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Quando disse que ia abrir uma agência funerária julgavam que estava a brincar

Mafalda de Sá tem o negócio há 13 anos mas ainda não se habituou totalmente à actividade

Incentivada pelo marido decidiu abrir a Agência Funerária Pacheco, no Entroncamento, há treze anos, quando ficou desempregada. Sensibilidade e bom senso são atributos indispensáveis a quem trabalha nesse ramo.

Em criança nunca teve uma profissão de sonho mas estava longe de imaginar que, no futuro, iria ser agente funerária. Mafalda de Sá, 38 anos, é natural do Porto mas mora no Entroncamento desde os oito anos, quando foi viver para casa dos seus avós. Sempre teve mais aptidão para números que letras, confessa, e aos 16 anos, já ajudava no quiosque da família, a vender revistas e jornais. Uma formação em burótica (secretariado administrativo) traçou-lhe o percurso profissional. “O trabalho que me apareceu naquela altura foi o de administrativa numa agência funerária”, recorda, acrescentando que aprendeu a tratar de todos os procedimentos administrativos quando alguém falecia. Ali se manteve, durante quatro anos, até o fantasma do desemprego acenar, justamente quando o filho mais velho tinha apenas um ano. Com experiência no ramo, a criação do próprio emprego foi a solução encontrada pelo casal que revelou ter bastante sentido prático. Incentivada pelo marido Carlos de Sá, com quem está casada desde 1999, verificou que no Entroncamento existia mercado para se abrir outra agência funerária. Foi a 9 de Abril de 2001. Decidiu colocar o nome de “Pacheco” por ser um dos seus apelidos por via paterna. “Achamos que era um nome que ficava no ouvido das pessoas. “Agência Sá não resultava (risos)”, refere. Com apenas 24 anos a empresária tinha consciência que ao abrir uma agência funerária teria que tocar em todas as vertentes do negócio, embora o trabalho mais físico, por norma, fique a cargo do marido. “Ninguém estava à espera que abríssemos uma agência funerária e alguns familiares pensavam que estávamos a brincar”, recorda. “O hábito faz o monge” e este é um trabalho que tem que ser feito, embora Mafalda ache que nunca se vai habituar. “Espero que, quando for velhinha, já veja as coisas mais friamente”, refere. Para Mafalda cada funeral é único porque as pessoas também são únicas. A maneira de se lidar com a morte varia de pessoa para pessoa. A agente funerária não esquece que um dos serviços que mais lhe custou fazer foi o funeral de um bebé. “Não o conhecia mas tinha tido a minha filha mais nova há pouco tempo e, no dia seguinte, não conseguia estar na agência. Sentia-me muito mal disposta”, recorda. E, no entanto, já tinha feito centenas de funerais. O maior desafio para a agente funerária passa por saber lidar com as famílias na hora do luto, usando sempre uma grande dose de sensibilidade e bom-senso. “Não tenho muitas palavras de conforto para dizer. Quando tenho que animar alguém prefiro um gesto. Um abraço, um aconchego”, refere. No início, a circunstância de ser uma pessoa bastante jovem à frente de uma agência funerária aliada ao facto de, normalmente, as funerárias passarem de pais para filhos, valeu-lhe algumas situações caricatas. “Fui tratar de um funeral a casa de uma pessoa e disseram “não feches a porta porque ainda vem o paizinho da senhora atrás”, recorda. Actualmente, como já é conhecida de todos, estas peripécias já não acontecem com frequência. A maior recompensa que tem com o seu trabalho, refere, é a gratidão das pessoas que os contratam e que os felicitam pela ajuda que deram em organizar uma cerimónia digna da memória da pessoa falecida. “É um trabalho difícil mas conhece-se gente muito interessante nesta área. Falamos com pessoas numa altura em que estão a sofrer e acabamos por conhecer o seu lado melhor”, atesta. Sem possibilidades de tirar férias muitos dias seguidos, porque a agência não pode fechar portas, o casal dá mais valor aos pequenos momentos que passa em família. Os filhos, de 14 e 9 anos, já estão habituados a que o carro faça marcha-atrás quando vão a caminho da praia porque este trabalho não tem dia nem hora marcada. O lema de vida de Mafalda de Sá passa por pensar que o dia de amanhã é sempre melhor que o de hoje. “Quando, como eu, se lida diariamente com pessoas em sofrimento aprende-se que por muito mal que nós estejamos há sempre alguém pior que nós”, resume.

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