de director executivo do Tagusvalley - Tecnopolo do Vale do Tejo, director do projecto Ribatejo Digital e director-geral do Centro de Gestão da Rede Informática do Governo. Foi também director da área de inovação e novas tecnologias na Associação Industrial Portuguesa e, mais recentemente, até Julho de 2013, foi director do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia em Budapeste (Hungria).Tem actualmente um lugar de professor associado na Universidade Lusófona e é investigador associado da Universidade de Oxford. Tem também uma ligação formal com o Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão, em Santarém.

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