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Cheias

Um autarca dizia-me recentemente estar muito admirado com o que se está a passar em Inglaterra no que respeita a cheias. “Como é que um país com aquela organização e meios está a viver uma situação tão catastrófica?”Desde sempre as populações ocuparam as zonas de maior perigosidade, designadamente os leitos de cheia dos rios. Em qualquer parte do mundo, estas são as zonas mais férteis e com mais recursos. Na região de Londres vivem atualmente mais de 10 milhões de pessoas e por isso não há ordenamento e meios que possam evitar o que se está a passar na bacia do Tamisa. A ocupação maciça destas zonas, partes baixas das bacias hidrográficas, agrava enormemente o risco de cheias. É apenas isto que se está a passar na zona de Londres.Na outra costa atlântica, em Nova York, são a neve e o gelo que afetam milhões de americanos. Ou seja, nada é tão democrático como os riscos naturais: atingem países pobres e ricos. E temos uma certeza: já aconteceram e vão voltar a acontecer. A grande incerteza é que não sabemos quando.Perante esta equação, inevitabilidade e incerteza, a prevenção parece ser a atitude mais eficaz e económica. As situações mais críticas devem ser assumidas e estruturalmente resolvidas e a hipótese de demolição não deve ser descartada. O exemplo do litoral português é paradigmático - em muitas situações não faz sentido nenhum continuar a gastar dinheiro. No geral, e como opção de fundo, é ao nível do ordenamento que devemos atuar. Naturalmente que esta é uma ação de efeito a médio-longo prazo. Com os dados históricos que se conhecem, é incontornável que se produzam instrumentos de gestão, como é o caso de cartografia de risco. Cartas de zonas inundáveis ​​na escala das bacias hidrográficas são necessárias para melhorar a gestão dos riscos de inundações. A Diretiva Inundações da UE enquadra este trabalho e legislação não nos falta.Seja como for, os meios de ação disponíveis (humanos e materiais), em caso de ocorrência e na prevenção, são sempre mais escassos que o necessário. Tudo isto são certezas.O que fazer? i. avaliar e assumir o risco; ii. prevenir; iii. em caso de ocorrência, ação rápida e eficaz de forma articulada por parte de todos os agentes de proteção civil. A ação e eficácia destes é tanto maior quanto melhores forem os instrumentos de gestão e de apoio à decisão existentes.No que respeita às cheias, temos a certeza que pequenas e económicas ações de limpeza e valorização de linhas de água trazem enormes benefícios. Estas fazem-se a nível local, nas freguesias, com os proprietários particulares confinantes legal e moralmente implicados.Este tipo de ação possibilita ainda o conhecimento cada vez maior dos pontos críticos onde são necessárias intervenções estruturais. Muitas vezes, são pequenos estrangulamentos que têm grandes efeitos e consequências a montante.Os episódios como os que temos vivido constituem uma excelente oportunidade para responsabilizar cada um a fazer a sua parte, com as autarquias à cabeça.Carlos A. Cupetocupeto@uevora.pt Professor na Universidade de Évora

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