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Paco Velasquez regressa a Riachos para mostrar o que vale na arena

Paco Velasquez regressa a Riachos para mostrar o que vale na arena

Aos 17 anos, Francisco Pescador de Matos decidiu deixar a família, a escola e a sua terra, Riachos, em busca de um sonho: ser matador de toiros. Andou por Espanha e México onde aprendeu a arte. Sofreu muito, mudou de vida e até de nome. Agora, aos 23 anos, é conhecido como Paco Velasquez. No sábado, 26 de Julho, regressa à vila natal para se estrear na arena em Portugal como toureiro profissional.

É difícil para Francisco Pescador de Matos - nome do cidadão de 23 anos que dá corpo ao matador de toiros Paco Velasquez - lembrar-se de como começou a paixão pela tauromaquia. A família nunca foi muito aficionada, apesar do pai gostar de ver corridas de toiros. O interesse começou pelos cavalos e daí passou para a festa brava. “Depois estudei na Golegã e a frequentar a casa de amigos envolvidos na arte e apaixonei-me”, conta a O MIRANTE.Em 2004, com apenas 13 anos, a sua vida mudou para sempre: “Participei num concurso em Lisboa quando reinauguraram o Campo Pequeno e entre 53 participantes fui um dos 6 finalistas. E não estava ligado a nenhuma escola de toureio”. A partir desse momento, tudo aconteceu muito rápido: “Houve vários aficionados que confiaram nas minhas capacidades e o senhor Pedro Faria, de Arruda dos Vinhos, levou-me a Espanha onde conheci o Espartaco [toureiro espanhol]. Foi ele que me ensinou a arte”, revela com gratidão. Foi para Sevilha com apenas 17 anos ficando a viver em casa do mestre espanhol. “Ao início fui só treinar mas depois de lá estar um tempo ele disse-me que tinha que fazer a vida do toiro: «O toiro não vai à escola, tu também não podes»”. E isso foi ponto assente para Francisco. “Esta vida exige muito esforço, sofri muito”, sentencia.O toureio a pé surgiu casualmente. “Acho que já tinha essa paixão e em Espanha despertei-a”. Com 20 anos decidiu que só voltaria a actuar em Portugal quando estivesse preparado para cumprir o seu sonho. É nessa altura que conhece Alejandro Amoya que, revela, “foi muito importante para mim”. Sem rodeios, afirma que não obstante as dificuldades para sobreviver na área, “sempre tive pessoas que me ajudaram muito”. Amoya levou-o para o México, onde viveu os últimos três anos. Lá aprendeu a ser matador, desenvolveu a técnica e aperfeiçoou o trabalho para agora voltar a Portugal no máximo do seu esplendor. “Sou dos poucos novilheiros que tourearam em França, Espanha, Portugal e México nas principais praças. Inclusive em Barcelona, em que já não se fazem corridas”, conta com um brilho nos olhos. “No México foi onde debutei com os cavalos de picar e é a terra mais importante para mim como toureiro, porque me abriu as portas que se fecharam na Península Ibérica”, sublinha. Quando chegou a oportunidade de alternativa, Francisco foi atracção nalgumas das mais importantes praças mexicanas.E foi no México que se estreou, no passado dia 28 de Março, como matador de toiros. “Estava com alguns nervos, até porque significava uma subida de escalão de novilho para toiro. Havia um grande peso em cima de mim e a praça estava cheia”, assume. “Felizmente tudo correu bem: o meu primeiro toiro partiu um corno tive que o matar logo, o outro foi mais complicado mas correu bem e fui bastante aplaudido”.Em Portugal, confessa, é quase impossível viver da tauromaquia. “Hoje em dia viver disto é complicado. Eu chamo-me matador de toiros e não posso exercer a profissão na minha terra. Infelizmente tive que ir para o estrangeiro. Tive que sair, seria impossível fazê-lo aqui”, afirma. “O animal de que mais gosto é o toiro”Gostava de reactivar o gosto pelo toureio a pé em Portugal e sente-se já uma figura de destaque nessa área. “As pessoas têm ilusão em relação a mim também pelo que já fiz e eu quero isso, quero que as praças encham e que o público sinta vontade de voltar. Sou o último matador de toiros em Portugal”, afirma. Em relação à proibição de matar o toiro em Portugal, o jovem riachense explica: “O que vou fazer é simular a morte do toiro. Quando chega a hora de matar simula-se com uma bandarilha e o toiro é recolhido”. A proibição da morte do toiro na arena é algo que não entende: “Eu noto que quando actuava aqui as pessoas gritavam “mata, mata” porque gostam de ver. Na raia de Espanha há muitos portugueses que vão ver e preferem ir lá porque têm a sorte de ver matar”, conta.“Matar o toiro é o culminar de uma obra de arte para o toureiro. As pessoas questionam mas o animal de que mais gosto é o toiro, é um animal feito para isto”, sentencia antes de reforçar a ideia: “Há animais de cativeiro que vivem em condições piores e são mortos com um tiro na cabeça, enquanto que com o toiro há inclusive o risco de eu o matar a ele ou ele a mim”, sublinha.Em relação aos movimentos anti-tourada, o toureiro realça que respeita a posição dos manifestantes enquanto respeitarem a sua. “Cada um tem o seu ponto de vista e nunca fui ameaçado. Tive alguns momentos no estrangeiro em que vi manifestações muito agressivas e isso cria alguns nervos mas nunca passou disso”, assinala. O ribatejano termina fazendo um apelo: “Gostava que as pessoas viessem ver a minha apresentação e que seja uma manifestação pelo toureio a pé, que mostrem que ainda está vivo em Portugal”.O pai de Paco Velasquez faleceu quando este tinha apenas 14 anos. Uma desilusão que o afectou muito. “Houve uma altura em que era muito difícil para a minha mãe e para o meu irmão criaram condições económicas para eu viver em Espanha”, confessa. Por isso, não tem dúvidas ao apontar os familiares mais próximos como os grandes pilares na sua carreira. O toureiro riachense tem também uma palavra de gratidão para com Pedro Faria - que o levou para Espanha -,Espartaco que lhe “ensinou muita coisa da arte”, e Alejandro Amoya que lhe deu a oportunidade de trabalhar no México.Toureiro estreia-se em Riachos como profissional É no dia 26 de Julho, pelas 17h30, que Paco Velasquez se estreia em Portugal como matador de toiros profissional, numa praça desmontável em Riachos. A acompanhá-lo estará um cartaz de luxo que conta com os cavaleiros António Ribeiro Telles e Duarte Pinto e o Grupo de Forcados Amadores de Riachos. Um cartaz que, revela o jovem, “cria ainda mais pressão” até porque “já não sou o rapaz novo a quem desculpariam tudo se algo corresse mal. As pessoas agora esperam tudo de mim”.Na apresentação da corrida, Paco Velasquez desafiou a Câmara de Torres Novas e a Junta de Freguesia de Riachos a construírem “uma pequena praça de toiros” na vila e responderam-lhe com... um sorriso. “Riachos tem a sua feira e andar sempre a montar uma praça tem um custo elevado. Somos uma terra de aficionados, como a Golegã ou a Chamusca” motivos pelos quais Paco Velasquez sente que a sua vila deveria ter uma praça. E com o seu nome? “Sou alheio a essas coisas: sonho mais com a praça dos Riachos do que ela tenha o meu nome”, revela. Mas “se tivesse o meu nome ficaria encantado, claro”.Um rapaz envergonhado que gosta de manifestações de carinhoPorquê o nome artístico de Paco Velasquez? Paco Velasquez surgiu porque quando comecei a ser toureiro o meu nome não servia muito para Espanha e foi lá que desenvolvi a minha carreira. Paco é o diminutivo de Francisco em espanhol e Velasquez surge do toureiro português Nuno Velasquez. Eu nem o conhecia pessoalmente, admirava-o porque é um toureiro clássico, mas as pessoas diziam que éramos irmãos e então decidi juntar o apelido dele ao Paco”.Como é que aos 17 anos se diz a uma mãe que se quer largar os estudos para ser toureiro? É sempre complicado, nenhuma mãe quer que o seu filho seja toureiro. Ela aceitou com a condição de continuar com os estudos, mas chegou uma altura que tive de optar, tornou-se insustentável. Com o passar do tempo foi aceitando e sente-se orgulhosa. E agora que o sonho se concretizou já aceita bem. As épocas mais difíceis foram no México, por ser muito longe. Estive ano e meio sem voltar, inclusive no Natal. Comecei a sentir falta das pessoas e até medo que alguma coisa acontecesse e eu estivesse longe. Actualmente vive entre Sevilha e Évora. Qual é relação que mantém com Riachos? Riachos é onde tenho a minha vida e estabeleço uma relação diária. A minha família está toda aqui e eu passo cá os fins de semana. Apesar de viver fora, a minha vida pessoal é cá pois em Sevilha e Évora só vivo para a profissão.A população de Riachos costuma abordá-lo na rua e transmitir-lhe palavras de incentivo? Em 2008, também a 26 de Julho, actuei aqui e as coisas correram bastante bem. A partir daí as pessoas ficaram contentes e demonstram sempre muito carinho por mim. Sinto algum incómodo quando sou abordado na rua porque sou muito envergonhado. E na verdade sou só mais uma pessoa da terra. Mas é sempre bom receber o carinho das pessoas.Qual o motivo para se estrear como matador de toiros em Portugal na sua terra natal? Fazer a estreia aqui foi uma opção minha, até porque já tenho contratos para outros sítios, mas sempre sonhei estrear-me nos Riachos. Vai ser um dia de grande compromisso para mim. Sinto que cresço com as dificuldades e aqui vão exigir-me o dobro do que iriam exigir noutro lado.
Paco Velasquez regressa a Riachos para mostrar o que vale na arena

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