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“Vale mais uma má decisão que decisão nenhuma”

Paulo Resende, 53 anos, administrador da DanBanho, Cartaxo
Em criança dizia que queria ser veterinário. O pai do meu melhor amigo, que era meu vizinho, era médico-veterinário e, por tudo e por nada, íamos com ele. Chegávamos a levantarmo-nos muito cedo, ao fim-de-semana, para assistirmos ao parto de uma vaca, por exemplo. Aos dezoito anos tomei outra opção. Fascinava-me a história dos carros e da indústria automóvel cuja vinda se anunciava para Portugal. Em 1981 ingressei na Universidade do Minho, em Engenharia Metalomecânica, mas no terceiro ano, como estava muito longe de casa, acabei por pedir transferência para a Universidade de Coimbra. Formei-me em Engenharia Mecânica, no ramo de produção. Fui o único do meu grupo de amigos que seguiu engenharia. Todos estão em Economia, Direito ou em Gestão. Também não havia engenheiros na minha família. O meu pai é licenciado em Letras. Depois do curso fiz um estágio em Metrologia (sistemas métricos), na Delegação Regional da Indústria e da Energia, em Coimbra. Não fiquei porque queriam que entrasse para o quadro mas eu queria ser bolseiro de investigação do Instituto Português da Qualidade na área de dimensões métricas. Não consegui e foi assim que fui trabalhar para a indústria. Não vivi as praxes académicas de Coimbra. Vivi na “República dos Incas” e aí a vivência era diferente das praxes. Tinha mais a ver com o participar em actividades sociais, políticas, tertúlias ou debate de ideias. Fazia parte do Conselho das Repúblicas e, nesse sentido, fui o mandatário pela Universidade de Coimbra para a eleição da Dra. Lourdes Pintassilgo nas Presidenciais de 1986. Saio de Leiria, todos os dias, às 06h30 da manhã. O que me une a Leiria é a família e os amigos que preservo há muitos anos. Quando vim trabalhar para a fábrica da DanBanho, no Cartaxo, ainda pensei em viver aqui mas acabei por sentir que não se justificava porque o nosso horário é das 7h da manhã às 16 horas. Se avançarmos para um segundo turno na fábrica talvez tenha que pensar nisso. Levo quase sempre trabalho para casa. As questões de estratégia prefiro fazê-las quando estou sozinho. Aos 38 anos lancei-me como empresário. Abri uma empresa de reciclagem de PET (politereftalato de etileno) ou seja de reciclagem de embalagens de água no dia em que foi inaugurada a EXPO 98. Foi a primeira do género na Península Ibérica. Vendi-a passado quatro anos. O meu primeiro emprego, na indústria, foi na fábrica de Rações Veríssimo. Também estive na fábrica de rações Purina, em Benavente e Cantanhede. Estive dez anos nesta área das rações. Um homem sem valores é um rafeiro, costumava dizer o meu avô. Não digo o mesmo mas acho que sem rigor e sem trabalho não há um objectivo na vida. Tive um patrão, António Veríssimo, que me dizia: “um homem honesto não se safa mas um homem desonesto não vai a lado nenhum”. Temos que ter objectivos mas nunca devemos esquecer os nossos valores. Sempre procurei realizar projectos para me realizar e obter rendimento económico. Depois de vender a fábrica, dirigi um gabinete de engenharia, entre 2002 e 2007. Dedicava-me a tratamento de afluentes líquidos. Em finais de 2006, surgiu a oportunidade de vir trabalhar para a DanBanho, no Cartaxo. Não sabia nada sobre esta indústria e tive que pesquisar muito. Quando entrei na fábrica, em Fevereiro de 2007, já sabia, minimamente, como funcionava. Desde que seja para realizar algo em que acredito dou tudo de mim. Acredito que é possível aumentar e diferenciar sempre este projecto. Digo sempre aos meus colaboradores que o que fizermos, de bom ou de mau, na DanBanho somos nós que vamos lucrar ou ter o prejuízo. Exportamos noventa por cento do que produzimos e temos que conseguir sobreviver no mercado europeu pela diferenciação dos nossos produtos. Somos 38 na empresa. Sem rigor e trabalho nunca consegui nada na vida. Exijo muito aos meus colaboradores mas, por outro lado, regularmente paramos para fazer um almoço com todos e falar sobre as contas e os objectivos. As minhas funções obrigam-me a viajar. Dou por mim, muitas vezes, a fotografar as casas de banho nos hotéis ou os lavatórios nos restaurantes (risos) ou páro nas montras a ver o que oferecem. Dispenso sempre a gravata.Os problemas vivem comigo toda a semana. É difícil desligar do trabalho. Dou por mim a acordar a meio da noite a pensar numa solução para um problema. Reflicto muito enquanto conduzo e dito notas para o gravador do telemóvel enquanto faço viagens para cima e para baixo. Sou casado e tenho quatro filhos, entre os 10 e os 24 anos. Consigo conjugar a vida profissional com a família.Troco as consultas de psiquiatria por uma boa pescaria no mar. Ao fim-de-semana, se puder, vou sempre à pesca. É uma terapia que me mantém são. Um dia inteiro no mar, para mim, é uma semana de férias. Gosto de cozinhar o peixe que apanho. Fui vice-presidente, durante 12 anos, da Oasis, uma instituição de Solidariedade Social que toma conta de 60 deficientes. Saí porque acho que as direcções têm que ser renovadas. Não tenho imaginação suficiente para ocupar o dia sem fazer nada. Não gosto do imprevisto. Tenho que calcular os riscos que estou a correr e saber o que devo fazer para dominar a situação. Não sou organizado ou metódico mas estabeleço sempre metas. Mais vale uma má decisão do que decisão nenhuma. Se não estivesse sempre a sonhar não valeria a pena viver. O meu sonho é viver o meu período de reforma, no meu barco, da maneira que quero.Elsa Ribeiro Gonçalves

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