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Camarigueiro Serafim das Neves

Eu não sei muito bem o que tem a dança zumba a ver com o 25 de Abril mas o que é certo é que não há programa de comemorações do 25 de Abril que não meta uma aula de zumba. Uma aula de zumba e uma corrida ou qualquer outra prova desportiva. Se calhar tanto exercício é para lembrar as caminhadas que o povo fez atrás dos tanques da Escola Prática de Cavalaria pelas ruas da cidade de Lisboa, até ao quartel do Carmo.Eu lembro-me vagamente de uma cançoneta de uma tal Tonicha, cujo refrão era qualquer coisa como: “Ora zumba na caneca/ Ora na caneca zumba/ O diabo da caneca/ Toda a noite catrapumba”. Como se deu a passagem da caneca para aquela dança tipo ginástica é que é um mistério. E ainda por cima, não me lembro de assistir a uma zumba de agora ao som da zumba de antigamente. Seja como for, já que o 25 de Abril é o dia da liberdade e da zumba, eu já prometi a mim mesmo que vou zumbar à força toda.Ainda não consegui ver todos os programas oficiais do 25 de Abril mas dos que já vi notei que desapareceram as tão famosas alvoradas com morteiros. Não sei se a decisão foi tomada pela protecção civil, por causa do risco de incêndios, ou por um qualquer organismo do ambiente, por causa do ruído mas que é uma perda irreparável para a democracia, lá isso é. Umas comemorações do 25 de Abril sem foguetório são como um jardim sem flores.As sardinhadas e as febralhadas populares ainda resistem mas agora já não são à borla. Cada um tem que pagar a sua. Imposições da Troika. O estado a que isto chegou, como diria o capitão Salgueiro Maia.Este ano o 25 de Abril calha mesmo bem. Calha a uma sexta-feira. Eu gosto mais do 25 de Abril quando calha em dias assim. A uma quinta-feira também não é mau porque sempre se faz ponte mas infelizmente mordomias dessas...perdão...direitos adquiridos desses, só para quem trabalha nas câmaras municipais. Para o povo que está às ordens do patronato capitalista não há nada para ninguém. Nem sequer uma decisão do Tribunal Constitucional a favor da igualdade de todos os cidadãos. Mas a culpa é nossa. Quem nos manda a nós não termos adquirido também uns direitos assim?!Eu ando muito atento a essa coisa dos direitos adquiridos. E luto por eles. Não luto ao murro e ao pontapé que eu não sou de violências mas luto por outros meios. Penso naqueles que se conseguiram reformar aos quarenta e tal anos, sem penalizações, por exemplo, e levanto-me pela fresquinha, cheio de vontade de ir trabalhar para que não falte dinheiro para lhes pagar as reformas. Para que eles nunca percam aquele maravilhoso direito adquirido. Pago os impostos que forem precisos para que não haja atrasos nem cortes. E não é por saber que eu só me posso reformar aos 66 anos ou até mais tarde, se a Troika assim decidir, que esmorece a minha determinação. Eu sou solidário. Eu sou fraterno. Eu sou um verdadeiro homem de Abril.Aqui há tempos perguntaram-me se eu achava que fazia falta outro 25 de Abril. Claro que não, respondi logo, para desgosto do perguntador. Respondi e volto a responder a mesma coisa quantas vezes forem precisas. Só de me lembrar dos milhares de discursos que vão ser lidos por representantes de todos os partidos nas 308 assembleias municipais do país nas sessões solenes do 25 de Abril, mais as aulas de zumba, as corridas do povo, os espectáculos de poesia e música revolucionária com Zecas Afonsos e Arys dos Santos de terceira categoria e os debates entre coronéis revolucionários, dá-me cá uma sensação de enfartamento que nem te conto. Mais um 25 de Abril não, se fazem favor. Aproveitem o que temos, que ainda está dentro do prazo de validade. Afinal estamos em época de poupança ou não estamos?!Saudações democráticasManuel Serra d’Aire

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