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Eleitor Serafim das Neves

As árvores são a maior praga das nossas cidades. As notícias sobre os seus malefícios chegam em catadupa. As raízes de umas estragam as condutas de água e de esgotos e rebentam com os pavimentos e a calçadinha à portuguesa dos passeios. Os ramos de outras tapam-nos as janelas não permitindo que continuemos a ver a vizinha da frente a dançar zumba na sala toda nuazinha. As folhas entopem os algerozes, aquele algodão que se desprende dos exemplares mais peludos faz-nos alergias. O que me admira é a passividade das câmaras municipais. Mesmo aquelas que reconhecem o problema têm medo de pôr as motosserras autárquicas a trabalhar. Encolhem-se diante do primeiro ecologista que abre a boca para defender as maléficas criaturas. As cidades foram feitas para nos protegerem da natureza, por isso é incompreensível que haja quem insista em trazer a natureza para dentro das cidades. Árvores, arbustos, flores, relva...cada vez percebo menos esta gente. Um dia destes estava numa esplanada e caiu-me uma folha de plátano na bica. Chamei o empregado para reclamar e ele começou logo com um discurso dos benefícios da sombra. Argumentei com o facto de os guarda-sóis não terem folhas e ele ficou de boca aberta a olhar para mim.Ontem ouvi dizer que no dia 25 há eleições para o Parlamento Europeu. Também fiquei de boca aberta como o empregado do café. Nem bandeirinhas, nem carros de som, nem ofertas de esferográficas e de porta-chaves. Estão nas encolhas e depois queixam-se da abstenção. Um dia destes estava a ver um referendo em Donetsk na Rússia, acho que é na Rússia, embora a equipa de futebol seja brasileira, e percebi que o que falta aqui em Portugal nas alturas eleitorais, é um pouco daquela animação. Aquilo era tudo ao molho e fé em Deus. Cada um arrebanhava uma mão cheia de votos, preenchia e metia na caixa. Não havia dobradelas nem esconde esconde. Era votar ali mesmo à boca da urna, ombro com ombro. Toda a gente já sabia o resultado, o que é bonito para quem como eu detesta surpresas. Havia bandeiras da nova república no ar e respirava-se um certo ambiente de comício que já não sentia desde o famoso PREC, o Processo Revolucionário em Curso de 1974/75. Gajos de camuflado armados com metralhadoras e com a cara tapada garantiam que ninguém se baldava. Ganhou quem eles queriam, soube depois. É bonito quando o povo é inteligente e sabe o que lhe convém. E até houve tiros para o ar no fim. Tiros e morteirada. Aqui devia ter sido o mesmo quando foi aquela coisa da anexação das freguesias. Não sabemos fazer nada como deve ser, é o que é. Em Almeirim roubaram quatro cães de luxo que foram encontrados mais tarde num acampamento em Coruche. Não sei se os ladrões eram simples campistas ou daquelas pessoas que vivem em barracas nem isso importa. O que importa é verificar que esta onda de criminalidade surge após o anúncio do aumento da TSU (podes ler tezu que é mais à moderna) e do IVA (não leias à inglesa se faz favor porque não tem piada chamar aiva a uma coisa destas. Roubar cães para aquelas lutas com apostas eu até compreendo. Agora gamar lulus que só comem comida gourmet e que vão ao coiffeur todas as semanas, só pode ser justificado como uma forma de contestação à política do Governo.A Basílica de Fátima entrou em obras. A notícia está a agitar as minhas tias. Já lhes tentei explicar que tal facto não significa que deixe de haver milagres mas elas não se conformam. Depois de muito meditar percebi que o problema delas também tem a ver com o pessoal das obras. Uma delas defende que os operários comecem o dia com uma ida à missa. Outra quer que eles trabalhem sempre de joelhos. Já não sei o que lhes dizer. Espero que nenhum trolha ouse mandar um piropo a uma qualquer miúda naquele local sagrado. Tenho medo que lhe caia um raio em cima...ou uma tábua de qualquer andaime. Saudações cristãsManuel Serra d’Aire

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