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Um profissional do restauro que quer restaurar as contas da câmara

Um profissional do restauro que quer restaurar as contas da câmara

Paulo Queimado é o novo presidente da Câmara da Chamusca um mandato depois de ter sido vereador na oposição

O presidente da Câmara da Chamusca tem como prioridade controlar as contas do município e criar condições para que as pessoas gostem de viver no concelho. Não tem grandes promessas de obras mas diz que não desiste de lutar pela nova ponte e pelo IC3 com acessos ao Eco-Parque do Relvão, uma área criada para a instalação de empresas ligadas ao ambiente. Paulo Queimado considera que o concelho tem o território ideal para a instalação de suiniculturas e confessa que estão na calha mais quatro projectos empresariais para o eco-parque. Nesta entrevista o autarca responde de forma descontraída confessando que antes de se filiar no PS fez primeiro quase que um estudo de mercado para ver qual era o partido onde melhor se encaixava.

Como é que um conservador restaurador se torna político e em pouco tempo chega a presidente de câmara?Sempre fui um bocado apartidário e não tinha uma grande tendência partidária. Mas sempre fui um empreendedor da terra. E essa foi uma das razões que me levou a entrar no mundo da política. O que me fez despertar foi o querer o desenvolvimento da Chamusca e as dificuldades dos empresários no concelho. Queria fazer alguma coisa pela minha terra. Queria ter uma participação mais activa na sociedade e dar a minha opinião. E porquê no PS?Tenho grandes amigos em todos os partidos. Mas quando comecei a estudar mais aprofundadamente as ideologias, os princípios, a minha tendência para além de ser de esquerda foi mais dentro da linha de pensamento do PS. Fiz quase um estudo de mercado. Podia ter-se filiado no PCP.As pessoas têm que ter uma evolução natural e saltei esse passo. Se vivesse noutros tempos, se calhar teria sido militante do PCP. Só me fiz militante do PS no dia a seguir às eleições de 2009 (quando foi eleito vereador da oposição).Achou que era desta que ganhava as eleições. Sabia que era complicado porque os meus adversários já andavam nas lides políticas há muitos anos. Mas tinha a convicção que ia ganhar. Terá sido mais fácil pelo facto de Sérgio Carrinho estar impedido de se recandidatar…Também por essa razão. Mas mesmo com ele a concorrer tinha feito exactamente as mesmas coisas. A concelhia socialista da Chamusca foi das que teve mais problemas para escolher o candidato.Tivemos que ir a eleições directas. Mas também foi por isto que me tornei militante do PS, porque é o partido certo onde as pessoas podem escolher o que querem. Quando há liberdade dentro do partido para fazer escolhas não há forma mais democrática de escolher os candidatos, sem as imposições verticais de cima para baixo. Nas directas não houve quezílias, até porque sou amigo do Joaquim Garrido.É mais desconfortável quando não há um candidato consensual.Os militantes estavam divididos em termos de apoios. Decidimos democraticamente que deviam ser os militantes a escolher.Suceder a Sérgio Carrinho na presidência da câmara é uma grande responsabilidade?Quando fui à tomada de posse da Águas do Ribatejo regressei à Chamusca com o Sérgio Carrinho e parámos para comer. Quando entrámos, o senhor do estabelecimento perguntou-lhe se tinha um motorista novo, que era eu. Ele tratou de dizer que eu era o novo presidente. Foram 36 anos e eu próprio continuo a tratá-lo por presidente, nunca conheci outro. Com a sua profissão é a pessoa ideal para restaurar as finanças da câmara?Disse várias vezes que a grande prioridade era fazer o saneamento da autarquia. Daqui por umas semanas vamos conseguir pagar as facturas aos fornecedores na data do vencimento. Antes do PAEL - Programa de Apoio à Economia Local a média de pagamentos era a cerca de 300 dias. Queremos fazer o restauro profundo na forma de gerir esta câmara.Já descobriu como é que uma câmara pequena tinha tantos problemas financeiros?Descobrimos muitas coisas. Não é fácil num território grande haver equilíbrio e uma das questões importantes é a do pessoal. Temos 180 funcionários e perante o tamanho do concelho não teremos os necessários. O que obriga a recorrer a serviços externos. A aquisição de serviços pesa mais. Foi só isso que levou ao descontrolo das contas?Foram feitos grandes investimentos, mas se calhar não foram feitos de forma programada. Também tenho a noção de que se não tivessem sido feitos, hoje já não seriam. A questão que se coloca é a da programação. Tentou-se aproveitar fundos comunitários, apoiou-se instituições, como os bombeiros que são um peso pesado. Está a fazer cortes?Ao nível de apoios até reforçamos alguns. Temos é que fazer uma gestão ao cêntimo. Temos de ter uma gestão de custos rigorosa e controlo de custos directos. A câmara tem de ser gerida como se fosse a nossa casa. Já conseguiu controlar os horários de trabalho dos funcionários?Implementámos o controlo por cartão de ponto. A situação está muito mais controlada. Houve inclusivamente funcionários que tiveram cortes de ordenado por não aparecerem ao trabalho. Outra questão que se colocava muito era as idas dos funcionários ao café. Na primeira semana de funções falei com os donos do café e disseram-me para não proibir as idas aos cafés porque o negócio iria ressentir-se.Havia uma bandalheira?Não considero que fosse uma bandalheira. Estas coisas dependem da consciência de cada um e as pessoas vão esticando o elástico até dar. Actualmente as pessoas estão conscientes do seu dever e cumpridoras dos horários e dos seus 15 minutos para irem ao café. Como é que se adaptou à cadeira do poder?Muito bem e a minha cadeira tem quatro pés fundamentais, que são as pessoas da equipa. Têm feito um trabalho excelente e têm-me dado todo o apoio. Sinto-me desde o primeiro momento bastante confortável. O PS deu-lhe algum curso de gestão autárquica?A minha gestão política ainda é muito verde. Estou a tentar fazer a gestão desta câmara um bocadinho à moda empresarial para tentarmos estabilizar financeiramente a câmara e depois fazermos o trabalho político.Escolheu para vereador a tempo inteiro o seu opositor nas eleições, Francisco Matias (CDU), porque ele precisava de emprego?Não! Sempre disse que se devia respeitar a vontade do eleitorado e defendi no mandato passado que o PS devia ter um lugar no executivo. Agora a CDU ficou em segundo lugar e há toda a lógica que Francisco Matias seja vereador a tempo inteiro. Não deve ser fácil gerir o facto de ter um vereador que é parceiro e ao mesmo tempo opositor.Para além das nossas divergências ideológicas e políticas temos uma amizade. Nesta câmara sempre prevaleceu a amizade sobre a opinião política. Justifica-se fazer reuniões de câmara semanais?Sinceramente não se justifica. A nossa proposta inicial era que as reuniões fossem quinzenais. A maior parte das semanas há meia dúzia de documentos que vão à sessão. Até porque fazemos algumas reuniões de trabalho e as coisas quando chegam à reunião do executivo já vão discutidas. Um jogador de basquetebol e artista plástico que ainda está verde na políticaO presidente da Câmara da Chamusca tem um estilo diferente de gestão mas não será arriscado dizer que segue a linha da boa disposição e simplicidade de Sérgio Carrinho (CDU), o seu antecessor. O socialista Paulo Queimado recebe-nos com simpatia numa sala de reuniões vestido de forma casual e calçando sapatilhas. Fez 39 anos em Março e começou nas lides políticas em 2005, quando integrou as listas do PS à câmara em lugar não elegível. Em 2009 volta a integrar as listas e passa a ocupar o lugar de vereador na oposição. Em 2013 ganha as eleições com maioria relativa. Um percurso curto que o leva a dizer que em termos políticos ainda está muito verde. Paulo Queimado, nascido a 13 de Março de 1975, tem uma empresa de conservação e restauro que esteve envolvida no restauro da igreja matriz da Chamusca. Agora não tem tempo para andar a montar andaimes e de volta das ferramentas, confessando que já tem saudades dessa actividade. O pai continua na arte do restauro e é quem está a gerir a empresa. O sogro também é empresário na vila explorando o conhecido restaurante Poiso do Besouro. Ao nível da comida é uma boa boca e confessa que come tudo menos ananás. Foi jogador de basquetebol da União da Chamusca e chegou a defrontar os actuais presidentes das câmaras de Almeirim e Cartaxo, que jogavam na equipa dos Bombeiros Voluntários de Almeirim. Há algum tempo que o principal exercício que faz é assinar papéis, andar em reuniões e gerir. É um amante da fotografia e é ele que tira muitas das fotos que aparecem no boletim municipal. Tem como passatempo a pintura, sobretudo aguarela, e já fez exposições dos seus trabalhos. Continua a reunir com o ex-presidente porque, diz, não gosta só de saber o que está nos papéis. “Há vida para além dos papéis”. Considera Sérgio Carrinho um excelente contador de histórias e não se cansa de o ouvir. Começou a aprender guitarra portuguesa e diz que não se atrapalha a tocar. No futebol simpatiza com o Benfica mas o desporto que menos gosta é de futebol. Quando se reúne com os amigos para ver jogos é ele que fica a fazer o petisco de costas para a televisão.A primeira medida foi proibir fumar na câmara Lembra-se qual foi a sua primeira medida?Perfeitamente! O primeiro despacho que assinei foi a proibir fumar dentro do edifício (risos)… E sou fumador!Também decidiu criar um boletim municipal. Isso é assim tão importante numa câmara com dificuldades? Havia uma coisa que ia chamar a tara dos “informas”… Havia semanas que saíam dez “informas” (folhas A4) que totalizavam centenas e até milhares de cópias. Fizemos um levantamento dos custos e concluímos que o boletim municipal com uma tiragem de 500 exemplares ficava em cerca de 30 por cento do que custavam os “informas”. O boletim tem informação mais completa, compacta e o objectivo de promover o concelho. Não é um boletim político, para isso temos os nossos próprios mecanismos e meios. Como é que está a sua empresa de conservação e restauro agora que é presidente? Agora está entregue ao pai que sempre foi o companheiro na conservação e restauro. Estamos mais na área de restauro de mobiliário e estamos a trabalhar em rede com outras empresas. O que sente uma pessoa desta área quando passa na rua principal da vila e vê várias casas degradadas?Faz-me muita confusão. Neste momento já temos as áreas de reabilitação urbana delineadas e o diagnóstico concluído. Já estão detectados os problemas a nível de infra-estruturas, como passeios. A nível do património temos um problema grave que é o dos custos de reabilitação. É uma dor de alma ver algum património em mau estado. Temos estado a notificar proprietários de casas degradadas para fazerem intervenções, porque têm benefícios fiscais se os imóveis estiverem dentro das áreas definidas de reabilitação urbana. Na campanha eleitoral defendeu políticas para a juventude como forma de fixar população. Como é que o pretende fazer se não existir mais emprego?O emprego é essencial e não é preciso que seja na terra. Se existir emprego a 40 ou 50 quilómetros as pessoas não se importam de fazer essa distância e voltar ao fim do dia à sua terra. Fixar pessoas também passa pela imagem urbana. Estamos a fazer um projecto para a reabilitação da zona verde do Arripiado. Têm que se criar respostas para que as pessoas se sintam bem na sua terra e dessa forma queiram também investir na localidade, por exemplo criando um negócio. É possível criar mais emprego na Chamusca numa época de crise?Muito mais. Neste momento temos quatro empresas da área do ambiente que apresentaram projectos na câmara e que devem arrancar em breve no Eco-Parque do Relvão. O que é feito da comissão de acompanhamento do Eco-Parque do Relvão?Comunicámos às empresas da zona que tínhamos começado a fazer a monotorização das linhas de água. Este mês vai ser feita a segunda recolha de amostras para análise. Em relação às primeiras análises, posso dizer que estas não apresentam sinais alarmantes de poluição. Queremos este ano ainda apresentar um relatório.A instalação de suiniculturas é uma boa opção para o concelho?Se há alguém que tem território para ter suiniculturas somos nós. Temos estado a conversar com investidores e há bastantes que querem instalar-se no concelho em moldes que defendemos. De produção em circuito fechado, em grandes terrenos onde possam ter produção de milho para alimentação dos animais, com as terras a serem adubadas com os dejectos dos suínos após pré-tratamento. A Chamusca passa a ser conhecida para além dos resíduos também como a capital das suiniculturas.Não nos queremos sobrepor a Leiria, mas se viessem todos para cá nem se notava. Quando chegar, o IC3 já não vai servir as empresasO projecto do IC3 continua a marcar passo.O projecto do IC3 com acessos ao Eco-Parque do Relvão continua a ser uma prioridade nossa mas já tivemos a má notícia do presidente da Estradas de Portugal que até 2028 não vai haver investimento. Há grandes constrangimentos para o desenvolvimento das empresas, que neste momento começam a reconsiderar uma série de investimentos que poderiam fazer. Se for feito em 2028 já não é mau?Se calhar as concessões de muitas empresas do Eco-Parque acabam antes disso. E se calhar vai depois existir uma estrada como existem muitas que vão dar a lado nenhum. Isto compromete o investimento feito ao longo dos anos. As empresas estão a sentir grandes dificuldades ao nível dos transportes sobretudo entre Chamusca e Carregueira. Estamos a importar resíduos para tratamento de vários países da Europa e precisamos de acessibilidades para sul e para norte.Criar condições para os empresários é uma aposta?Temos o processo desbloqueado para a criação da zona industrial da Parreira e temos umas dezenas de milhões de euros de investimento no concelho no ano passado, que nos mete nos rácios dos concelhos com maiores investimentos privados, o que nos orgulha. Mas isso não é o suficiente para as pessoas se fixarem, porque o emprego é importante mas não é tudo. Temos que fazer com que as pessoas se sintam bem e tenham vontade de viver aqui.O que vai ter para apresentar no final deste mandato?Vamos tentar dar um grande apoio às associações e instituições que trabalham na área social. Esta semana já foi adjudicada a obra de conclusão do lar de idosos da Carregueira e está praticamente concluído o do Chouto. Temos algumas infra-estruturas e edifícios municipais que estão a precisar de uma intervenção grande. Estamos a precisar na câmara de uma reforma ao nível do atendimento ao munícipe e modernização administrativa. O que é preciso modernizar a nível administrativo?É quase começar do zero. Vai ser uma grande dificuldade, porque é preciso algum dinheiro. Não diria que ao nível administrativo estamos na idade da pedra mas estamos com grandes carências.O Centro Social da Carregueira andava a reclamar uma verba da câmara de contrapartidas para a construção do lar. Já resolveu o problema?A grande prioridade do centro de apoio social e da câmara é que se acabe a obra o mais depressa possível. Já chegámos a entendimento. Foi um processo que foi sofrendo algumas perturbações. Em relação às verbas que vinham das empresas do Eco-Parque, a câmara pagou um milhão e dez mil euros de obras. A questão não foi gerida da melhor maneira, porque se havia o compromisso de o dinheiro ser canalizado para aquela obra devia ter sido cumprido. Às vezes é preferível não assumir compromissos e perder meia dúzia de votos do que não os cumprir. Qual o motivo para retomar a festa da Ascensão com nove dias?A festa já tinha nove dias mas com uma série de actividades a que chamaram prólogo, nome que detesto. Se a festa é a mesma deve chamar-se apenas Ascensão. Este ano o modelo vai ser muito baratinho, tentando não chegar onde não podemos. Temos para gastar cerca de metade do orçamento do ano passado. Não vão ser contratadas bandas de topo porque não temos dinheiro para lhes pagar. “Quero ter uma palavra na escolha do comandante dos bombeiros”A câmara tem apoiado muito os bombeiros voluntários mas parece que a direcção às vezes está desligada da comunidade. Seja onde for, quando as pessoas estão muito tempo nos organismos começam a ganhar raízes complicadas de modelar. Têm de aparecer pessoas novas para refrescar. O nosso tratamento para com a direcção é na base de confiança e de troca de serviços e continua a ser uma parceira. As transferências rondam 200 mil euros por ano. A câmara é o maior financiador dos bombeiros. Já pediu mudanças ao nível do funcionamento? Temos vindo a falar com muita calma. Sou diplomata nestas coisas e não gosto de agir sobre pressão para os outros, que eu não sofro de pressão. Gosto que as pessoas percebam o que é preciso limar, depois passamos à oficina e começamos a limar e depois vamos experimentar se a peça encaixa bem e finalmente chegamos a consensos. O que é preciso limar nos bombeiros? São pequenas questões de funcionamento. A nível de Protecção Civil temos que limar algumas arestas que ainda não estão a 100 por cento. As pessoas já perceberam e falta pôr em prática.O comandante dos bombeiros está quase a atingir a idade limite para o desempenho das funções. Como é que a câmara está a ver esta situação? O presidente da câmara, enquanto maior financiador dos bombeiros, quer ter uma palavra a dizer na substituição do comandante.
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