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“Há espaço para dois politécnicos na região”

“Há espaço para dois politécnicos na região”

Politécnico de Tomar quer agarrar o próximo quadro comunitário para implementar projectos estratégicos no Médio Tejo

Eugénio Pina de Almeida, 48 anos, foi reeleito como presidente do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) com o objectivo de consolidar a instituição enquanto agente estratégico para o desenvolvimento da região e torná-la conhecida a nível internacional. É o seu segundo e último mandato, somando vinte anos ligado a funções de gestão na instituição. Considera que nos últimos quatro anos o IPT ganhou mais notoriedade, fruto de uma reorganização interna que levou a cabo, e afirma que os politécnicos de Tomar e de Santarém se complementam, havendo espaço para os dois na mesma região. Formado em Geofísica, a que se dedicou desde a licenciatura até ao doutoramento, voltará a dar aulas quando cessar funções.

Há quatro anos afirmava que o Politécnico de Tomar tem de continuar a mostrar à região a sua razão de existir. Esta necessidade já foi ultrapassada?Penso que esse objectivo foi alcançado. Tenho a noção que, neste momento, o Politécnico de Tomar é mais conhecido pelas actividades que desenvolve do que era há quatro anos, quando tomei posse. Consolidámos bastante a posição do IPT em relação aos nossos parceiros, quer sejam autarquias, escolas e até as próprias empresas. Há quatro anos tínhamos a sensação clara que parte da região desconhecia as actividades que desenvolvíamos, o que não acontece neste momento. Quais foram os passos-chave que deu para conseguir essa afirmação?Um passo importante passou por reorganizar a instituição internamente, quer do ponto de vista dos serviços quer da afectação do corpo docente a unidades. Isto permitiu-nos definir quais são as competências que o Politécnico tem e colocar os docentes indicados afectos a essas competências. Fruto dessa reorganização interna fomos obrigados a ter que descontinuar algumas ofertas formativas que tínhamos pois estávamos a dispersar a nossa capacidade de trabalho em formações sem procura. Sentimos que era necessário concentrar as nossas competências naquilo que julgamos que somos realmente muito bons. Deste modo conseguimos começar a “vender” os produtos da instituição junto da comunidade mas só os que são realmente importantes, ou seja, o que é estratégico para o seu desenvolvimento.Como foram cimentadas as parcerias com os agentes da região?Em todo o processo, quer no reorganizativo, quer na definição das competências estratégicas, que são aquelas com que vamos partir para os próximos quatro anos, houve sempre a preocupação (e foi um trabalho desenvolvido em parceria com a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo e com todas as autarquias da região) de sabermos se estávamos a apostar nas competências certas e se a nossa estratégia estava a ir ao encontro daquilo que seria a estratégia das autarquias do Médio Tejo. Tínhamos a consciência que era importante preparar a instituição para chegarmos a 2014 com ela arrumada para podermos “atacar” com os projectos para submeter ao próximo quadro comunitário. Isto dá-nos outra segurança porque a nossa estratégia está alinhada com a estratégia da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo que, por sua vez, está alinhada com a estratégia da região centro.Assim sendo, o que se segue?Está na altura de consolidarmos a relação estabelecida com os vários parceiros, de dar a conhecer aquilo que fazemos ou somos capazes de fazer, no fundo, as nossas competências para as colocarmos ao serviço de toda esta região, especialmente agora que se aproxima o Quadro Comunitário 2014-2020, em que é fundamental que exista uma boa relação com as instituições de ensino superior e os outros parceiros, quer sejam autarquias ou empresas. Esta poderá também ser uma estratégia para combater a falta de alunos?O problema é que há uma concentração de vagas no litoral que faz com que os alunos se candidatem a Lisboa, Porto ou Coimbra. E depois entramos num ciclo porque se temos poucos alunos o ministério obriga-nos a reduzir as vagas. Este ano, pela primeira vez, a Secretaria de Estado reconheceu que existe um problema grave em relação às instituições que estão no interior do país e procurou criar mecanismos para tentar travar esse processo. Já ando a falar nisto há quatro anos mas como estava sozinho ninguém ligava. Agora, como são sete instituições a falar, já é considerado um problema grave. Mas não lhe tira o sono sentir que existem cada vez menos alunos a entrar no IPT?Temos a perfeita noção que o IPT não é uma primeira escolha para a grande maioria dos candidatos. No entanto, cerca de 90% dos alunos que entram no Politécnico de Tomar fazem-no como sua primeira opção. Querem vir para Tomar. Se este ano, na primeira e segunda fase, entraram 170 alunos, 85% dos alunos vieram como primeira opção. São poucos, eu sei, mas o que acontece é que, apesar de termos 170 alunos que vieram do contingente geral, tivemos 300 candidatos que vieram através de mudanças de curso, transferências ou reingresso. É um problema, como referi anteriormente, que resulta da regulação do número de vagas.Os cursos técnicos superiores profissionais, criados recentemente, podem ser uma alternativa para virem a ter mais alunos?São uma oportunidade de podermos captar outros públicos. O que já fizemos no ano passado foi criar a Rede de Formação Tecnológica do Médio Tejo que agrupa 33 parceiros entre agrupamentos de escolas e escolas profissionais e Instituto de Emprego e Formação Profissional, entre outros parceiros. Desta forma criamos dinâmicas de formação, desde o 9.º ano até ao 12.º ano e esses alunos sabem que podem prosseguir estudos ao nível do ensino superior e que o podem fazer através dos Técnicos Superiores Profissionais e, posteriormente, a nível da licenciatura.“Não sou contra fusões ou consórcios”Continua a achar, como disse há quatro anos, que há espaço para dois politécnicos no distrito?Sim. Acho que a prova que há espaço para dois politécnicos no distrito é que passados quatro anos continuam a existir os dois politécnicos no distrito (risos). É necessário clarificar que existe uma boa relação entre o Politécnico de Tomar e o Politécnico de Santarém. Ao contrário do que muita gente pensa não há uma guerrilha entre os dois politécnicos. Nem ao nível dos docentes, nem ao nível da presidência. Ao longo destes quatro anos conseguimos clarificar a área de actuação das duas instituições. O Politécnico de Santarém tem as suas áreas definidas, ao nível do Desporto, Educação, Agrária e Saúde e nós temos procurado orientar-nos para as nossas competências, as Tecnologias, as Artes, a Comunicação e Design.O processo de fusão entre os dois institutos nunca foi falado entre ambos?Nunca se colocou por uma razão: nunca ninguém me conseguiu explicar qual era a vantagem dessa fusão. Ninguém é contra a fusão. Eu, pessoalmente, não sou contra fusões ou consórcios mas quero perceber quais são as vantagens para poder explicar às pessoas com quem trabalho isso mesmo. Ao longo deste ano muito se tem falado de fusões mas, ultimamente, quem deixou cair essa ideia dos consórcios foi o próprio secretário de Estado quando disse que não queria fusões.Como é que está o processo de transferência das instalações da ESTA (Escola Superior de Tecnologia de Abrantes) para o Tecnopólo?O projecto está aprovado e já foi visto mas, segundo a presidente da Câmara de Abrantes, aguarda o visto do Tribunal de Contas para se poder dar início. Espero que neste novo ciclo de fundos comunitários consigamos concretizar este projecto que já há muito que se arrasta no tempo. Era importante que a escola sentisse que há uma nova oportunidade. Não só para os alunos mas também para que os professores se sentissem mais motivados. Mudar de casa obriga-nos a mudar também a nossa linha de pensamento.Neste momento a ESTA está sem direcção. Porquê e até quando?O anterior director da ESTA reformou-se a partir de 1 de Setembro. Do ponto de vista estatutário os directores são nomeados mas têm que elaborar um plano de acção que tem que ser apresentado publicamente e só depois disso é que é enviada a nomeação para o Diário da República. O director saiu em Setembro mas o meu mandato como presidente do Politécnico de Tomar só termina a 21 de Outubro. Não faria sentido estarmos a pedir a alguém que, por causa de um mês, tivesse que elaborar um plano de acção e o apresentasse publicamente, tomar posse e cessar funções a 21 de Outubro. Decidiu-se que presidência do IPT iria assegurar a direcção da ESTA durante este mês e meio e deleguei no Dr. Miguel Pinto dos Santos a gestão da escola interinamente. Depois de tomar posse irei nomear os novos directores das escolas.Depois de três anos de sufoco vêm aí as oportunidadesQual foi o maior desafio que enfrentou no seu primeiro mandato?O maior desafio foi criar instrumentos de sustentabilidade para a instituição quando, sistematicamente, estão a descapitalizar a instituição. Não tínhamos argumentos para contrariar essa situação porque diziam que a situação era generalizada. Em 2011 tínhamos um orçamento à volta dos 11 milhões e, neste momento, dispomos de 8 milhões. Em três anos perdemos três milhões de euros e eu tenho que manter a mesma instituição, com as mesmas pessoas a funcionar. Isso significa que é necessária alguma imaginação e muita criatividade para conseguirmos equilibrar-nos e motivar as pessoas a continuar. Esse é e vai continuar a ser o desafio.Mesmo com este constrangimento, com que estado de espírito parte para mais quatro anos?Recandidatei-me porque sinto que ainda há coisas que gostava de fazer. Entendi que, apesar de tudo, o próximo ciclo que aí vem abre-nos um conjunto de oportunidades para as quais me sinto motivado. Se até aqui passei três anos a viver neste sufoco, agora sinto que há um conjunto de oportunidades à minha frente que só dependem de mim e da capacidade de trabalho das pessoas desta instituição. Se nós conseguirmos fazer as coisas bem feitas conseguimos ir buscar outras formas de financiamento.Já existem projectos à espera do tempo certo para serem submetidos a financiamento?Sim. Para além de estarmos a trabalhar directamente, e de forma muito séria, com a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, há um conjunto de projectos que fomos preparando, em várias áreas, para submeter ao próximo quadro comunitário, nomeadamente no âmbito da Educação e Formação. No âmbito dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais refizemos a proposta de um mini-curso para arrancar neste ano lectivo mas estão, neste momento, a ser preparados cerca de 15 cursos Técnicos Superiores Profissionais. Ao nível da investigação e da transferência de conhecimento para as empresas também temos projectos.Em concreto quais são esses projectos direccionados para as empresas?Por exemplo, vimos aprovado em Dezembro um projecto, na CCDR, para o reforço dos equipamentos do IPT que vai dar origem à criação de três laboratórios de investigação. Um deles vai apoiar pessoas com mobilidade reduzida. Vamos também reforçar a área dos riscos naturais, dado que estamos numa zona que tem incêndios no Verão e cheias no Inverno, pondo a nossa capacidade científica ao serviço das autarquias, bombeiros e protecção civil. E também vamos apostar no turismo cultural, conservação e restauro do património e na produção de conteúdos digitais. Para além disso, ao nível do empreendedorismo, continuamos com a nossa parceria com a Nersant ao nível da qualificação e requalificação de activos.A parceria estabelecida com a IBM Portugal já deu frutos concretos?Para além da notoriedade que nos trouxe, pelo facto de estarmos associados à IBM, tenho que destacar que a empresa tem vindo a recrutar quase todos os seus colaboradores a partir de jovens licenciados no IPT. A empregabilidade do curso de Engenharia Informática é quase total. Os alunos deste curso estão a ser formados, logo a partir do segundo ano, com os conhecimentos das tecnologias da IBM.Quantos licenciados do IPT já foram recrutados pela IBM?Neste momento trabalham na IBM 140 trabalhadores e cerca de 60% são diplomados do IPT e não só do curso de Engenharia Informática. Também contratam diplomados do curso de Gestão. Ainda agora foram dez alunos fazer um estágio, durante um ano, a Barcelona. Quando regressarem têm um emprego à espera. Ao nível da empregabilidade, a chegada da IBM foi algo muito positivo não só para o Politécnico como também para a região dado que muitos dos colaboradores também vieram residir para Tomar.Como é que são as relações do Politécnico de Tomar com o município?Temos uma excelente relação, não só com Tomar, mas com todas as autarquias do Médio Tejo e não só. Não há nenhum município onde não esteja alguma coisa em que o Politécnico está a trabalhar. Temos Centros de Formação na Golegã, Torres Novas, Sertã e Ferreira do Zêzere. Por exemplo, temos projectos de formação em Ourém; no Sardoal vai arrancar um curso Técnico Profissional Superior; em Mação temos o Instituto “Terra Memória”;em Alcanena estamos a colaborar com o Museu do Curtume; na Barquinha temos o Centro de Estudos de Arte; em Constância temos uma parceria com o Centro de Ciência Viva; e em Tomar temos alunos de Conservação e Restauro que estão a trabalhar no Museu da Levada. Há projectos a decorrer nos 13 municípios.No final deste mandato como é que gostava de deixar o Politécnico de Tomar?Espero conseguir que o Politécnico de Tomar seja conhecido, não só ao nível do Médio Tejo, mas ao nível da internacionalização, uma variável que é muito importante. Conseguir que a imagem do Politécnico de Tomar se consolide de vez e que exista uma relação de projectos efectivos com parceiros na região mas também integre uma rede ao nível do ensino superior, europeia ou internacional.Tem saudades de dar aulas?Estive a fazer contas e, dadas as minhas funções inerentes à gestão, já não dou aulas há 20 anos. No final deste mandato volto a ser professor nesta casa e acho que vai ser um desafio entrar novamente numa sala de aulas (risos). Sinto que vou ficar para sempre ligado ao Instituto Politécnico de Tomar embora dificilmente volte a ocupar um cargo de gestão.Um gestor que dispensa protagonismo e delega as viagens de trabalhoEugénio Pina de Almeida nasceu em Lisboa a 23 de Agosto de 1966 (48 anos) mas viveu boa parte da sua infância em Moçambique. Foi para Tomar com 11 anos para frequentar o Colégio Nun’Álvares como aluno interno. Foi ali que conheceu a esposa. Tem dois filhos. É o segundo mandato que assume como presidente do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), onde entrou como professor assistente em 1996, depois de ter sucedido no cargo, em 2010, a António Pires da Silva. Licenciado e mestre em Ciências Geofísicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, concluiu o doutoramento em Ciências Geofísicas e da Geoinformação na mesma instituição. Na área da gestão teve a sua primeira grande experiência aos 33 anos quando foi para Abrantes ajudar a criar a Escola Superior de Tecnologia (ESTA) nessa cidade em Agosto de 1999. Foi director da ESTA até final de 2005, quando assume a vice-presidência do Politécnico de Tomar.Considera-se um homem mais dedicado à gestão do que à ciência, a que dedicou os primeiros 15 anos da carreira. Diz que não tem tempo para hobbies mas recentemente voltou a andar de bicicleta. Dispensa as viagens de trabalho e, sempre que possível, delega essa tarefa em alguém. “Só faço viagens quando é estritamente necessário”, atesta. Quando deu esta entrevista a O MIRANTE tinha acabado de chegar da Turquia mas, assegura, foi uma das poucas viagens que fez, nos últimos tempos, ao serviço da instituição que representa, acrescentando que quando era vice-presidente viajava muito mais para fora do país.
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