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Governantes olimpicamente ignorantes e como cataventos

Governantes olimpicamente ignorantes e como cataventos

Frederico Gama Carvalho foi ao auditório do extinto Laboratório de Sacavém fazer o elogio do livro de um seu colega e amigo, Jaime da Costa Oliveira, e não poupou críticas à classe política. O livro conta como começou e acabou um Laboratório do Estado onde se formaram em anos passados as elites da ciência moderna. Frederico Gama Carvalho não poupou a classe política a quem apelidou de “cataventos” e depois ridicularizou acusando-os de olimpicamente ignorarem advertências e conselhos mesmo quando vindos de conselheiros competentes por eles escolhidos.

Frederico de Carvalho diz que o livro “abre uma consideravelmente ampla janela sobre as vicissitudes que o conjunto do sector público da área da Ciência e Tecnologia, experimentou ao longo dos anos e continua a experimentar hoje, num percurso mais trágico que glorioso, por vezes com alguns laivos de comédia, percurso onde sobressai e se afirma o esforço e persistente dedicação de quantos sempre procuraram com maior ou menor sucesso — e foram muitos — ajudar a construir e a salvaguardar um rico património de conhecimentos e de experiência. Quer dizer: servir o país pela acção no terreno, longe dos gabinetes onde ecoam outras vozes que não as suas e outros interesses, só excepcionalmente coincidentes com os seus, e, em meu entender, com as necessidades do país.Na opinião de Frederico de Carvalho, Jaime Oliveira manteve constantemente a postura intelectual e de carácter que se espera de quem põe à frente de qualquer interesse pessoal ou de grupo, os verdadeiros interesses do serviço a que se comprometeu, orientando a sua acção no sentido da defesa da instituição a que pertencia (:)Ao longo da sua carreira de trabalhador científico e de dirigente revelou e amadureceu capacidades pouco comuns de análise crítica e de síntese das situações que viveu (que vários de nós viveram) e que em muitos casos protagonizou. Como surgiram, porque surgiram e como evoluíram até ao presente. Daí este livro, notável pelo rigor, pela exaustiva selecção dos passos e dos factos realmente importantes que marcaram esta instituição e a trouxeram até onde se encontra hoje. Notável também pela sobriedade e isenção da exposição. Notável ainda pelo acerto na escolha das citações que faz e dos depoimentos que trabalhosamente reuniu e a que não escapam os silêncios dos que não quiseram depor por escrito, por isso mesmo também significativos.Recorde-se que este livro tem depoimentos de várias figuras da cultura e da política portuguesa como é o caso de Luís Mira Amaral, Alfredo Nobre da Costa, Álvaro Barreto, José Mariano Gago, José Veiga Simão, Luís Todo-Bom e Pedro Lince, entre outros.Frederico Carvalho, que é da mesma geração de investigadores de Jaime Oliveira, aproveitou para recordar os anos de ouro do Laboratório de Sacavém e acentuar a demagogia dos governantes portugueses ao recordar palavras elogiosas de Mariano Gago que mais tarde foram contrariadas pela sua acção como ministro.“O Laboratório de Sacavém nunca teve uma vida fácil. Ao longo de meio século atravessou “crises” e sofreu “mutações” devidamente assinaladas e contextualizadas neste livro de Jaime Oliveira. Num país em que tantas vezes se afirmam propósitos inconsequentes, o processo de estruturação da Junta de Energia Nuclear (…) aparece como uma singularidade merecedora de especial atenção. Muitos anos depois, alguém com grandes responsabilidades na evolução do sistema de ciência português, José Mariano Gago, disse do Laboratório de Sacavém, que ele fez parte da história portuguesa das últimas décadas, acrescentando que aí “se formou uma plêiade de técnicos e de cientistas, muitos dos quais vieram (…) a notabilizar-se na criação ou no desenvolvimento de outros centros de investigação ou departamentos universitários. Pessoalmente, lamento que Mariano Gago não tenha, oportunamente, adequado a acção ao pensamento e dado ao Laboratório o apoio que merecia, a bem do país”.No final da sua apresentação Frederico Carvalho fez questão de sublinhar que a sua intervenção não era só para elogiar o autor e o valor da Obra e deixou este recado para todos os guardiões do Templo antes e depois da Troika.“Sublinho um aspecto primorosamente iluminado por Jaime Oliveira na obra de que falamos. É esse aspecto, o da persistente ausência de sentido de Estado de membros de uma classe política que ao longo de décadas nunca deram sinais de verdadeiramente saber qual a razão de ser e importância para o progresso económico, social e cultural do país, de uma infra-estrutura como o Laboratório de Sacavém. E assim sendo, não só não foram capazes de promover uma correcta definição de missões (para este e outros laboratórios públicos), como olimpicamente ignoraram advertências e conselhos mesmo quando vindos de conselheiros competentes por eles escolhidos. Oscilaram e voltearam como catavento ao sabor das brisas que sopravam. Estou certo de que não será sempre assim. Recordando o passado, conforto-me pensando que hoje, aqui, e “em cada instante, está presente o passado e o futuro de todas as coisas”.
Governantes olimpicamente ignorantes e como cataventos

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