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Melões

Numa caixa de supermercado um conhecedor ancião disse-me que os melões, e a restante fruta, este ano têm falta de sol e por isso não estão bons. Entretanto, enquanto o verão por cá anda envergonhado, nos países nórdicos os termómetros chegam aos 35° C, e no oeste dos Estados Unidos 40 milhões de americanos sofrem a maior seca de que há memória e a situação é catastrófica.Parece excessivo escrever outra vez sobre o clima mas o certo é que por cá não é dada a importância que o tema merece. Calcula-se que as perdas ao nível da Europa possam ascender aos 190 mil milhões de Euros anuais. Saúde, agricultura, litoral, incêndios, transportes, turismo, seca, inundações, energia são alguns dos temas a ter em atenção. Só ao nível da saúde o número de mortes prematuras que se perspetivam leva a mais de metade das perdas anunciadas; na agricultura as áreas de cultivo afetadas podem chegar a 700 000 km², cerca de duas vezes o tamanho da Alemanha. Juntar saúde e alimentos talvez seja suficiente para começar a ter consciência da gravidade da situação.Ora acontece que tudo isto não é daqui a muitos, muitos anos, nem numa qualquer terra longínqua; é agora e aqui. E o que fazemos? O que podemos fazer? O tempo para agir não é muito. Ao nível da decisão superior há sinais que o assunto começa a ocupar o lugar que merece. Como se compreende, a importância das alterações climáticas deve ser assumida aos vários níveis da tomada de decisão. Sem dúvida que é ao nível local, autárquico, que a tomada de decisão é mais importante, desde logo em matéria de ordenamento do território. Nos processos de revisão do PDM há muitas medidas que devem ser tomadas, por exemplo, proteção das reservas de água para situações extremas, designadamente seca, e ordenar o território para eventos de cheias, para ondas de calor, para uma utilização eficiente dos recursos e infraestruturas do território. No geral a avaliação de riscos naturais, obviamente potenciados pelas alterações climáticas, deve ser a prioridade dos governos locais. É mais que certo que os episódios vão ser mais frequentes e agressivos, e que os danos vão ser grandes. Só a prevenção e as medidas de mitigação ajustadas a cada situação identificada poderão atenuar os gravosos efeitos que se podem adivinhar. E neste tema as previsões não existem. O risco associado aos fenómenos naturais está presente em todos os lugares, ninguém tenha ilusão do contrário. A única certeza é que já aconteceu e vão voltar a acontecer; em todos os locais, regiões e países, pobres e ricos. Por isto tudo o que se fizer antecipadamente é muito mais eficaz e económico. Temos ainda outra certeza: os meios de ação disponíveis (humanos e materiais), em caso de ocorrência e na prevenção, são sempre mais escassos que o necessário. A receita não pode ser mais simples: avaliar e assumir o risco, prevenir, e em caso de ocorrência, ação rápida e eficaz de forma articulada por parte de todos os agentes de proteção civil.Todavia o maior dos riscos é ignorar esta realidade. Senhores responsáveis locais, por favor, ponham a proteção das suas populações, atividades económicas e patrimónios em primeiro lugar, como prioritário.Ordenamento do território, avaliação e mitigação de riscos naturais, formação/sensibilização de todos são as vossas tarefas prioritárias, não esperem que os acontecimentos vos mostrem isto.Carlos A. Cupetocupeto@uevora.pt Professor na Universidade de Évora

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