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Falta de coordenação das redes sociais beneficia os profissionais da “pedincha”

Falta de coordenação das redes sociais beneficia os profissionais da “pedincha”

Provedor da Misericórdia da Golegã preocupado com o que pode acontecer aos mais pobres dos pobres

Martins Lopes critica o responsável pela Segurança Social a nível distrital, Tiago Leite, a quem acusa de não procurar dialogar com as Misericórdias e lamenta que a instituição que dirige nem sequer consiga ter resposta do mesmo em relação a projectos que apresenta.

A Santa Casa da Misericórdia da Golegã dá apoio a 380 pessoas nas suas várias valências. Para o fazer tem ao seu serviço 110 funcionários. É o terceiro maior empregador do concelho. A sustentabilidade está assente numa gestão equilibrada e atenta e numa equipa coesa de profissionais liderada há vinte e quatro anos pelo Provedor Lopes Martins. A crise que afectou tudo e todos, fez abrandar alguns projectos e provocou o aumento de dívidas dos utentes, mas não fez mossa na actividade solidária da instituição.“Recentemente contabilizei quase 90 mil euros de débitos. Quer de utentes institucionalizados ou a beneficiar do apoio noutras valências, quer de pessoas que deixaram de pagar rendas. Isso está-nos a preocupar grandemente”, explica Martins Lopes.Os débitos nem sequer são das pessoas mais carenciadas. Muitas vezes são de famílias onde entra mais que um rendimento e que até consomem o dinheiro que não é delas. “Eu dou-lhe um exemplo. Têm a seu cargo a gestão da pensão de um familiar idoso institucionalizado e para além de não pagarem o serviço à Misericórdia, ainda usam o restante em proveito próprio”, conta o Provedor. “O idoso, na maior parte dos casos, nem sabe o que se está a passar”, acrescenta. Os fornecedores estão a ser pagos a trinta dias. E até tem sido possível pagar mais cedo a um ou outro que esteja a passar por alguma dificuldade. Os trabalhadores também recebem a tempo e horas, refere Martins Lopes. “Felizmente temos as contas controladas. A Misericórdia da Golegã paga há longos anos aos seus funcionários, sempre no dia 27. E não devemos nada. Nem subsídios de férias ou de Natal. Muitas vezes conseguimos até ajudar trabalhadores com mais dificuldades que nos contactam, pagando-lhes os subsídios de férias e de Natal antecipadamente”. As valências da Santa Casa do Misericórdia da Golegã são o Lar de Idosos Rodrigo da Cunha Franco, o CATEI (Centro de Acolhimento Temporário de Emergência para Idosos), o Centro de Dia, o Apoio domiciliário, o Centro de Férias Sénior e as Residências de Nossa Senhora das Misericórdias. Depois tem outras valências que funcionam no Clube Vida, por onde, semanalmente, passam cerca de 160 pessoas que têm diversas actividades socioculturais, nomeadamente um grupo de teatro, um grupo coral e um grupo de bandolins. “Temos cerca de 40 voluntários, principalmente pessoas que se aposentaram mais cedo e que desenvolvem trabalhos no Clube Vida que funciona na Casa Vaz, que é um espaço aberto à comunidade”, explica Martins Lopes.“Nós existimos para ajudar os mais pobres dos pobres”As Residências de Nossa Senhora das Misericórdias, inauguradas em 2001, foram uma das apostas do Provedor. O aldeamento é actualmente composto por 24. O objectivo era a obtenção de receitas que permitissem dar sustentabilidade a todas as valências. “Ou as Misericórdias conseguem ter sustentabilidade ou correm o risco de não conseguir ajudar os mais pobres dos pobres. O que verificamos é que o envelhecimento aumenta e o Governo não vai conseguir aguentar. Nós temos que nos preparar para assumir uma parte destas situações. Temos que arranjar factores de sustentabilidade. O investimento nas residências foi duro mas o retorno começa a chegar e irá manter-se. Algumas residências iniciais voltaram a ser vendidas. Algumas novas ainda esperam compradores. Temos várias modalidades para os interessados. Os residentes beneficiam de todo o apoio que não podem ter em suas casas. Temos pessoas de fora do concelho. De Lisboa, por exemplo. A maioria das pessoas tem autonomia. Vamos ter agora a inauguração da horta biológica. É um complexo muito bonito junto às residências com um talhão para cada uma. Fomos premiados duas vezes pela Missão Sorriso da qual é presidente a dona Maria Cavaco Silva. Fica muito bonito. É junto às residências. Cada residente fica com um talhão para cuidar. Vai ser a 24 de Maio e haverá uma missa campal por alma dos antigos residentes. Já faleceram mais de vinte. Foram inauguradas em 2001", refere. Martins Lopes aproveita para esclarecer os menos esclarecidos que possam imaginar que projectos lucrativos se destinam a enriquecer as Misericórdias. “Nós trabalhamos para ajudar os mais pobres dos pobres. É para isso é que existe a Misericórdia. Eu tenho aqui uma série de pessoas que não pagam comparticipações porque não têm como. Não conhecemos uma única pessoa no concelho que precise da Misericórdia e que não tenha apoio dela. Logo que são sinalizados pela rede, nós damos a cobertura. A Segurança Social paga a sua parte e nós suportamos o resto no caso das pessoas que não têm dinheiro para pagar a sua parte. Das 112 pessoas internadas, só 8 ou 9 têm rendimentos acima dos 500 euros”, refere.A crise impediu a Misericórdia da Golegã de avançar, para já, com um outro grande projecto que também irá contribuir para a sustentabilidade da instituição. Trata-se de um edifício moderno composto por 60 quartos, metade dos quais duplos, com zona ampla ajardinada, piscina terapêutica, sala de fisioterapia, gabinete médico, biblioteca e espaço de entretenimento. O objectivo é oferecer o máximo conforto e a melhor assistência a quem tem pensões acima da média. “Quando estiver concluído e começar a ter retorno, daqui a vinte ou trinta anos, quem tiver nesta instituição tem mais uma fonte de rendimento para ajudar quem nada tem. É mais um projecto de sustentabilidade”, explica. Pensar no futuro é obrigatório porque as despesas são cada vez maiores. “Quando vim para a Misericórdia, há 24 anos, éramos obrigados a ter um funcionário para cada cinco utentes. Era raro termos um utente dependente. Agora é raro termos um que não seja dependente. Temos quase um funcionário por cada duas pessoas. E quem paga a contratação de mais recursos para termos um patamar de excelência de serviço prestado somos nós. E desde 2007 o Governo inviabilizou que o Centro de Saúde fizesse domicílios ao nível da enfermagem nas Misericórdias. Tivemos que contratar enfermeiros e suportar as despesas com a compra do material. Há Misericórdias que não estão a fazer um trabalho como deve ser porque não têm capacidade para contratar mais funcionários”, lamenta Martins Lopes."O senhor director tinha o dever de se interessar muito mais pelas Misericórdias"O Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Golegã lamenta que as redes sociais funcionem de forma deficiente, não rentabilizando os recursos existentes e permitindo que algumas pessoas “mais espertas” consigam aproveitar a situação beneficiando de ajudas em duplicado em detrimento de outras, muitas vezes mais carenciadas. “O Plano de Desenvolvimento de Diagnóstico Social que está, até, a ser actualizado, é um documento teoricamente benéfico mas que só serve para inglês ver porque não é aplicado. Cada um tem o seu ‘quintalinho’ e depois há pessoas que por saberem que é assim, vão bater às portas todas. Isso já devia ter acabado há muito mas continua”.O trabalho do Ministro da Solidariedade, Mota Soares, é elogiado. Já o do Director do Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social de Santarém, Tiago Leite, é fortemente criticado pelo Provedor. “O senhor director tinha a obrigação e o dever de se interessar muito mais pelas Misericórdias do Distrito. De dialogar com elas. O Distrito continua a não ter um diagnóstico nem um plano de Desenvolvimento Integrado. O senhor quer fazer um equipamento, faz o projecto, a câmara autoriza e a Segurança Social dá-lhe o alvará se tiver condições para funcionar. Toda a gente faz o que quer e onde quer mas então onde estão as respostas integradas para o futuro?”. E acrescenta. "Lamento que a Misericórdia tendo quase nada de candidaturas aprovadas, continue a ter candidaturas reprovadas. Foi um elevador para o Clube Vida que foi secundarizado no Inalentejo com a conivência dele. Três candidaturas ao abrigo do Socorro Social para pequenas obras de recuperação. Nem resposta ele deu. Tive um projecto candidatado ao Pares. Não havia mais necessidade de outro centro de dia que não na Golegã e nada. Teve que ser um investimento todo nosso”.
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